23 de jun. de 2013

Apesar da tragédia, Le Mans sempre segue em frente

le mans tragedias jalopnik (1)

Le Mans é uma corrida dura, ninguém duvida. O que as pessoas às vezes esquecem, contudo, é que Le Mans às vezes é uma corrida mortal. Isto ficou provado ontem com a morte de Allan Simonsen e, no entanto, a corrida não parou. Talvez alguns achem que isto é insensível, mas a verdade é que a corrida nunca parou, desde 1923.


Não estamos dizendo que Le Mans nunca foi cancelada, e sim que, uma vez dada a largada, nada — nem mesmo a tragédia mais inimaginável — é capaz de detê-la. A corrida em si já foi cancelada antes, a primeira vez em 1936 por causa de uma greve, e depois de 1940 a 1948 por causa da Segunda Guerra e suas consequências.
A primeira vez que alguém morreu na pista foi em 1925, só três anos depois da primeira edição. Mortes em corridas eram razoavelmente comuns na época, e aprimeira a ocorrer em Le Mans tecnicamente não aconteceu nem mesmo durante a corrida. O piloto André Guillbert estava indo para a pista na manhã da corrida, ao volante de seu Ravel 12 CV Sport, quando seu carro foi atingido por uma van que vinha na contramão.
A primeira fatalidade a acontecer, de fato, durante a corrida, veio no dia seguinte, quando Marius Mestivier rodou no fim da reta Mulsanne em seu Amilcar CGSS, parecido com o da foto abaixo. Acredita-se que ele morreu na hora depois de rodar e ir parar em um córrego quando um pássaro o acertou na cara.
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Corpos continuaram a se amontoar ano após ano com certa regularidade, por causa da natureza perigosa do automobilismo de então. Segurança não era uma prioridade como hoje, com nossos cintos de competição multiponto e sistemas de supressão de incêndio. Havia a famosa “Largada Le Mans”, na qual os pilotos se alinhavam paralelamente a seus carros, corriam, entravam neles, davam a partida e saiam. O mais rápido abria vantagem logo de cara, e muitos pilotos acabavam não colocando o cinto de segurança.
Carros eram feitos de materiais exóticos, como hoje, mas em vez de fibra de carbono reforçada com plástico ou Kevlar, eles eram feitos de magnésio. Magnésio é leve, o que é ótimo para carros de corrida, mas ele também queima, e queima muito. Espectadores também recebiam pouca proteção, e não havia nem mesmo uma cerca para protegê-los. Esta falha cobrou seu preço de forma trágica em 1955.
O Desastre de Le Mans em 1955 continua sendo a maior tragédia do automobilismo. 87 espectadores morreram, além do piloto Pierre Levegh, e mais 120 ficaram feridas quando o Mercedes-Benz 300 SLR bateu na arquibancada. Pedaços do carro voaram em direção à multidão, e o magnésio da carroceria pegou fogo bem rápido. Abaixo, um noticiário da época — é bom avisar: talvez você não queira ver os momentos seguintes ao acidente.

A Mercedes-Benz decidiu abandonar a prova e convidou a Jaguar a fazer o mesmo, mas a corrida em si prosseguiu. O Jaguar de Mike Hawthorn acabou vencedor.
A história é esta. Tragédias fazem parte do automobilismo. Tentamos mitigá-las o máximo possível, mas o pensamento da maior parte dos pilotos é que “o show deve continuar”. Allan Simonsen queria que fosse assim, e sua família pediu especificamente para que a corrida seguisse em frente.
No total, 22 pilotos morreram em Le Mans. E, provavelmente, mais pilotos vão morrer no futuro.
Mas Le Mans sempre segue em frente.
[Fotos: David, Wikimedia Commons]

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