
No começo da década de 1980, o Corvette saia de sua fase mais sombria. Apesar do C3 ter começado bem em 1968 quando foi apresentado ao público (para vergonha da GM) como um Hot Wheel “Corvette personalizado”, o modelo chegou ao fundo do poço em 1975 quando o modelo básico saia de fábrica com mancos 167 cavalos. Pior, o motor L82 opcional entregava apenas 208 cv. Mais deprimente ainda, com 7,1 segundos de 0 a 100 km/h, o ‘Vette C3 era o carro americano de melhor aceleração em 1976.
Muito pouco mudou até o término da produção em 1982, quando o decepcionante L83 de 203 cavalos era o único motor oferecido. O público não se importou muito, já que 1979 marcou um recorde nas vendas de Corvettes (com 53.807 unidades). Para sorte daqueles que pensam como nós, os engenheiros não abandonaram o modelo. E projetaram seu sucessor com carinho.
1984 teve o lançamento do C4 (a Chevrolet teve tantos problemas de produção em 1983 que simplesmente pulou o ano) e os fãs acordaram. No lugar do desempenho para retas, o pessoal de jaleco resolveu priorizar a esquerda e a direita. Apesar de tudo o que Jeremy Clarkson já disse, a suspensão projetada para o C4 era um avanço para a época. Tinha um peso menor, centro de gravidade mais baixo e desgaste muito melhor que o sistema antigo. Além disso, por cobrir toda a largura do chassi, as molas funcionavam como barras estabilizadoras.

Para substituir a plataforma da terceira geração (C3) a Chevrolet buscou inspiração na Lotus e projetou uma estrutura em aço para a transmissão e o diferencial, então instalava a unidade e o motor diretamente no chassi monocoque de aço e depois montava a carroceria de fibra de vidro na estrutura. Isso reduzia o peso em preciosos 110 quilos em relação ao C3. O C4 pesava 1.460 kg (para comparação, o Z06 atual em fibra de carbono, titânio e magnésio pesa 1.427). O C4 era ainda mais firme que seu antecessor, e sua dirigibilidade era superior a todos os outros Corvettes (e boa parte dos carros em produção na época). Mas o que fazer com aquele motor de 233 cv? Fizeram o que provavelmente não teríamos feito; chamaram a Lotus.
A General Motors comprou a então moribunda Lotus em 1986. Os engenheiros do Corvette abordaram os colegas britânicos com a ideia de construir o carro mais rápido do mundo. E ainda que a Lotus tenha alguma experiência em reduzir o peso de carros e preparar Isuzus, não são muito famosos por ajustar motores. Mas, como já ocorreu em várias outras ocasiões no passado, uma parceria de norte-americanos e britânicos rendeu resultados espetaculares. Pense no Shelby Cobra, no Ford GT40, na Segunda Guerra, etc.
Desta vez o resultado foi impressionante, estupendo e totalmente espetacular: o motor V8 LT5. Todo em alumínio, tinha 32 válvulas (como o Porsche 928) e quatro eixos do comando de válvulas (como no Countach, um DOHC em motor V). Tudo bem que o diâmetro interno das válvulas era o mesmo que no C4 comum, mas as semelhanças ficavam por aí. A diferença do LT5 para os outros motores da GM era tamanha que a empresa teve problemas na hora de escolher uma fábrica para ele, então terceirizaram o serviço para a Mercury Marine em Oklahoma. Uma escolha que provavelmente influenciou na famosa confiabilidade do motor.

