27 de out. de 2013

F-1:Os “casamentos” que deram certo na história da F1


Vettel e Newey no GP da Malásia de 2013 (Foto: Clive Mason/Getty Images)Vettel e Newey no GP da Malásia de 2013 (Foto: Clive Mason/Getty Images)
 
À sombra da glória de um grande piloto, há sempre um projetista de visão e talento. A história prova: o que seria de Jim Clark sem Colin Chapman? Ou Michael Schumacher sem Rory Byrne? Só com um carro veloz, confiável e inovador, nasce um grande campeão.

A parceria entre Adrian Newey e o talentoso Sebastian Vettel, que confirmou neste domingo seu quarto título consecutivo na F1, não foge à regra. Todas as vitórias conquistadas pelo alemão foram obtidas a bordo de projetos imaginados pelo engenheiro britânico.
Claro, sempre há críticos que desmerecem a conexão, atribuindo o sucesso do jovem piloto à genialidade de Newey, que despontou na F1 nos anos 90 com a Williams. Mas o que muitos esquecem é da vital importância de um projetista para o desenvolvimento de uma equipe.
Desde os primeiros dias dos GPs, na primeira metade do século XX, idealistas como Aurelio Lampredi, Rudolf Uhlenhaut e Vittorio Jano pensavam um carro inteiro a partir do zero, inclusive o conjunto do motor.

