12 de mai. de 2011

As seis rodas na Fórmula 1: March 2-4-0



Com uma o palhaço faz um show; com duas um ciclista pedala; com três um Abutre pilota seu triciclo, e com quatro um piloto acelera seu carro. Com seis, um engenheiro maluco cria uma “aberração” para nós jornalistas escrevermos sobre o caso 30 anos mais tarde.

Podemos dizer que o berço das inovações tecnológicas mais malucas da Fórmula 1 foi o final da década de 70. O melhor esquema adotado era: projete, monte e coloque na pista. Funcionando, ótimo. Não funcionando, ou improvise ou jogue fora.
A Tyrrell já tinha introduzido o esquema de seis rodas na Fórmula 1 em 1976, todavia era um sistema não muito eficaz – e diferente do que iremos mostrar aqui. No P36 da trupe do Sr. Ken Tyrrell, tínhamos quatro rodas direcionais na frente do carro, mais as tradicionais duas no eixo motor traseiro.
Se pegássemos a parte de trás de um carro desses, nada demais veríamos, mas se comparássemos com a da frente… quatro freios, quatro suspensões, quatro rodas de 10” montadas em pneus igualmente pequenos. Não era para dar certo.

Já a March quis inovar. Aprendeu com os erros que a Tyrrell teve e quis apostar no conceito de um carro com seis rodas como receita para se dar bem no grid. A equipe montaria o 2-4-0 no final de 1977, visando a temporada de 1978.
Robin Herd foi o engenheiro incumbido de modificar um March 761. O nome 2-4-0 foi em alusão aos antigos trens. Neles eram duas rodas livres na frente, quatro para tração e nenhuma atrás, daí a denominação.

Herd e Eckersley (mecânico chefe) trabalharam insistentemente no carro, mas parcos orçamentos não era capazes de lhe dar uma base sólida. Para desenvolver ao máximo um carro daqueles, o sistema de engenharia precisaria de dinheiro a rodo.
O projeto seria montar um carro com todas as rodas do mesmo tamanho, evitando assim que a fornecedora de pneus tivesse que se virar para suprir esta demanda tão específica (no caso da Tyrrell, pneus com 10” de diâmetro tiveram de ser feito epecialmente pela Goodyear). Além disso, com quatro rodas atrás, a tração do carro seria algo fora do comum.
O principal problema encontrado por Eckersley foi conseguir adaptar um câmbio e um sistema de diferencial que fosse condizente com o sistema de tração nas quatro rodas. De fato, um problema sério.
A equipe conseguiu preparar um carro show que seria testado no final de 1977. O neozelandês Howden Ganley seria o escolhido para fazer tal teste. Max Mosley, um dos fundadores da equipe, chamou toda a imprensa à Silverstone para ver o carro em ação pela primeira vez.
Em um dia feio em Silverstone (isso é redundância, correto?), Ganley faria o shakedown no 2-4-0, mas dá somente meia volta com carro. O câmbio, ponto crítico do projeto, quebrou com somente poucos metros percorridos pelo traçado inglês.

Disfarçando-se como um camaleão, Ganley levou seu carro aos pits e os mecânicos rapidamente desativaram o último eixo motriz, deixando ele como um carro quase que comum, com tração em duas rodas.
Como a pista estava molhada, os repórteres presentes ao evento não conseguiram identificar nenhuma coisa errada. D de forma sorrateira, a March começava seu grande jogo de esconde-esconde.
O carro não era bem nascido e faltava dinheiro para evoluir o projeto. O bom é que a equipe estava ganhando visibilidade. Muitos meios de comunicação falavam dele. Revistas famosas como a inglesa Autosport colocavam o March 2-4-0 na capa, o que gerava um interesse enorme pela equipe, e por tabela mais patrocínios.
Para criar um frisson ainda maior, o bólido era esperado para o Grande Prêmio do Brasil de 1977 em Interlagos. E de fato ele foi levado pela equipe, mas como internamente sabiam que o projeto era quase que somente de fachada, não utilizaram o 2-4-0, e sim o modelo 761B modificado (com quatro rodas, claro).

Após as primeiras corridas do ano, a March testou o modelo mais algumas vezes. Howden Ganley foi para a pista, assim como Ian Schekter. O brasileiro Alex Dias Ribeiro também foi visto em um modelo 2-4-0 pintado nas cores dos cigarros Hollywood, mas era tudo pura enganação.

Em um outro teste em Goodwood, a farsa estava clara. Mesmo Ganley desferindo grande elogios à inovação, os presentes ao circuito viam claramente um eixo patinando como louco e o outro tranquilo como um grilo.
Tentaram até resolver os problemas do projeto, mas sem sucesso. Os pilotos foram induzidos a elogiaram muito bem a tração do carro. Era como se estivessem “sobre trilhos”, diziam eles. Tudo não passava de um golpe de marketing da March.
Excetuando a falta de grana, o projeto era de fato promissor. Roy Lane que o diga. Em uma época em que as corridas de subida de montanha eram um esporte de pompa na Europa, o recém-falecido piloto inglês fez miséria. Pegou um 761 e, com base no projeto de Herd, montou um campeão de seis rodas. Estava ali a prova que a ideia realmente poderia funcionar.

Vendo isso, um pessoal da Williams arregalou os olhos e quis protagonizar mais uma tentativa – mas isso é papo para um próximo post…
Atualmente o March 2-4-0 original encontra-se no museu Louwman na Holanda.


Fonte:jalopnik.
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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