E quanto à potência? Que tal 380 cavalos nervosos? Isso pode não parecer muita coisa para nossas cabeças mimadas por 20 anos de avanços automobilísticos, mas lembre-se que o Porsche 911 (964) Turbo de 1989 produzia 365 cv, o 928 apenas 320, o Mustang SVT Cobra tinha 238 e a Ferrari Testarossa, mais pesada, produzia 395 cv (com quatro cilindros a mais). E no modelo de 1993, novos cilindros e cabeçote elevaram a potência do LT5 para 410 cv. Somente o Countach especial do 25⁰ aniversário tinha alguma vantagem significativa de potência sobre o LT5, com seu V12 5.2 de 48 válvulas entregando incríveis 460 cv. Mas o LT5 era um motor muito melhor – e mais importante do que isso, moderno – por uma razão não muito simples; era um transformer.

Para desencorajar os “Pai, posso pegar o Vette?”, a GM instalou uma “chave valet”. Com a opção ativada, metade das válvulas do LT5 fica desativada, assim como metade dos 16 injetores de combustível. Isso permitia que o ZR-1 passeasse pela vizinhança com o som e a fúria proporcional de 250 pocotós – ainda assim cinco cavalos a mais que o C4 comum. Assim que o papai assumia o volante, ele podia virar a chave valet e reativar todas as válvulas e injetores, soltando todo o haras no asfalto. Adoramos isso, de um jeito que não dá para imaginar.
Só agora os carros modernos começam a adotar essa atitude. O M5 pode ir de 400 a 500 cv com o apertar de um botão, e o Veyron precisa de uma chave separada para aproveitar seu modo de velocidade máxima. É possível até mesmo instalar chips que alternam entre modos de desempenho distintos. É claro que gostamos desse tipo de truque, mas a maneira como é usada no LT5 é muito mais interessante. Era um recurso desnecessário em 1990, com a gasolina a preço de banana (lembra?). Mas é isso que o torna ainda melhor. Se você apontar uma arma para minha cabeça posso até admitir que o 4.2 no Audi RS4 é o melhor V8 no mundo. Mas ele consegue desligar metade das válvulas? E por que não?

Com relação ao desempenho, o ZR-1 só pode ser considerado o carro mais rápido do mundo se você acreditar que os Lakers e os Dodgers são “campeões mundiais”. A velocidade máxima era de cerca de 290 km/h, o que é bem rápido quando se considera como eram os freios e pneus no final da década de 1980. Nossos amigos da Automobile disseram que alcançaram os 100 km/h em 4,2 segundos (ainda que a maioria das fontes diga 4,6). O tempo no quarto de milha? 13,4 segundos.
Para se ter uma ideia, a Ferrari Testarossa no começo da década de 1990 chegava aos 100 km/h em 6,2 segundos e faziam o quarto de milha em 14,2. Mais do que isso, enquanto a principal Ferrari da época tinha uma aceleração lateral de 0,87 G, o über-Vette alcançava 0,93 G, e alguns afirmavam que o valor era maior ainda. Melhor ainda eram os recordes de longa duração que um ZR-1 de fábrica alcançou no dia 1⁰ de março de 1990. Três desses recordes são “independente de categoria ou classe” e permanecem até hoje.
5.000 km com uma velocidade média de 282,778 km/h.É um motor e tanto. Para se ter uma noção das coisas, alguns fanáticos (geralmente membros de fóruns sobre o Corvette) afirmam que o LT5 é o motor mais confiável já construído. Além disso, 8.000 km a 280 km/h se traduz em uma viagem hipotética de Porto Alegre a Natal, ida-e-volta, em 28 horas!! Não vamos lembrar que a versão ZR-1 basicamente dobrava o valor do carro. Quem se importa? É uma garagem dos sonhos, afinal de contas. Também não vamos citar o formato quadrado-arredondado das lanternas traseiras. Mas já deixamos claro que qualquer um que discordar do ZR-1 em nossa garagem dos sonhos perdeu parte do lobo frontal. Nossa única dúvida é: qual cor teria o nosso modelo.
8.000 km com uma velocidade média de 279,680 km/h.
24 horas com uma velocidade média de 283.059 km/h em 6.793,453 km.

Fonte:jalopnik
Disponível em:http://www.jalopnik.com.br
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