2 de jun. de 2011

A imaturidade de um campeão Por Rafael Lopes

Lewis Hamilton em Mônaco
As grandes polêmicas do GP de Mônaco tiveram como protagonista Lewis Hamilton, piloto da McLaren. Na pista, o inglês bateu em Felipe Massa e Pastor Maldonado, recebendo duas punições – um drive through (passagem pelos boxes) e um acréscimo de 20 segundos ao tempo final de prova.
Como se não bastasse, ainda deu uma desastrada entrevista pós-corrida, onde se disse perseguido pelo mundo e pelos comissários da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), fez uma referência à implicância da FIA de Jean-Marie Balestre a Ayrton Senna, xingou o brasileiro e o venezuelano de “burros” e “estúpidos” e, como se não bastasse, fez uma infame piadinha sobre racismo, citando o personagem Ali G (um rapper branco que se acha negro), do humorista Sacha Baron Cohen, que usa o bordão em um programa de humor da Inglaterra.
Antes de entrar na área mais complicada do assunto, as declarações pós-corrida, vamos discutir as manobras de Hamilton na pista. Só para esclarecer: não acho que o abandono de Felipe Massa tenha sido causado por Hamilton. Acho que o toque da asa dianteira de Mark Webber, que estava à frente dos dois na Loews, colaborou, mas não foi definitivo. Isto posto, voltemos ao toque na curva. O inglês claramente exagerou. Na freada para o hairpin, o piloto da McLaren não tinha nem perto da metade do carro ao lado do brasileiro. Forçou a ultrapassagem sim. De quebra, os comissários já haviam punido o escocês Paul di Resta por uma manobra parecida. Abriram o precedente. Mas o inacreditável mesmo foi Hamilton continuar acelerando mesmo após o toque. Parecia corrida de amadores em kart indoor. Inadmissível para um profissional.
Depois, a batida em Maldonado. Essa foi ainda pior. Nervoso por estar atrás de um carro mais lento, Hamilton jogou o carro de qualquer jeito por dentro da curva, quando o venezuelano já tinha seu traçado comprometido. A prova do exagero vem nas fotos. Quando atinge o rival, o inglês da McLaren está com o carro inteiro além da zebra, deixando claro que não havia espaçio para uma ultrapassagem. O piloto da Williams foi parar no muro e teve sua melhor corrida na Fórmula 1 estragada pelo toque de Hamilton. Neste caso, achei o acréscimo de 20 segundos ao tempo final de prova (equivalente a um drive through) muito brando para sua atitude. Eu daria bandeira preta para ele na hora. Desclassificação sumária por causa da reincidência na mesma corrida.
Hamilton contra Maldonado em Mônaco
Para completar, Hamilton ainda estava envolvido na confusão do fim da prova, que causou a bandeira vermelha. Pouca gente viu, mas ele deu o famoso “brake test” – quando você písa no freio bruscamente, na maldade, de forma inesperada – em Jaime Alguersuari e Vitaly Petrov, que foram parar no guard rail. Esse incidente os comissários não viram, mas não deixa de ser grave. O inglês, na pista, estava com o modo “Mad Dog” de pilotagem ligado, termo cunhado pelo amigo Lito Cavalcanti (leia aqui o texto dele) e que define bem a conduta do piloto da McLaren em Mônaco. Hamilton foi irresponsável e inconsequente e, por sorte, isto teve apenas danificou os carros dos adversários. Poderia ter sido muito pior. O automobilismo é um esporte de risco.
Ainda sobre as manobras na pista, quero deixar claro que gosto do estilo arrojado de Hamilton. Mas também é bom esclarecer que ser arrojado é diferente de ser inconsequente. Sempre vale a pena tentar ultrapassagens difíceis, mas é bom evitar as impossíveis, que geralmente tiram um dos dois envolvidos da corrida. Campeão de 2008, o inglês não deu o passo à frente, não se tornou um piloto mais inteligente, que sabe avaliar as melhores oportunidades para fazer suas manobras. Hamilton continua a cometer os mesmos erros que o fizeram perder o campeonato de 2007, seu ano de estreia, e do ano passado, quando liderou a tabela após o GP da Bélgica e ficou algumas corridas sem pontuar. A imaturidade continua lá, sempre muito forte e presente.
Dito isto, chegamos à polêmica entrevista após o GP de Mônaco. Aliás, declarações inconsequentes de Hamilton pós-corridas em que se envolve em acidentes já virou rotina. É sempre a vítima, o perseguido. E nesta corrida, isso chegou a níveis inaceitáveis. Xingar colegas de profissão para negar um erro seu e ironizar os comissários de prova usando uma piada sem graça insinuando racismo é um acinte. Hamilton nunca foi perseguido na Fórmula 1, muito pelo contrário. Sua entrada na categoria foi muito bem usada em termos de marketing por Bernie Ecclestone, chefe comercial da F-1, e pela FIA. Com um excelente talento, ele seria o primeiro negro da categoria. Mais gente começou a assistir às corridas. Por causa disso, até desfrutou de certas regalias no início. Lembram do GP da Alemanha de 2007, quando ele rodou na chuva e um trator (!) o devolveu à pista? Isso não é permitido pelo regulamento, mas ele não foi punido.
Hamilton e Nicole Scherzinger no paddock
Quando começou a receber o mesmo tratamento dos outros, Hamilton começou a reclamar. E a imaturidade continuou presente. Tudo isso tem muita culpa de Ron Dennis, que foi o grande patrocinador da carreira do inglês, mas que o protegeu demais dentro da equipe. Em 2007, ano de estreia do piloto, o dirigente incentivou uma disputa ferrenha entre ele e Fernando Alonso, que tinha sido contratado a peso de ouro. Resultado: título perdido com erros primários de Hamilton e o espanhol, sem clima, fora da equipe em 2008 após uma série de confusões. Tudo piorou no ano passado, quando após várias brigas, ele dispensou o pai Anthony do papel de empresário de sua carreira. Influenciado pela namorada, a cantora americana Nicole Scherzinger, neste ano, ele contratou Simon Fuller, criador do reality show “American Idol” e das Spice Girls, que se preocupa mais com o marketing do que com a carreira e o bem-estar de seu piloto. Os holofotes são mais atraentes que as vitórias.
Em suma, para encerrar esse verdadeiro testamento sobre Lewis Hamilton: o inglês parou no tempo. A agressividade virou justificativa para sua imaturidade. Com bem menos tempo de carreira, por exemplo, Sebastian Vettel já está um patamar acima do inglês, demonstrando ter aprendido com os erros do ano passado. Hamilton não: continua a exagerar e cometer manobras imprudentes. A má fama do piloto só cresce na Fórmula 1. Acho que está na hora da FIA, em caso de mais uma atitude irresponsável dele, dar uma punição exemplar. Desclassificação, suspensão de GPs. É triste ver um enorme talento se perder na imaturidade.

Fonte: voandobaixo
Disponível no(a):http://globoesporte.globo.com/platb/voandobaixo/

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