27 de jan. de 2012

Nascar- Paludo: “O projeto nos EUA é de longo prazo”

Gaúcho fala sobre a vida na América do Norte, a família e o desafio de vencer na Truck Series



Miguel Paludo (LAT South LAT Photo USA)
Miguel Paludo viveu sensações distintas em 2011: tornou-se pai pela primeira vez e migrou da K&N Pro East Series, uma das várias divisões regionais da Nascar nos Estados Unidos, para a Truck Series, o primeiro degrau no caminho para a Sprint Cup, a categoria principal na Stock Car americana.

Na primeira etapa da competição, em Daytona, fechou a prova em quarto lugar com uma picape Tundra, da Toyota, e impressionou a todos em ambos os lados da América. A exibição, no entanto, se mostrou excepcional, já que logo a camionete japonesa se mostrou bem inferior às Chevrolets no decorrer da temporada.
“Testamos algumas coisas que não funcionaram”, admitiu o gaúcho de Nova Prata, que terminou o campeonato em um discreto 17º lugar, com 651 pontos, três top 5 e sete términos no top 10.
“Foram altos e baixos, mas gosto de analisar pelo lado positivo. Aprendi bastante e estou pronto para 2012, em que vou correr com uma equipe mais competitiva”, acrescentou.
Se 2011 foi um ano paradoxo para Paludo, 2012 promete ser uma temporada de consolidação. No final do campeonato, mesmo com um desempenho irregular, ele assinou um bom acordo com a Turner Motorsports, um dos times de ponta na Truck Series.
Sediada em Mooresville, na Carolina do Norte, a Turner é uma equipe nova, com apenas três vitórias e 96 provas – número irrisório quando se leva em conta calendário inchado da Nascar – no currículo, mas um belo potencial pela frente.
Os motores da Chevrolet são cedidos pela Hendrick Motorsports – um dos times mais bem-sucedidos na história da Nascar – e o suporte técnico é da Richard Childress Racing, o que ampara o virtual favoritismo da equipe na temporada deste ano, ainda mais com a saída da Kevin Harvick Inc. Além de Paludo, integram o lineup de pilotos o conterrâneo Nelsinho Piquet e o texano James Buescher, terceiro colocado na temporada passado.
“Não poderia esperar uma oportunidade melhor”, comemora Paludo, que mantém um discurso cauteloso e vê a transferência para a Turner como um dos pequenos passos para chegar à Nationwide Series – última categoria antes da Cup.
“Uma coisa que aprendi no decorrer da trajetória é que um projeto nos Estados Unidos é de longo prazo”, comentou o gaúcho.
Nesta entrevista exclusiva ao Tazio Autosport, Paludo explica o porquê de optar pela vida nos Estados Unidos e uma carreira na Nascar, a importância da esposa Patrícia e do filho Oliver no processo de adaptação ao país anglo-saxônico e as expectativas para a temporada de 2012.
Como você avalia sua primeira temporada na Truck Series?
Foi uma temporada boa. No final do ano, aprendi um monte de coisas, conheci todos os tipos de prova no calendário, mas acabou sendo uma temporada abaixo das expectativas. Começamos superbem, chegando em quarto lugar em Daytona, mas depois tivemos diversos problemas de acerto no carro. Testamos algumas coisas que não funcionaram. Tivemos quatro resultados superruins, e caímos muito no campeonato, mas nas últimas provas, voltamos a andar no caminho, com um quarto lugar e um terceiro lugar em Michigan. Tivemos também chances de vitórias e sete top 10. Um outro problema que aconteceu foi o fornecedor de motor [Toyota], tivemos três problemas no carburador, incluindo um abandono na 30ª volta em Homestead, última etapa do campeonato. Foram altos e baixos, mas gosto de analisar pelo lado positivo. Acho que aprendi bastante e estou pronto para 2012, em que lutarei com uma equipe mais competitiva.
Você teve dificuldades para se adaptar a alguma pista?
Não. Em todas as provas que andamos, tivemos adaptações rápidas. Todas são ovais, e o que muda é a inclinação. Tenho algumas preferidas. Gostei muito de Michigan, andamos superbem lá. Também de Charlotte, Chicago e Texas. Tenho preferência pelas pistas de uma milha e meia.
A boa exibição em Daytona criou uma maior pressão por resultados para o restante do ano?
