18 de jul. de 2012

F-1-Chefe da HRT: “Já estamos pensando em 2013 e 2014”

Pérez-Sala compara o time espanhol com a Minardi de sua época de piloto e traça objetivos

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A HRT está cheia de planos. Chamada constantemente de “cadeira elétrica” e ridicularizada por muitos, a equipe segue sua luta pela sobrevivência na categoria, mas já pensa em incomodar os rivais mais próximos.
Nas últimas corridas, tem sido normal ela conseguir se classificar na frente de um, ou até mesmo dos dois carros da Marussia, como aconteceu com Pedro de la Rosa no GP do Canadá.
Em entrevista exclusiva ao Tazio, Luis Pérez-Sala explicou que a equipe está se estruturando e que já planeja os seus próximos passos. “Temos que começar a pensar no futuro agora. A equipe ainda está sendo construída. Somos 75 pessoas e temos que chegar a 105, 110. É diferente quando se pode trabalhar para o futuro e presente ao mesmo tempo. Nós temos a equipe organizada para o dia-a-dia, mas não para o desenvolvimento futuro, e é isso que estamos tentando criar neste momento.”
A HRT foi idealizada em 2009, pelo ex-piloto espanhol Adrián Campos, que aproveitou o plano de estímulo a novas equipes do então presidente da FIA, Max Mosley, resolveu levar seu time que competia em categorias de acesso para a F1 com o objetivo de se tornar uma porta de entrada para jovens talentos de seu país.
Só que Campos não deu conta nem mesmo de começar o campeonato de 2010. Ele ainda conseguiu vender a sua parte da equipe para o seu sócio, o empresário José Ramón Carabante, que renomeou o time com o nome de seu grupo, Hispania, e conseguiu montar uma estrutura mínima para estar na pista no GP do Bahrein daquele ano.
Os pilotos eram os estreantes Bruno Senna e Karun Chandhok. O brasileiro foi uma aposta de Campos para atrair mídia e patrocinadores. O indiano fechou o seu contrato menos de duas semanas antes do início do Mundial, quando Carabante já tinha tomado o controle, também em uma esperança de chamar a atenção de investidores de um país em desenvolvimento.
Os meses antes da estreia foram cercados de dúvidas e questionamentos. Outra equipe que tinha conseguido uma das novas vagas para correr o campeonato, a USF1, já tinha fracassado na missão de viabilizar a sua participação e anunciado a desistência no começo do ano. A expectativa era que o mesmo aconteceria com a Campos Meta, rebatizada de Hispania.
Os carros da equipe foram construídos pela Dallara, em uma jogada certeira de Campos, meses antes, já que lhe dava tempo para viabilizar a parte financeira do time sem tem que se apressar em um montar uma estrutura. Assim, apesar do grande déficit tecnológico, a Hispania tinha pelo menos dois pilotos e seus carros.
O abraço emocionado de Carabante em Colin Kolles, contratado como chefe de equipe, quando Bruno Senna fez o shakedown do modelo F110 no primeiro treino livre resumia o tamanho do milagre que era a presença do time naquela prova. A participação acabou ficando dentro do esperado: Chandhok bateu e nem mesmo completou a primeira volta, enquanto Bruno Senna abandonou com problemas mecânicos na 18ª.
Era difícil encontrar alguém, naquele momento, que esperasse que a Hispania, ou HRT, como já era chamada oficialmente, conseguisse até mesmo terminar aquela temporada. Hoje, a equipe continua frequentando as últimas duas posições do grid, mas se mantém viva.
Desde a metade de 2011, é de propriedade de um grupo de investimentos espanhol chamado Thesan Capital, que vem investindo na estrutura e em uma espanholização da equipe. O ex-piloto do país Luis Pérez-Sala foi contratado como novo chefe de equipe e, em abril, inaugurou em Madri sua nova sede.
Pérez-Sala tem paralelo interessante para levar experiência à HRT. Em sua passagem como piloto na F1, em 1988 e 89, ele correu pela Minardi, que por muitos anos carregou o rótulo de pior time da categoria, apesar de atrair uma simpatia e até torcida maior dos fãs do campeonato.
A comparação entre as duas equipes é inevitável, e quando olhamos para os números, vemos que a participação da HRT não é tão ruim. É verdade que em seus três anos de vida, ela frequentou a última fila do grid, mas só não conseguiu se classificar em duas oportunidades: os GPs da Austrália de 2011 (quando a regra que obriga todos os pilotos a fazerem um tempo equivalente a 107% da melhor marca do Q1 na classificação para poderem largar voltou a vigorar) e 2012, justamente na abertura do Mundial, depois dela não ter tido condições de testar seu novo carro na pré-temporada.
Além disso, na Espanha, este ano, Narain Karthikeyan precisou de uma autorização especial para largar, depois de sofrer com problemas mecânicos durante praticamente todo o final de semana. E só.
