15 de out. de 2011

Teste: JAC J3 Turin vai além da imaginação

Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/CZN
Teste: JAC J3 Turin vai além da imaginação
Com seis meses de mercado, o sedã Turin da JAC ganha participação surpreendente na linha J3

por Rodrigo Machado
Auto Press


A chegada de um carro em qualquer mercado é sempre precedida de meses de pesquisa e planejamento. Tudo é levado em conta. Do design à maciez da suspensão. Mas no caso de um veículo que tem duas carrocerias diferentes, ainda é necessário saber qual é a proporção que cada modelo terá nas vendas.
E foi nesse ponto que a JAC cometeu um de seus poucos erros de cálculo na chegada no Brasil. No primeiro lote de J3 vendido por aqui, de cada três hatches, um sedã era comercializado, como é o retrato do mercado brasileiro hoje em dia. Entretanto, como é um veículo com propulsor maior e bom nível de equipamentos, a conta é outra. Ou seja, tirando os veículos de entrada, com motor 1.0, a proporção muda para dois para um. E foi aí que o J3 Turin, configuração de três volumes do compacto, cresceu nas vendas até atingir um percentual de 40% dos J3 vendidos no Brasil.

No acumulado do ano, o Turin já teve 6.267 unidades novas nas ruas, enquanto que o hatch vendeu 9.682. No total, uma proporção de exatos 39,2%, já mais de acordo com a demanda – nos dois primeiros meses, as vendas esbarravam na disponibilidade, de 35%.

A mudança do mix de vendas do modelo no Brasil também vem no momento mais movimentado na ainda curta história da JAC no Brasil. A marca chinesa foi uma das mais afetadas com a decisão do governo brasileiro em aumentar o IPI em 30 pontos percentuais para carros importados. Divulgou uma nota à imprensa explicando as razões por que estava insatisfeita e protestou. Ameaçou até desistir de construir no Brasil a fábrica que havia prometido. Só que as normas do governo, estimulam uma ação oposta. Todas as benesses vão para quem produz localmente. Já com a cabeça fria, o executivo-mor da JAC, Sérgio Habib, amenizou o discurso. Não só disse que vai manter os preços dos carros como estão, sem repassar seus aumentos de custo ao consumidor, como confirmou a construção da fábrica em Camaçari, na Bahia.

Como manteve o preço, a participação da JAC no mercado não se alterou. Isso significa dizer que ela sofreu uma pequena queda no número de emplacamentos, como ocorreu com as vendas em geral. A comercialização do J3 Turin caiu de 1.060 para 898 unidades, enquanto a do J3 desceu de 1.535 para 1.265 exemplares. A marca de 1% entre os automóveis e comerciais leves não foi mexida nos meses de agosto e setembro.

Isso prova que a estratégia que a fabricante chinesa propôs para os seus carros continua dando resultado, depois de meio ano após o início das vendas. E a proposta é simples. Carros bem equipados, com preço compatível e um imenso investimento em marketing. O J3 Turin não foge a essa tática. Como Faustão anuncia em suas propagandas, vem completo, com ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, airbag duplo, ABS com EBD e rádio/CD/MP3/USB. Pelo preço de R$ 39.900 não chega a ser uma barganha, mas é um valor competitivo num mercado de automóveis caros como é o brasileiro.

Assim como a lista de equipamentos, o motor é idêntico à do J3 hatch. O 1.4 litro com comando variável de válvulas na admissão capaz de gerar 108 cv a 6 mil rpm e 14,1 kgfm de torque a 4.500 rotações. O diferencial em relação ao dois volumes, obviamente, é o porta-malas, mais espaçoso. Ele leva 490 litros contra 350 litros do hatch. Mais uma prova da força que o sedã compacto ganhou por aqui.