Acho que não. Fomos para Daytona sem saber o que esperar e chegamos em quarto. Mas Daytona é uma corrida à parte no calendário, depende muito mais de sorte do que acerto de carro. A temporada começa mesmo em Phoenix [segunda etapa, no fim de fevereiro]. [O resultado em Daytona] Não criou pressão nenhuma em mim, acho que, durante uma parte na temporada, optei pelo caminho errado e aí foi muito custoso para minha competitividade.
Sua esposa, Patrícia, te acompanhou nesta mudança para os Estados Unidos. De que forma a presença dela te ajudou na adaptação ao país?
Isso foi fundamental para alguém que está saindo de um país. A Patrícia era psicóloga e, para me acompanhar na mudança, fechou o consultório dela. Este suporte foi fundamental porque pude me focar somente nas corridas, não em outras coisas. Ela me acompanha desde o início da carreira, não faltou nenhuma corrida, somente nesta temporada, por causa do nascimento do Oliver [primeiro filho de Paludo]. Em relação à adaptação, eu sempre gostei dos Estados Unidos. Em 2001, fiz um intercâmbio no Texas, e sempre foi um país que eu escolheria como primeira opção para morar, caso não ficasse no Brasil. E também é muito gratificante estar correndo na Nascar, portanto uni o útil ao agradável. O bom dos Estados Unidos é que o país tem uma boa qualidade de vida e um monte de coisa que, no Brasil, infelizmente, carece um pouco.
Oliver, seu primeiro filho, nasceu neste ano. Como dividiu o tempo entre ele e as corridas na Truck?
Foi muito bom, está sendo maravilhoso. Como falei, se não tivesse a Patrícia comigo, tudo seria muito mais difícil. No decorrer do ano, acompanhei tudo de perto até os últimos dias de gravidez, porque nos Estados Unidos, eles não marcam cesariana. O bebê sempre pode nascer a qualquer momento. Durante quatro ou cinco provas, sabia que ele poderia nascer, e ele acabou nascendo entre as provas de Michigan (20 de agosto) e Bristol (24 de agosto), então fechou tudo certinho. Ser pai está sendo uma grande experiência, está dando um pouco de trabalho, mas faz parte da caminhada.
Você trilhou um caminho alternativo no automobilismo. Antes de ser piloto profissional, formou-se em administração e abriu uma empresa que vendia matéria-prima para a indústria da borracha. Em qual ponto você entendeu que era hora de optar por se profissionalizar no esporte?
Quando disputava a Porsche Cup, dividia minhas prioridades. Fazia automobilismo por hobby, mesmo quando ganhei Copa Corsa e disputei a Copa Renault Clio. Quando fui para a Porsche, ele continava um hobby, mas como tive muito sucesso nesta categoria [Paludo foi bicampeão da Porsche Cup], pensei em fazer isso profissionalmente. Todos nós sabemos o quanto é difícil, poucos pilotos conseguem sobreviver do automobilismo, e eu não era diferente disso. Quando fui bicampeão da Porsche, era uma chance. Em dezembro de 2009, tive a chance de ir a Homestead, na Flórida, surgiu o teste e ali tive a sensação de uma oportunidade na vida. Optei por dar uma guinada, largar meu emprego e viver 100% do automobilismo. E nos Estados Unidos, [os pilotos] sabem fazer muito bem. Eles ganham salário, têm peso enorme, e infelizmente muita coisa que ainda falta no Brasil. A boa estrutura da Nascar para patrocinadores também facilitou minha decisão. Não sei se tomaria essa decisão no Brasil.
Como surgiu a oportunidade para fazer o teste na Nascar?
Por intermédio do Roberto Figueroa, [comentarista] do Speed. Ele entrou em contato com o Laerte Zatta, engenheiro brasileiro da TRB que trabalhou com vários pilotos nacionais, como Cristiano da Mata, Helinho [Castroneves], Felipe Giaffone, entre outros. Fui a Homestead, ele me apresentou ao Laerte, e o Laerte me mostrou o caminho das pedras, vai por ali, vai por aqui, etc. Entrou em contato então com o dono da equipe Red Horse [Jeff Hammond, comentarista da Nascar na Fox americana], que tinha um teste agendado para o mês seguinte, no dia 10 de janeiro. O dono da equipe então falou que poderia me encaixar no teste e a Toyota ajudou com os custos dos pneus. Testamos, mostramos competitividade e, a partir daí, começou uma programação para correr na Truck Series, em 2010. Como a categoria era muito difícil e diferente, optamos por fazer um ano de K&N Pro Series East e algumas provas da Truck em 2010. Uma coisa que aprendi no decorrer da trajetória é que um projeto nos Estados Unidos é de longos anos. O começo foi mais ou menos assim. Foi um teste na Truck, depois uma temporada na K&N e em seguida quatro provas da Truck, com dois top 10. Foi esse caminho que trilhamos e agradeço a essas pessoas, o Roberto Figueroa e o Laerte.