Em seus tempos de Minardi, Pérez-Sala, por exemplo, ficou fora das corridas por cinco vezes. Além disso, ele largou em 12 oportunidades para trás da 20ª colocação. Isso em uma época em que existiam várias outras equipes que se arrastavam pelas pistas, como Coloni, Euro Brun, Zakspeed e Osella.
Mesmo assim, Minardi possuía vantagens muito grandes perante o que a HRT é hoje. “A Minardi já era uma equipe pronta desde o primeiro momento, que tinha estabilidade, e nós estamos tentando criar isto aqui”, afirma Pérez-Sala.
A Minardi, mesmo com seus maus resultados, ficou na F1 por 20 anos, se tornando a sétima equipe com mais GPs na história, com 340. A HRT ainda busca a sua sobrevivência. Com seus novos investidores tentando estabilizar a equipe, o time está correndo atrás do tempo perdido para completar a sua estrutura e se consolidar de vez dentro da F1.
“Neste ano já estamos pensando em 2013 e 2014 por causa das mudanças de regulamento que vão afetar bastante os motores”, afirma o chefe do time.
Confira a entrevista exclusiva com Pérez-Sala, chefe da HRT:
Quais são as primeiras lembranças que vêm quando falamos de seus tempos na Minardi?
Eu estava muito envolvido, tinha uma relação muito boa com o Minardi. Participava do desenvolvimento, da parte técnica. Era uma equipe pequena, mas é claro que estava muito mais organizada do que nós [HRT] estamos agora. Somos menores, muito menores do que eles naquela época, 1988, 1989. Ainda nos falta para chegar ao que eles eram. Na verdade, era uma atmosfera muito familiar, muito bonita, e que eu gostaria de transportar para cá, quero que cheguemos a este nível.
E como você tem feito para trazer este espírito para a HRT?
É no dia-a-dia. Tentar fazer com que as pessoas tenham gosto de trabalhar nesta equipe, se sintam confortáveis mesmo que o objetivo não seja o mesmo das equipes grandes, de ganhar campeonatos, corridas. O nosso é simplesmente de estar, de participar, e promover melhorias que são quase como competir contra nós mesmos.
Você esteve na Minardi no quarto ano do time e pega a HRT no terceiro ano da equipe. Qual paralelo você pode traçar entre a situação das duas?
Esta equipe [HRT] é diferente porque, por mais que seja o terceiro ano da HRT, é, na verdade, o primeiro. No ano passado entraram os novos proprietários e mudaram a equipe em uns 85%. Então, é realmente como se fosse o primeiro ano. A equipe tinha uma sede na Alemanha, mas não era a sede em que todos estavam trabalhando. Agora, temos a sede em Madri. A Minardi já era uma equipe pronta desde o primeiro momento, que tinha estabilidade, e nós estamos tentando criar isto aqui.
Como foi essa renovação de 2010/2011 para 2012?
Oitenta e cinco por cento das pessoas são novas, 100% do material é novo porque os carros são novos. Na verdade, os motores continuam sendo Cosworth e também mantivemos o acordo com a Williams [parceria técnica em que o time inglês fornece sua caixa de câmbio], só que os termos do acordo mudaram. Então, eu ainda diria que é tudo novo: construímos motorhome, máquinas, ferramentas dos carros.
Qual é a fase que vive a HRT em termos de desenvolvimento do carro?
Tivemos esse desenvolvimento de um carro totalmente novo, mas neste ano já estamos pensando em 2013 e 2014 por causa das mudanças de regulamento que vão afetar bastante os motores. O que aconteceu é que trabalhamos muito para ter a sede, solucionando cada problema que aparecia no dia-a-dia, e não tínhamos como pensar no futuro. Temos que começar a pensar no futuro agora. A equipe ainda está sendo construída. Somos 75 pessoas e temos que chegar a 105, 110. É diferente quando se pode trabalhar para o futuro e presente ao mesmo tempo. Nós temos a equipe organizada para o dia-a-dia, mas não para o desenvolvimento futuro, e é isso que estamos tentando criar neste momento.
A HRT ainda não consegue fazer as duas coisas ao mesmo tempo, pensar em 2012 e nos anos seguintes?
Não, não temos gente. Ao mudar a equipe, o primeiro foi nos concentrarmos em ter uma equipe de corridas para fazer os carros correrem. Depois, o desenvolvimento para o futuro. Temos funcionários subcontratados [terceirizados], mas queremos que os responsáveis sejam de casa. Não há problemas para nós em subcontratar, mas os responsáveis de cada departamento, queremos tê-los dentro de casa.
Quão complicado é este processo?
É muito lento. Demoramos dez meses para que a sede finalmente fosse inaugurar. É lento porque hoje eu converso alguém, amanhã a pessoa vai pensando, muda de ideia, eu entrevisto mais gente: “Este sim, este não”. Leva tempo.
