23 de jan. de 2012

A incrível restauração do mais antigo dos 300 SL


Para comemorar os sessenta anos do 300 SL, a Mercedes trouxe de volta à vida o exemplar mais antigo existente, o segundo chassi construído. O carro foi usado apenas para testes e treinos e nunca disputou uma das várias corridas vencidas pelo modelo. Apesar do bom estado geral, a restauração levou nove meses – o mesmo tempo necessário para o projeto e a construção do tipo original. E o resultado surpreende como se fosse algo completamente novo.


O 300 SL surgiu numa época em que a Europa ainda estava em ruínas e a Mercedes, sem muitos recursos. Os engenheiros aproveitaram o seis-em-linha do sedã 300 S “Adenauer”, que era relativamente novo e o mais potente dos modelos, com 115 cv, e o sobrealimentaram com três carburadores Solex duplos, instalados verticalmente para otimizar o fluxo da admissão de ar.
A restauração do segundo exemplar a ser fabricado exigiu a remanufatura completa do motor e mais de 10 horas em testes de bancada. As duas bombas de água do sistema de arrefecimento estavam destruídas e, por serem específicas do modelo, foi preciso fabricar réplicas.

Com a nova carburação o motor desenvolvia 170 cv, um número modesto mesmo para a época. Para contornar o problema os engenheiros priorizaram a aerodinâmica e a leveza do conjunto, desenvolvendo um chassi tubular de apenas 50 kg. Para garantir a rigidez estrutural, as caixas de ar do esportivo ficaram largas e altas, impossibilitando o uso de portas convencionais.
A solução foi criar uma espécie de escotilha em forma de “L” invertido, formada pela janela lateral e por parte do teto, que se abriria para cima.

Os dois primeiros exemplares foram construídos à mão na oficina do engenheiro chefe Rudolf Uhlenhaut, por isso é possível ver as emendas das finas peças de alumínio e magnésio que formam a carroceria. Por ser um processo artesanal, o projeto não tem precisão dimensional e por isso os ajustes e encaixes eram alterados durante a manufatura. Dos nove meses de trabalho de restauração, seis foram dedicados apenas à carroceria. As imperfeições da superfície foram mantidas para preservar esta característica dos carros de corrida da época.

Ao contrário do que muitos pensam, a cor prateada dos carros da Mercedes não era resultado de chapas expostas sem pintura, mas sim de uma matiz própria chamada de “Bronze Prateado”. Ela usava verniz de nitrocelulose (que permanece maleável mesmo depois de seco) e outros componentes proibidos com o tempo por razões ambientais, por isso foi preciso recriar a tonalidade usando materiais modernos, o que resultou na pintura prata fosca vista nas fotos.

Depois de nove meses a base do W194 estava virtualmente pronta no Mercedes-Benz Classic Center. Todos os componentes foram examinados e restaurados ou reconstruídos, caso necessário – como a estrela da grade dianteira, que precisou ser refeita a mão, bem como o logotipo 300 SL original. Já o volante de madeira, o pomo da alavanca de câmbio, os instrumentos e botões estavam em boas condições e foram apenas reajustados.

O eixo dianteiro foi recondicionado e recebeu acabamento niquelado – um método usado na época para detectar fissuras ao longo das corridas. O eixo traseiro, por sua vez, estava em bom estado e mostra que o exemplar número dois nunca foi submetido aos abusos das pistas.

Apesar de ser um carro de corridas, o interior é totalmente revestido como um grã-turismo da época. O tradicional tartan azul dos bancos antigos corredores da Mercedes teve que ser refeito, mas a estrutura de alumínio permaneceu original. A forração do teto e do restante do carro também são originais, apenas foram removidos, limpos e recolocados. Mesmo o painel tem o acabamento padrão dos modelos da época, com instrumentação completa para as pistas, incluindo um cronômetro.

As vitórias do 300 SL em Le Mans, Nürburgring e na Carrera Panamericana recuperaram o prestígio das Flechas de Prata. No total foram construídas apenas dez unidades do W194 para a temporada de 1952 e um protótipo sucessor, chamado de W194/11, que chegou a ser projetado para a temporada de 1953 com aerodinâmica aperfeiçoada pela frente mais baixa, e potência aumentada pela alimentação por injeção mecânica de combustível, mas o projeto não evoluiu.

Ao retirar o 300 SL das pistas ao final da temporada de 1952, a Mercedes passou a competir na Fórmula 1 com novos monopostos e desenvolveu os lendários protótipos SLR para as corridas de turismo. Em 1954 o protótipo W194/11 foi a base do modelo de rua de mesmo nome, de código W198, com as características portas asa-de-gaivota esticadas até a metade da lateral.
Mais potente e produzido em série, ele seria eleito 55 anos mais tarde o “Esportivo do Século” – para entender as diferenças e a evolução entre os dois homônimos, dê uma lida em nosso texto da Garagem dos Sonhos a respeito.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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