Ponto a ponto

Desempenho – Dentro do seu segmento, o JAC J3 Turin não deixa a desejar neste quesito. O motor 1.4 com comando varíavel de válvulas na admissão tem comportamento interessante e consegue dar alguma agilidade para o sedã em situações pouco exigentes, como em cidades. Em ambiente rodoviário, embora seja melhor que um modelo 1.0, falta um pouco de torque e a potência só aparece em rotações elevadas. O câmbio, por sua vez, precisa de ajustes. Apesar de ser decentemente escalonado, tem engates pouco precisos. Nota 7.

Estabilidade – A suspensão é bem acertada. A carroceria rola muito nas curvas e o veículo fica sempre na mão do motorista, até velocidades em torno de 110, 120 km/h. A dupla de ABS e EBD ajuda nas frenagens e faz com que o carro não perca o controle. Nota 7.

Interatividade – Antes de vir para o Brasil, o J3 sofreu uma série de mudanças. Uma delas foi no painel de instrumentos. Seha como for, precisa ser melhor pensado. Ele não oferece boa visibilidade e o conta-giros dentro do velocímetro deixa a leitura confusa. Alem disso, o ponteiro do marcador de combustível corre no sentido chinês – cheio à esquerda e vazio à direita. O rádio conta com entrada USB, mas é preciso encaixar um cabo para poder “espetar” um pen drive nele. Por dentro, as travas são comandas apenas pelos pinos da porta. Não há um botão de comando nem como destravar as portas através da maçaneta.  Nota 5.

Consumo – O J3 Turin não tem computador de bordo, mas as aferições mostraram um consumo de cerca de 9,5 km/l de gasolina. Pelo desempenho que apresenta, é apenas razoável. Nota 6.

Conforto – A supensão faz bem o seu trabalho de amortecer e filtrar as imperfeições das ruas. O espaço interno é até supreendente para um compacto. Não faz feio. Como qualquer compacto, um quinto ocupante, não viaja muito confortavelmente. Nota 7.

Tecnologia – Em comparação aos rivais, o J3 Turin mostra alguma modernidade. Tem um motor de 1.4 litro com comando varíavel de válvulas, que aumenta a força e a eficiência. Além disso, é dotado de uma boa lista de equipamentos, com ar-condicionado, airbag duplo, ABS e rádio. Nada, porém, que impressione muito. Nota 7.

Habitabilidade – Existe uma boa quantidade de porta-objetos no interior do J3 Turin, com destaque para o que fica no console central, logo à frente do câmbio. Os acessos são bons, com boa abertura das portas. O porta-malas – diferencial de um sedã – leva 490 litros. Uma marca no nível da concorrência. Nota 8.

Acabamento – Como todos os seus rivais, o J3 abusa da quantidade de plásticos no seu interior. Em alguns pontos, os encaixes são falhos, com muito espaço entre as peças. Não é difícil achar rebarbas no interior do compacto chinês. Os comandos do ar-condicionado são bons e bem suaves. Nota 6.

Design –
O J3 Turin não é ousado. Entretanto, o sedã tem um desenho menos harmonioso que o hatch. As lanternas traseiras têm um formato peculiar, que ajudam a criar identidade. Nota 7.

Custo/Benefício – Como não vai repassar o aumento do IPI, o preço vai continuar em R$ 39.900. Se as montadoras brasileiras fizeram lobby pelo IPI para aumentar os preços, no caso da JAC foi um trabalho perdido. Ele continua na briga: Ford Fiesta sedã tem o mesmo preço, Renault Logan custa R$ 500 a menos, mas sem airbag e ABS, Fiat Siena vai a R$ 44,3 mil e Volkswagen Voyage, R$ 46,4 mil. O J3 não faz jus à fama chinesa no que diz respeito ao preço, pois não é um carro barato. Por outro lado, tem seis anos de garantia – embora a garantia também seja uma forma de prender o consumidor aos preços praticados pelas concessionárias para óleos, fluidos e peças de troca frequente. Nota 7.

