1 de out. de 2011

Saab Sonett: o elo perdido da esportividade sueca


Como todo Saab que se preze, o Sonett é estranho. O único esportivo de fato made in Trollhättan – sem banco traseiro e leve como uma pluma – não guarda nenhuma semelhança com a série 92/96, antecessores na linha de produção. Já nasceu órfão.

Vendas baixas não ajudaram, e com exceção de um bando de malucos aficionados, o cupê sueco virou um carro perdido. Mas como todo perdido acaba tesouro depois de um tempo, o Sonett começou a inspirar certo fanatismo, paixão tão ímpar que mesmo aficionados por Saabs das antigas – caras que acreditam que adicionar óleo ao tanque de gasolina é normal – acham eles estranhos.
O primeiro Sonett foi um roadster quase romântico, um dois lugares com menos de 600 kg construído nas horas vagas por alguns suecos muito loucos e suas inspirações aeronáuticas – a Saab nasceu como fabricante aeronáutica, e assim permanece até hoje.

Motor central de dois tempos e três cilindros, 58 cavalos, tração dianteira, corpo de fibra de vidro. O nome não vem de soneto e sim de uma frase sueca traduzida como “que bonitos eles são”. Apenas seis Sonett I foram feitos: uma verdadeira raridade.
O segundo Sonett, conhecido internamente pelo código 97, surgiu em 1966. Em relação ao antecessor, parecia ter uma carroceria de verdade, com cabine fechada e uma barra anti-rolagem atravessando o interior. Seu motor de dois tempos, 841 cm³ e 60 cavalos agora era atrelado a um câmbio de quatro velocidades com alavanca na coluna e embreagem de roda livre.

Apesar dos passageiros se sentarem quase em cima do eixo traseiro, a tração está lá na frente, como em todo Saab do período. Um novo Ford V4 de 1,5 litro apareceu em 1967 (o controle de emissões matou os dois tempos), e um facelift em 1970 trouxe faróis escamoteáveis de acionamento manual.
Manteve o peso abaixo dos 800 quilos e ultrapassava os 160 km/h. Nunca vendeu muita coisa.
Mas Derek Berk não liga. Os Saabs o fazem feliz. Ele dirigia a van de sua banda quando encontrou seu primeiro sueco, um curioso 900 dos anos oitenta. O Sonett apareceu no Craiglist dois anos atrás. “Creio que nunca mandei lavá-lo. Meio que gosto das coisas assim”.

Surpreendentemente, o pequeno cupê de motor V4 de Derek é gostoso de dirigir. Soa como um cortador de grama irritado e não está muito interessado em girar alto, mas o torque nunca falta. O piso vibra, o câmbio finalmente transferido para o chão também, e apesar dos finos pneus 165, a direção fica pesada em alta velocidade.

Os engates parecem os de um 911 das antigas, filtrados por um mecanismo tão sólido quanto um guarda-chuva. E quando você tira o pé do acelerador, a embreagem de roda livre desengata, levando o motor ao ponto morto. É como se uma mão invisível te ajudasse a trocar as marchas.
Todo o pacote parece gloriosamente estrangeiro: o Sonett às vezes parece algo que você construiria se jamais tivesse visto um carro antes. Cotovelos batem em vários lugares, as travas das portas possuem tampinhas, um tanque auxiliar funciona como apoio de braço.

O emblema “Sonett III” no topo do painel reafirma a identidade. A coisa toda soa encantadoramente acidental, como se o bando de suecos bêbados e geniais acordasse na manhã seguinte e descobrisse que criou um esportivozinho de verdade.
Em muitas maneiras, o Sonett é um argumento a favor e contra a relevância moderna da Saab. É peculiaridade sueca a todo vapor, uma prova viva de que aderir a seus  princípios às vezes pode significar encalhe nas revendas, apenas para que décadas depois se torne um agradável e saudoso exemplo de esquisitice eficiente.

Isso é o que mais sentiremos falta caso a Saab termine de vez. Como um case de negócios, ela já não faz muito sentido. Carros modernos seguem padrões, e pisar fora desses padrões muitas vezes significa fazer pouco dinheiro.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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