
De tempos em tempos surge um carro que redefine o mundo automotivo. O Patent-Motorwagen da Benz, Ford Model T, Jeep Willys, Fusca e até o Jeep Cherokee. Depois do lançamento desses veículos, não há mais volta. E isso nem sempre é algo bom. O Jeep Cherokee por exemplo – um bom veículo quando analisado racionalmente – é o antepassado espiritual dos SUVs que entopem as ruas e estradas (asfaltadas, por mais estranho que isso soe) atualmente. O Jaguar E-Type por outro lado, deixou apenas boas influências. Todos os esportivos construídos desde que o E-Type foi apresentado no salão de Genebra de 1961 foram influenciados pelo Jag. Por isso achamos que ele merece um lugar em nossa Garagem dos Sonhos.

Entrem no túnel do tempo e me sigam para o período anterior ao E-Type. Era um lugar desolado, repleto de ferrugem, inércia e, francamente, muitos carros horrorosos. Claro que existiam algumas máquinas velozes e belas (afinal de contas, a Itália já existia) mas raramente as duas características se combinavam como no E-Type.
Veja o Chevrolet Corvette, por exemplo. Por mais belo que fosse, tinha uma transmissão automática de duas velocidades. A Alemanha tinha carros hiper exclusivos como o Mercedes-Benz 300SL (minha fortuna por um par de asas) e belos carrinhos como o Porsche 356 (leeeeeento). A Itália nos presenteou com obras como o Fiat 8V Ghia, mas seu V8 2.0 tinha o tamanho de um small block norte-americano e só metade da potência. Foi o E-Type que juntou tudo em um único carro. Comparado com os outros esportivos da época, o Jag era mais barato, rápido e tinha um visual mais atraente.

O E-Type, ou XKE, era incrivelmente sofisticado para a época. Construído com um chassi monocoque de aço, ele era resistente e ao mesmo tempo leve – algo que os concorrentes não apresentavam. Havia um sub-chassi à frente para o motor e a suspensão independente. A forte seção central recebia o compartimento dos passageiros. A parte traseira era diferente, com o eixo motriz funcionando com o a parte superior dos braços triangulares, o que reduziu o espaço ocupado na traseira do carro. Além disso, o carro era equipado com freios a disco nas quatro rodas.

Apesar de oferecido inicialmente apenas com um arcaico seis cilindros 3.8 (lançado em 1949 e produzido até 1992) capaz de entregar 268 cv, o E-Type era o carro mais rápido do mundo na época de seu lançamento, alcançando os 240 km/h. Dois anos depois, em 1964, recebeu a versão 4.2 do motor do XK150S. Em 1971, a Jaguar lançou a terceira geração do E-Type. A boa noticia é que tinha um parrudo V12 5.3. A má notícia era que se tratava de um modelo 2+2. Enfim, a década inteira não foi boa para os fãs de carros e o E-Type não passou ileso.
Então vamos esquecer as duas últimas gerações e nos concentrar na primeira versão, que é sem sombra de dúvidas um dos mais belos carros já construídos. Robert Cumberford da Automobile o chamou de “Perfeição faliforme”. Por sinal, Cumberford colocou o modelo na capa de seu livro Auto Legends: Classics of Style and Design. Elogio melhor que esse é difícil encontrar.

Desenhado por Malcolm Sayer, o homem responsável pelo incrível D-Type, o E-Type foi um dos primeiros carros projetados com a ajuda de um túnel de vento. Bem, mais ou menos. Claro que as formas iniciais foram trabalhadas no túnel, mas sem confiar demais no ambiente artificial, Sayer colava tiras de lã com 10 cm em diversas partes da carroceria. Então ele e o engenheiro Norman Dewis aceleravam o protótipo até os 210 km/h, porque era a velocidade máxima que o XK150 podia alcançar. Sayer observava então a lã e o carro em movimento e percebia discrepâncias, que variam em cerca de oito por cento. Como lembra Dewis:
Ele fez os testes com a lã no circuito para testar os resultados do túnel. Você podia notar um arrasto maior na pista, motivo pelo qual ele permitiu a diferença de oito por cento. Ele sempre estava certo, não tenho dúvidas. Ele realmente entendia das coisas.Para terminar com outra citação de Cumberford: “O XK-E recebeu o seu visual principalmente devido às exigências aerodinâmicas – e ainda assim é fabuloso.” Curiosidade: o túnel de vento consumia tanta energia que só podia ser usado à noite, caso contrário causava blecautes. Então Sayer, Dewis e o resto da equipe viravam uns pints “e esperavam até a hora em que o pub fechava. E quando todos já haviam voltado para suas casas, olhávamos ao redor da vila de Higham e víamos todas as luzes se apagando. Aí falávamos… beleza, podemos fazer os testes agora, e isso se seguia até às duas da manhã.”

Encontrei o modelo da foto acima quando procurava por outros carros e encontrei um rapaz britânico que disso, “eu tinha um desses, mas dá uma olhada no meu E-Type”. Lembro isso porque ainda tenho gravado o momento em que meu novo melhor amigo tirou a capa do carro. Fiquei abismado. Nada deveria ser tão espetacular, tão belo ou – se assim posso dizer – tão perfeito. Sério, a coisa parece perfeita. Tecnologia de ponta, velocidade inigualável, um preço que esmagava a concorrência e um desenho tão moderno e ao mesmo tempo tão clássico que rivaliza com qualquer modelo da Garagem dos Sonhos. O que você acha?
Adendo: E-Type lightweight Low Drag Coupe

Este modelo merece seu próprio espaço na Garagem, mas c’est la vie. Quem acompanha a Garagem sabe que o E-Type foi o modelo responsável por convencer Girolamo Gardini da Ferrari que o pessoal de Modena tinha que construir o 250 GTO. Mais um motivo para admirar o E-Type.
Em 1963, a Jaguar começou a construir E-Types mais leves e teve algum sucesso com eles nas pistas, especialmente depois que o Dr. Samir Klat projetou uma carroceria cupê com baixo arrasto para o modelo. Assim como os Shelby Cobras, os Lightweights (que eram modelos com capota que recebiam tetos rígidos fixados em seu lugar) enfrentavam problemas no retão em Le Mans. A carroceria com baixo arrasto corrigiu isso. A primeira vitória chegou em 1964 quando um desses cupês venceu uma prova em Brands Hatch, derrotando a Ferrari.
Fonte:jalopnik
Disponível em:http://www.jalopnik.com.br/
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