Atualmente, os desenhistas fazem parte de uma enorme comissão de funcionários em equipes com recursos consideráveis. Mas a tortuosa e onerosa corrida de desenvolvimento submetida às equipes exige de um projetista uma visão qualificada para definir os rumos de um time.
Por conta disso, piloto e engenheiro, muitas vezes, se complementam: um traz a velocidade e a execução; o outro, as ideias e a composição. É quase como no cinema, em que o roteirista (ocasionalmente o diretor) oferece os contornos da argumentação e o ator a executa. A forma como o último se entrega ao papel muitas vezes define a qualidade artística do filme, assim como a coerência indicada pela trama.
Vettel e Newey, portanto, são frutos de uma plataforma só. E somente o virtuosismo do germânico ou a genialidade do alemão não garantiriam à Red Bull um período tão dominante na F1.
Para provar a tese, apresentamos no Blog do Tazio cinco exemplos de “casamentos” bem-sucedidos na história do esporte. E, acredite, nessa lista não há um único piloto que seja questionado por seu talento.
JIM CLARK/ COLIN CHAPMAN (1960-68)
Clark + Chapman - anos 60
Nos anos 60, Jim Clark e Colin Chapman formaram uma das duplas mais fascinantes e bem-sucedidas na história da F1. Chapman, um projetista de vanguarda, trouxe conceitos da aeronáutica ao esporte que ainda hoje são citados como fundamentais no desempenho dos carros.
Clark, por sua vez, um virtuoso do volante, traduziu as ideias do projetista inglês em velocidade, o que garantiu à Lotus, entre 1962 e 1967, quatro títulos (dois de pilotos e dois de construtores) e 24 vitórias no campeonato – 40,7% do total das provas disputadas no período.
No início de 1968, a parceria foi repentinamente encerrada com a morte de Clark numa etapa da F2 em Hockenheim. Chapman ainda venceu mais nove campeonatos – quatro de pilotos e cinco de construtores –, mas nenhum corredor representou tão bem sua equipe como Clark, que ainda hoje é o homem com maior número de vitórias pelo time de Hethel.
JACKIE STEWART/ DEREK GARDNER (1969-73)
Jackie Stewart e Derek Gardner conversam antes do GP da França de 1973 (Foto: Divulgação)
Jackie Stewart e Derek Gardner conversam antes do GP da França de 1973 (Foto: Divulgação)
Um duo pouco lembrado, mas extremamente bem-sucedido na F1, dividiu a hegemonia do esporte com a Lotus na virada dos anos 60 para 70. A serviço de Matra e Tyrrell, o tricampeão Jackie Stewart e o inglês Derek Gardner venceram 19 dos 47 GPs – 40,4% – que disputaram juntos entre 1969 e 1973.
No início da parceria, Gardner era o responsável por projetar o sistema de tração 4WD para o Matra do escocês. Quando Ken Tyrrell se recusou a utilizar os motores franceses V12 e deixou a Matra, pediu secretamente ao projetista a criação de um protótipo de F1 para ser utilizado na temporada 1970.
As primeiras experiências foram ruins. O modelo 001 demorou para sair e, em suas primeiras provas, sofria muitas quebras – apesar de Stewart sempre sair na primeira fila. Tudo, entretanto, cessou em 1971: o escocês de Milton triunfou em seis das dez provas que disputou com o 003 – um monocoque mais fino, rápido e estável do que o 001 – e se sagrou bicampeão mundial com facilidade.
Em 1973, Stewart e Gardner ainda venceram mais um campeonato com o sólido (embora não tão rápido) 006. Ao fim daquele ano, contudo, Stewart deixou as pistas, enquanto Gardner cada vez mais ficou entediado com o ambiente da F1. Ele ainda lançou seu magnus opum do radicalismo, o P34 de seis rodas, mas deixou a Tyrrell no fim de 1977.
NELSON PIQUET/ GORDON MURRAY (1979-85)
Tão inovador, ousado e genial quanto Colin Chapman, o sul-africano Gordon Murray não obteve nenhum título de construtores com seus Brabhams. Ainda assim, com os carros projetados por ele, Nelson Piquet conquistou 13 de suas 23 vitórias na F1 – 56,5% do total – e dois títulos mundiais.
A parceria teve início em 1979, quando Piquet se juntou à Brabham como piloto nº 2 de Niki Lauda. No ano seguinte, quando o austríaco se cansou da F1, o brasileiro não teve muitas dificuldades para assumir o papel de líder, lutando pelo campeonato até a penúltima prova com Alan Jones.
Piquet + Murray - anos 80 [c]
Em 1981, no limite do regulamento aplicado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o duo duo obteve seu primeiro sucesso. Num esforço de diminuir a interferência do efeito solo nos carros, a entidade determinou que os modelos do ano tivessem um mínimo espaço de 6 cm para o chão e proibiu os pilotos de operarem qualquer dispositivo que reduzisse a lacuna com o carro em movimento.
Ciente de que os fiscais só poderiam medir o modelo quando parado, Murray teve uma ideia genial: um engenhoso sistema de suspensão hidropneumática para o BT49. Em movimento, o fluido hidráulico permitia que o carro ficasse colado à pista num ponto inferior ao ajustado pelas regras, praticamente recriando o efeito solo. A desaceleração no fim fazia com que o carro lentamente retornasse à altura regulamentar e não fosse punido pela FIA. Com efeito, a solução genial garantiu a Piquet seu primeiro título na F1.
Dois anos depois, o sul-africano construiu outro chassi vencedor, o BT52, que embora não fosse o mais rápido do grid, foi suficientemente bom para ajudar Piquet a se consagrar bicampeão. A dupla se manteve junta até 1985, quando o brasileiro se mudou para a Williams, mas ainda hoje, Murray – já afastado da F1 – vê o carioca/brasiliense como um dos pilotos mais completos com quem já trabalhou.
ALAIN PROST/ JOHN BARNARD (1984-86 e 1990)
Prost com John Barnard (no meio) (Foto: Divulgação)
Prost com John Barnard (no meio) (Foto: Divulgação)
Introdutor do câmbio semiautomático na F1 e criador do MP4/1, primeiro carro construído inteiramente de fibra de carbono, John Barnard foi o homem que devolveu à McLaren a hegemonia do esporte no meio da década de 80, após anos no pelotão intermediário do grid.
Com o seu MP4/2, um carro mediano em classificações, mas excelente em ritmo de corrida, Alain Prost conquistou dois títulos mundiais e 16 corridas. O modelo era surpreendentemente sólido para os padrões da época e, entre 1984 e 1986, o francês abandonou apenas dez das 48 corridas que disputou.
Até hoje, Barnard, hoje aposentado da F1, considera Prost o melhor piloto com quem já trabalhou. “Em termos de seguir uma direção adotada para um acerto, Prost foi um mestre”, disse o projetista, em recente entrevista à publicação “Autosport”. “Era era de uma categoria diferente. Ele dizia algo sobre o carro, eu fazia a mudança e avançávamos. Tínhamos a mesma sintonia. Em termos de analisar o carro e os pneus, Alain fazia milagres.”
Prost e Barnard, além de parceiros bem-sucedidos, eram bons amigos. O britânico ainda trabalharia com o tetracampeão em 1990, na Ferrari, e oito anos depois, em sua equipe própria, a Prost. No último time, o projetista trabalhou como consultor técnico até 2001.
MICHAEL SCHUMACHER/ RORY BYRNE (1992-95 e 1998-2006)
Quando se fala no sucesso de Michael Schumacher na F1, é praticamente impossível esquecer a imagem do sul-africano Rory Byrne. Das 91 vitórias confirmadas pelo alemão na carreira, 83 (91,2%!) foram obtidas em carros imaginados pelo projetista de Pretória.
Graças à união desses dois homens, mais o senso administrativo de Rory Byrne e Ross Brawn, a Ferrari impôs o maior período hegemônico de um mesmo conjunto piloto/equipe/projetista em toda a história.
A parceria começou em 1992, quando a Benetton de Flavio Briatore efetivou Schumacher como piloto titular e recontratou Byrne, que brevemente deixara a equipe para trabalhar no projeto Reynard F1.
Byrne abraça Schumacher após mais uma de suas 91 vitórias na F1 (Foto: Divulgação)
Byrne abraça Schumacher após mais uma de suas 91 vitórias na F1 (Foto: Divulgação)
As duas primeiras temporadas foram boas, mas o título ficou com Nigel Mansell e Alain Prost. Somente a partir de 1994, com o B194, a dupla confirmou sua força e consolidou o primeiro título do alemão no esporte. No ano seguinte, ainda viria o primeiro título de construtores para Byrne e a Benetton.
Schumacher deixou o time de Enstone no fim de 1995 e se transferiu para a Ferrari junto com o chefe executivo Ross Brawn. Byrne, na F1 havia 15 anos, preferiu se retirar da categoria.
Dois anos depois, após títulos perdidos para a Williams de Patrick Head e Adrian Newey, o diretor técnico John Barnard deixou Maranello e Brawn, com aval de Schumi, decidiu oferecer a vaga a Byrne, à época de férias na Tailândia. Após duras negociações, o sul-africano assinou com o time. E, a partir daí, vieram seis títulos mundiais consecutivos para a Ferrari nos construtores e cinco para Schumacher entre os pilotos.
Byrne deixou a Itália no fim de 2006, enquanto Schumacher se aposentou. O alemão voltou à F1 no início da década seguinte, sem o mesmo sucesso, enquanto o sul-africano atualmente trabalha no carro de 2014 da Ferrari, ao lado dos desenhistas Nicolas Tombazis e Fabio Montecchio.

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