6 de fev. de 2012

Aviacao Museu da TAM, parte 2: encontro de MiGs



Vinte e tantos anos atrás, quando comecei a me interessar por aviões, a simples hipótese de ver um MiG ao vivo era algo tão fora da realidade que a gente aceitava numa boa ver os F-5 assumindo o papel de fictícios MiG-28 em Top Gun, (POSTAGEM ACIMA ) sem reclamar. Felizmente os tempos são outros, e quem for ao Museu da TAM pode apreciar não um, nem dois, mas TRÊS membros da mais ilustre linhagem de caças soviéticos.

Durante praticamente quatro décadas (entre 1950 e 1990), os aviões projetados pelo escritório Mikoyan-Gurevich foram os parâmetros aos quais todos os caças eram comparados. Quem é jovem – no sentido de data de nascimento mesmo – e idolatra o Sukhoi Su-27 Flanker certamente não tem ideia do temor e da expectativa que cada novo MiG causava em nós, pobres entusiastas ocidentais, naqueles tempos em que toda informação vinda do outro lado do Muro de Berlin parecia sigilosa e codificada.

Os primeiros da família foram o MiG-1 e o MiG-3, ainda na Segunda Guerra, sem maiores destaques. Esta pequena e sonora sigla ganhou fama para valer mesmo durante a Guerra da Coréia, quando o MiG-15 venceu com folga os primeiros combates entre jatos da história, superando os Gloster Meteor, F-84 Thunderjet, F-80 Shooting Star e F9F Panther – além de derrubar inúmeros bombardeiros B-29.

Contra o lendário F-86 Sabre, convocado às pressas para reequilibrar as forças, o caça soviético oferecia desempenho vertical – relação peso-potência e taxa de ascensão – superior, e um poder de fogo incomparável. Enquanto os Sabre traziam as veteranas metralhadoras de 12,7 mm, os MiG-15 eram equipados com três canhões, dois de 23 mm e outro ainda maior, de 37 mm (o exemplar das fotos, versão de treinamento, não carrega o terceiro canhão).
O avião americano, por sua vez, conseguia fazer curvas horizontais mais fechadas, e seu sistema de mira era mais preciso, auxiliado por radar. Combinado a pilotos de nível superior (muitos deles veteranos da Segunda Guerra, contra uma mescla de norte-coreanos, chineses e soviéticos onde apenas os últimos eram realmente bons), o resultado foi uma kill-ratio favorável ao Sabre – índice negado pelo lado comunista, que afirma que o MiG-15 saiu vencedor na maioria dos encontros.

Também de acordo com os registros soviéticos, o modelo abateu mais de 1.000 aviões adversários nas batalhas da Coréia. Vários pilotos tornaram-se ases de ambos os lados. A vontade dos americanos de conhecer a fundo o caça adversário era tanta que gerou uma campanha de guerra psicológica oferecendo cem mil dólares – fortuna para a época – e asilo político a qualquer piloto que desertasse com seu MiG-15 intacto em mãos.
O exemplar em exibição em São Carlos é uma versão UTI de treinamento com dois lugares, fabricado em 1956. Como todos os MiGs da coleção da TAM, foi operado pela Polônia, então membro do Pacto de Varsóvia, ates de ser adquirido para o acervo.

Ao seu lado está seu sucessor, o MiG-17, visualmente bastante parecido, mas com aprimoramentos aerodinâmicos, novas asas, o primeiro motor russo equipado com pós-queimador (afterburner) e uma mira guiada por radar desenvolvida a partir do sistema americano obtido de um F-86 Sabre capturado.
O MiG-17 não chegou a participar da Guerra da Coréia, e correu o risco de cair no limbo depois que os primeiros projetos supersônicos entraram em produção na metade da década de 1950, mas a Guerra do Vietnã iria mudar isso. Contra aviões consideravelmente maiores, mais modernos e supersônicos como o F-100 Super Sabre, o F-105 Thunderchief e até mesmo o F-4 Phantom, os MiG-17 anotaram várias vitórias, graças à agilidade mantida intacta e ao poder dos seus canhões – os mesmos do seu antecessor.

