14 de out. de 2011

Entrevista: Christian Meunier, da Nissan do Brasil, afirma que ofensiva da marca é real e imediata

 Foto: Túlio Moreira/CZN
Entrevista: Christian Meunier, da Nissan do Brasil, afirma que ofensiva da marca é real e imediata  
O francês Christian Meunier não quer esperar a fábrica de Resende para fazer a Nissan crescer

por Túlio Moreira
 

O francês Christian Meunier ainda tem dificuldades no português. Mas não economiza palavras para expressar o encantamento com a vista da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. “O lugar mais bonito do mundo” – assim descrito por ele, com um pesado sotaque – entrará para a rota de viagens rotineiras do presidente da Nissan do Brasil daqui para frente.
A marca japonesa escolheu Resende, município do Sul Fluminense distante 146 km da capital do estado, para erguer sua segunda linha de produção de automóveis no Brasil. A sede continuará no Paraná, estado que abrigatrês unidades da aliança Renault-Nissan na cidade de São José dos Pinhais – automóveis, motores e utilitários.

A missão de Meunier tem pouco a ver com cenários paradisíacos. Convocado em abril de 2010 por Carlos Ghosn, CEO mundial da marca, para chefiar a filial brasileira, o executivo irá utilizar sua experiência adquirida em passagens pela Ford e Land Rover francesas e pela Mercedes-Benz norte-americana para tirar a Nissan do pacato índice de 1,7% de participação no mercado nacional e ultrapassar os 5% a partir de 2016. Graduado pela Escola de Negócios EDHEC, em Lille, na França, é funcionário da empresa nipônica desde 2002, quando começou a atuar como gerente geral de vendas e de frota da marca na Europa. Christian Meunier encara a atual empreitada com bom humor e determinação. O presidente da Nissan do Brasil defende a estratégia de marketing agressivo da marca e manda um recado categórico para a concorrência: “Não vamos esperar a fábrica para crescer”.

Ao anunciar os planos de construção de uma nova fábrica no Brasil, a Nissan deu início a uma série de negociações com vários estados interessados em receber os investimentos. Como ocorreu a aproximação com o Rio de Janeiro?
A ideia da fábrica partiu da nossa convicção no potencial do mercado brasileiro. Estamos conseguindo crescer mesmo sem diversificar nossa linha de produtos. Em setembro, a Nissan vendeu 5.936 unidades, crescimento de 83% em relação ao mesmo mês de 2010. Para crescer da forma ideal, com a inserção de novos modelos, a Nissan precisa de uma fábrica moderna, com logística eficiente, boa oferta de portos e rodovias e infra-estrutura satisfatória. Além disso, é necessário ter mão-de-obra disponível e o suporte das autoridades políticas locais. Assim, a escolha do Rio de Janeiro resultou da combinação de uma série de fatores.

A fábrica de Resende será uma das armas da Nissan para cumprir o plano de metas Nissan Power 88, que ambiciona 8% de participação no mercado global e 5% do segmento no Brasil até 2016. Além da nova unidade, o que será preciso para atingir esses níveis?
Não vamos esperar a fábrica para crescer. A chegada ainda este ano do hatch March e do sedã Versa, vindos do México até a fábrica começar a produzi-los por aqui, vai representar um aporte imediato para a presença da Nissan no Brasil. Tivemos o cuidado de trazer produtos que condizem com os anseios do consumidor brasileiro. Por isso, os dois modelos já chegam com motorização flex e ajustes na suspensão, por exemplo. A engenharia brasileira da marca realizou mais de 500 mil km de testes com o March no Brasil. E este trabalho garantirá que o nosso popular tenha o melhor custo/benefício da categoria. Outro ponto crucial é a expansão de nossa rede de distribuição, que atualmente tem 117 pontos no país e irá para 165 concessionárias até o fim de 2012. Isso significa que atingiremos 60% de cobertura geográfica nacional.

Apesar das estratégias globais que dominam o cenário automobilístico atualmente, cada mercado tem suas especificidades. Em que pontos o perfil do consumidor brasileiro se difere dos outros?
O consumidor brasileiro é mais emocional que o europeu ou o japonês, por exemplo. Nos Estados Unidos ou na Europa, o carro é principalmente um instrumento de conveniência, enquanto que no Brasil se torna um objeto de desejo. O preço dos automóveis aqui também é maior, por isso o consumidor brasileiro cria muito mais expectativa em relação à sua aquisição que nos outros países.

A estratégia agressiva de marketing é uma das principais características da Nissan no Brasil. Até que ponto ela é fundamental para aumentar a visibilidade da marca no mercado brasileiro?
A indústria automobilística no Brasil é muito conservadora. Quando cheguei ao país para ocupar a presidência da Nissan, descobri que o reconhecimento da marca entre a população era quase nulo. Por isso é importante fazer barulho e conversar com o nosso público, para delimitar território. Queremos comunicar para esses consumidores que a Nissan é uma marca inovadora, que tem ideias novas. Sim, é uma estratégia agressiva com as outras marcas, mas não é assim que o consumidor interpreta isso. O público acha que é uma proposta diferente e engraçada. A publicidade das outras marcas é “boring” – expressão inglesa equivalente a “entediante” – e tradicional, nunca há nada de novo.

Esse tradicionalismo também está presente no momento em que o consumidor decide comprar um carro novo? A estratégia da Nissan terá algum apelo em relação ao preço dos modelos?
O desafio é convencer o consumidor de que a Nissan é uma boa escolha. Por isso focamos no custo de manutenção competitivo e na rede de assistência pós-venda. Queremos provocar uma reviravolta no mercado. Estamos dispostos a operar mudanças radicais para surpreender o consumidor. Nós queremos vender inovação japonesa para todos. O preço sozinho não é uma coisa tão importante. É mais importante ter uma marca com apelo junto ao público, que saiba apresentar tudo o que aquele produto pode oferecer, como atendimento de pós-venda, custo de manutenção etc. A tendência não é que os preços diminuam no Brasil, por causa da carga tributária elevada, mas sim que as marcas que queiram ganhar mercado melhorem os seus produtos.



Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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