Para o ano que vem, você será companheiro do Nelsinho na Turner Motorsports, que neste ano teve James Buescher entre os três primeiros no campeonato. Como foram as negociações com a equipe?
Eu estou muito motivado. Não poderia esperar uma oportunidade melhor. Com a saída da Harvick, a Turner ficou em um nível top na Truck Series. Acho que vamos ter uma temporada competitiva, com um pacote muito bom, um Chevy Silverado com motores da Hendrick. Tendo o Nelson [Piquet Jr.] e o James [Buescher], vamos conseguir dividir algumas informações. Em relação às negociações, conversamos com a equipe do Kyle [Busch, piloto e dono de time na Truck e na Nationwide] e, no último momento, o Kyle optou por continuar com o mesmo fornecedor de motor [Toyota] e isso foi uma das coisas fundamentais para não se concretizar. Começamos a falar com a Turner mais tarde e eles foram superlegais. Demoramos cinco dias para fechar contrato no fim da temporada e o Steve Turner se mostrou muito legal, assim como toda a equipe. Conseguimos juntar os pontos, foi mais ou menos isso.
E as picapes de Toyota e Chevrolet? Qual é a principal mudança entre eles?
O chassi tem uma estrutura semelhante, mas o bico e a traseira mudam. No túnel de vento, a camionete da Chevy teve resultados melhores do que a Toyota em função da aerodinâmica dianteira dela. No decorrer do ano, a Chevy evoluiu muito nisso, enquanto a Toyota não tem nenhuma projeção para trocar a frente do camionete, em função da Tundra. Isso só vai mudar a partir de 2013 e 2014. Se a Toyota faz uma mudança, tem que mudar o carro de rua. Testei o carro em Rockingham [circuito na Carolina da Norte] e a camionete da Chevrolet tem muito downforce e grip como um todo. Em saídas de long runs, a Toyota variava muito mais, enquanto a Chevy conseguia se manter mais rápida, mantendo o mesmo ritmo. Isso se transfere para a corrida. E os motores da Hendrick estão pau a pau com a Richard Childress e, em 25 provas no ano, o Chevrolet fizeram 23 poles.
Com a ida para a Turner, crescem as chances de disputar a Nationwide no ano que vem. Você se sente preparado para encarar este campeonato?
Atualmente, o foco é Truck Series 100%. Este é meu principal objetivo. Se vencer por lá, sei que me credenciarei para disputar a Nationwide, fazendo o mesmo caminho que, em 2010, me levou da K&N para a Truck. Acho que ainda não estou preparado para Nationwide, mas talvez a partir de novembro e dezembro de 2012, me sinta pronto. O carro é diferente da Truck, você pega mais pilotos da Cup Series correndo ali, e esses caras estão correndo todos os finais de semana.
Depois de sua entrada na Nascar, você sente que o interesse dos pilotos brasileiros pela categoria aumentou? E acredita que o número de brasileiros possa aumentar nos próximos anos?
Acho que sim. O pessoal está vendo que é um caminho possível e que há outro caminho além da F1. O mercado [da Nascar] é supervalorizado e tem patrocínios. É uma categoria que corre 25 vezes por ano – mesmo a Truck Series –, então é uma possibilidade de carreira para o pessoal começar a pensar. Tendo brasileiros lá, credencia ainda mais o fato. É o mesmo projeto do Laerte Zatta [que hoje mantém uma equipe brasileira na K&N, a X Racing]. Tendo Nelson e eu como pilotos brasileiros por lá, as pessoas vão ver o que estamos fazendo e vão se interessar.

Fonte: tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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