É possível relacionar estas dificuldades com aquelas que a Minardi vivia?
Dá para fazer uma relação com a Minardi porque, no final, a equipe funcionava da mesma forma, também tínhamos que melhorar, que desenvolver, mas a diferença é que o time já tinha departamentos que funcionavam — podia mudar, reforçar, mas já funcionava. Aqui, temos que criar. Não temos uma base histórica tampouco.
Sendo chefe de uma delas, qual é a importância das equipes pequenas na F1?
Se só existissem grandes, não teria competição. Se no futebol só jogam os quatro que ganham, não tem nada, só eles. É preciso ter participação para que haja competição e, participando, sempre há a chance de que as pequenas causem surpresa. Mas acredito que é preciso haver limites, como no próprio futebol, em que existem classificações, ligas, divisões. Aqui também é preciso haver isso, há outras categorias e, na F1, o limite de 107% [para largar, a equipe precisa fazer um tempo dentro do limite de 107% do tempo do primeiro colocado na primeira parte do treino classificatório] me parece correto. E é por isso que ele existe, para que não haja desvios.
O que pensa dos comentários de que a HRT poderia integrar uma espécie de subcategoria da F1?
Não penso nisso porque estou mais concentrado em tentar melhorar a equipe. Pensamos em como evoluir e ser cada vez um pouco melhores, mas não me preocupo com o que comentam porque, senão, estaria pensando mais no que as pessoas dizem do que no trabalho que temos que fazer.
Em que época é ou era mais fácil para as equipes pequenas sobreviverem, hoje ou nos seus tempos da Minardi?
Agora é mais fácil porque há menos equipes, são só 12. Quando eu corria, éramos 18 e só 15 faziam os treinos oficiais, sendo que apenas 13 corriam a prova. Primeiro, você tinha que passar de uma classificação que acontecia na sexta-feira entre 8h e 9h da manhã. Ou seja, três times já voltavam para casa às 10h da manhã de sexta. Os outros tinham que se classificar no sábado, senão também voltavam. Hoje, você fica dentro dos 107% e participa de tudo.
Mas e na questão dos investimentos?
Acho que é meio parecido antes e agora. Antes, custava menos, a tecnologia, o carro em si, mas hoje também temos mais ajuda. Era difícil porque havia mais equipes, mas financeiramente, era semelhante.
O quanto a crise na Espanha tem afetado a HRT?
Crise na Espanha, na Europa, no mundo ocidental. Quando há crise, há menos dinheiro e a F1 não vive em um mudo à parte, a F1 também vive a crise igualmente. Alguns sentem mais, outro menos, mas também é assim nas épocas de bonança.
E a possibilidade de a Espanha deixar de ter dois grandes prêmios, revezando as pistas de Barcelona e Valência no GP da Espanha?
Vamos ver o que vai acontecer no ano que vem. É ótimo que haja dois, mas se não houver dois, que haja um.
Sobre a fábrica, quais são os próximos passos a serem dados?
Toda a parte de informática, ainda temos que melhorar, que ampliar. Temos que contratar mais gente na parte de design e ir crescendo pouco a pouco, enquanto a equipe vai subindo, mas sempre com os recursos que temos, com humildade, tentando pisas sólio.
Qual foi a grande mudança que o time sofreu com a sua chegada em termos de filosofia?
Quando cheguei, a mudança, com o eu disse, foi de 85%. O propósito é que sejamos uma equipe séria, com base sólida ainda que pequena. E que tenhamos orgulho de estarmos no campeonato de F1, mesmo sem lutar pelo título.
Em 2010, o Brasil acompanhou Bruno Senna na Hispania e a equipe dava uma impressão de pouca seriedade.
Eu também acompanhei o começo de fora e entendo esse sentimento, já que as pessoas não sabiam se ia correr, não ia correr, se ia terminar o carro, não terminar o carro. Aqui, estamos trabalhando, vamos vivendo, vamos vendo e, no momento certo, o resultado… Não sei se vamos ver a mudança tanto pelo resultado quanto pela filosofia, que é de fazer as coisas bem, ordenadas, otimizadas, com uma boa base. O resultado chega. A diferença para o primeiro no classificatório está diminuindo. Em 2010, era de 106%. Em 2011, de 105% e agora está abaixo de 104%.
A “Autosport” (site inglês) publicou que a HRT talvez trocasse de nome…
Não, não pensamos nisso agora, não é nossa prioridade. Eu dei a entrevista e interpretaram assim, mas não foi exatamente o que eu disse.
Você ainda tem contato com seu ex-companheiro de Minardi e fundador da Hispania, Adrian Campos?
Ele esteve na inauguração da nossa sede. Ele fundou esta equipe mesmo que nunca tenha tido a chance de estrear em um Grande Prêmio. Ele nos disse que gostou da sede, nos felicitou e desejou sorte.

Fonte: tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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