Total – O JAC J3 Turin somou 67 pontos em 100 possíveis.



Impressões ao dirigir

Sem tirar nem pôr

A JAC chegou no mercado brasileiro como a primeira chinesa a apostar forte em marketing, o que despertou muito a curiosidade . Mas como a fama dos produtos provenientes da China não é das melhores, isso não era citado pelo ex-gordo Fausto Silva, garoto-propaganda da marca. Desconfianças à parte, o fato é que, em muitos aspectos, o J3 Turin se iguala aos concorrentes feitos no Brasil.

No desempenho, por exemplo, o modelo chinês fica no meio termo: melhor que os modelos 1.0, pior que os modelos compactos na motorização mais potente. Em rotações baixas, o carro é um tanto quanto sem fôlego, mas acima dos 3 mil giros o motor com comando variável de válvulas enche e consegue mover o J3 de maneira satisfatória. É um comportamento bem condizente com a proposta do carro nas vias urbanas. Entretanto, vale uma crítica para o câmbio. Apesar do curso curto, o que poderia insinuar um comportamento mais esportivo, os engates são muito imprecisos. Não é raro ao tentar engatar uma marcha, o motorista ficar “procurando” o lugar certo, até arranhando a transmissão em muitos momentos.

A suspensão também se mostra bem adaptada às situações brasileiras. Está calibrada no ponto certo, sem ser muito macia que possa comprometer a estabilidade nem rígida a ponto de causar desconforto. Desta maneira, o J3 Turin é um carro acertado nas curvas. Não incita uma direção mais ousada, com entradas de curvas mais rápidas, mas também não deixa a carroceria rolar muito. O rodar nas ruas também é tranquilo, com boa absorção dos impactos.

Por dentro, tudo que se espera de um compacto. Espaço decente para os ocupantes dianteiros e limitado para quem viaja atrás. Os maiores de 1,80 m podem se sentir desconfortáveis, com perna batendo no banco dianteiro e cabeça encostando no teto. Já no acabamento, o chinês deixa a desejar. Os plásticos são rígidos, como são em todos os nacionais, mas falta uma certa qualidade na montagem e na escolha dos materiais. Há rebarbas aparentes e a leitura dos instrumentos não é das melhores. Isso sem falar o odor do interior é o de produtos plásticos chineses. Isso cria uma falha imperdoável para um carro zero-quilômetro: o J3 não tem cheiro de carro novo.

Ficha técnica

JAC J3 1.4 VVTI

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.332 cc, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, duplo comando variável de válvulas. Injeção eletrônica de combustível multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 108 cv a 6 mil rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 11,9 segundos.
Velocidade máxima: 186 km/h.
Torque máximo: 14,1 kgfm a 4.500 rpm.
Diâmetro e curso: 75 mm X 75,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1
Suspensão: Dianteira independente, do tipo McPherson com molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira independente, com braços duplos e molas helicoidais. Não oferece controle de estabilidade.
Pneus: 185/60 R15.
Freios: Dianteiro a disco ventilado e traseiro a tambor com sapatas auto-ajustáveis. Oferece ABS e EBD.
Carroceria: Sedã compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. 4,15 metros de comprimento, 1,65 m de largura, 1,46 m de altura e 2,40 m de distância entre-eixos. Oferece airbag duplo de série.
Peso: 1.100 kg.
Capacidade do porta-malas: 490 litros.
Tanque de combustível: 48 litros.
Produção: Hefei, China.
Lançamento mundial: 2010.
Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, airbag duplo, freios ABS com EBD, faróis e lanternas de neblina, sensor de estacionamento traseiro, rádio/CD/MP3 com entrada USB, volante com regulagem de altura, banco traseiro bipartido e travamento automático das portas a 15 km/h.
Preço: R$ 39.900.

Prós
# Equipamentos de série
# Habitabilidade

Contras
# Interatividade
# Consumo
# Acabamento


Fonte: motordream.
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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