Alguns detalhes que vale a pena destacar nos dois pequenos jatos da Mikoyan-Gurevich: as entradas de ar primitivas, adequadas para vôos subsônicos; as asas enflechadas, que representavam um grande avanço em relação aos caças do final da Segunda Guerra; as cercas longitudinais montadas sobre as asas para direcionar o fluxo de ar; e os freios aerodinâmicos localizados perto do bocal de escape.

O próximo da linhagem foi o MiG-19, o primeiro capaz de vôo supersônico sustentado na família. Como ele não está presente aqui, pulemos para o projeto seguinte, o MiG-21, ainda mais veloz, capaz de Mach 2.0 – e até hoje o jato supersônico produzido em maior número na história, com mais de 10 mil unidades produzidas ao longo de quase trinta anos.

As mudanças em relação aos seus irmãos mais novos foram radicais, e a principal delas está nas asas – apesar do ângulo das fotos não ajudar muito a mostrar isso. Os soviéticos resolveram adotar a configuração de asas em delta com cauda separada, diferente da configuração de delta sem cauda adotada na família Mirage, seu grande equivalente ocidental.
Como resultado, o MiG-21 possuía manobrabilidade nitidamente superior em dogfights. A desvantagem em relação aos caças franceses surgidos na mesma época estava na pequena autonomia, problema que se manteria crônico ao longo de toda sua vida.

Outra limitação do MiG-21 era a falta de aviônicos modernos. Uma das razões para isso foi a falta de espaço no nariz para  instalação de um radar adequado. Note que os projetistas soviéticos resolveram manter a mesma concepção de entrada de ar frontal dos modelos anteriores, instalando um cone móvel capaz de se retrair ou avançar conforme a velocidade. Na geração seguinte, formada pelo MiG-23, eles finalmente adotariam entradas de ar laterais, mais recuadas.

Simples, barato e vendido em quantidades maciças para mais de 50 países, o MiG-21 teve sucesso em combate, principalmente a serviço do Vietnã do Norte e do Egito, mesmo considerando que em ambos os casos os pilotos vietnamitas e egípcios não possuíam treinamento tão bom quanto os americanos e israelenses. Sua confiabilidade, porém, nunca foi das melhores, e as taxas de atrito entre os operadores sempre foi mais alta que a média.
O exemplar das fotos foi fabricado em 1973 e operado pela Polônia. É um modelo simples, com tecnologia dos anos 60, previsão para quatro mísseis ar-ar nas asas e um excelente canhão interno GSh-23L de cano duplo e 23 mm.

O caça permanece em serviço em versões modernizadas na Romênia (com aviônicos israelenses) e na Índia (com aviônicos russos), graças à miniaturização dos componentes, mas já se aproxima do final de sua vida útil. Além disso, a China fez uma cópia (Chengdu J-7) e desenvolveu toda uma nova família de aviões com motores, aerodinâmica e tecnologia atualizada – prova da longevidade do conceito original.
Vale lembrar que, durante todo o período anterior ao fim da URSS, os caças soviéticos foram constantemente desvalorizados tanto pela propaganda ocidental quanto pela desinformação reinante. Hoje as coisas mudaram, e sabemos que muitas vezes os MiG e Sukhoi foram tão bons ou até mesmo superiores aos seus equivalentes.
E é por isso mesmo que os exemplares do Museu da TAM mereciam um tratamento melhor. Eles estão meio que encostados num canto, espremidos entre outros aviões e uma parede, como se tivessem chegado tarde para a festa e encontrado todos os outros lugares ocupados.

Mas OK, estou reclamando de barriga cheia. São MiGs genuínos, originais e impecáveis, em pleno interior de São Paulo. O que mais a gente poderia desejar? Um Lada?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
Comente está postagem.

Nenhum comentário: