
O anúncio no mês passado de que a Lada finalmente vai encerrar a produção do 2107 (também conhecido como Riva ou Laika) foi triste. Pelo menos para aqueles que se confortavam com a ideia de que o Fiat 124 de 1966 ainda era produzido em algum lugar. O Lada era parte de um clube cada vez menor de verdadeiros matusaléns automotivos. Vamos ver quem continua firme e forte.
Para entrar neste seleto grupo, o carro precisa ser construído sobre uma plataforma com pelo menos 25 anos. Motores podem mudar, plásticas de cabo a rabo, novos materiais, nomes, o que seja, mas a plataforma básica deve continuar a mesma. Ou seja, apesar de Mustangs e Corvettes estarem aí há muito tempo, não são os mesmos carros, só o nome continua. Então eles não contam.
A última década foi cruel para plataformas antigas. Verdadeiros anciãos encontraram seus fins, caso do Fusca e do primeiro Golf (que encerraram suas carreiras em 2003 e 2009 respectivamente), a plataforma Panther da Ford (2011, Town Car e Crown Vic), Peugeot 504 (2006), Jeep Cherokee (2005) e o Fiat 128 (2009, com o fim do El Nasr). Mesmo assim, apesar da carnificina, um grupo considerável continua deixando as fábricas. Aqui estão eles, com minhas especulações sobre sua sobrevivência.

Morgan 4/4: apesar de o modelo existir desde 1936, a versão fabricada hoje é descendente da série II de 1955. Foi atualizado mecanicamente com frequência, mas ainda é o mesmo sportster com estrutura de madeira. O carro tem uma boa chance de continuar por outros 25 anos, já que sua longevidade é baseada na tradição e não em razões econômicas. 95% de chances de sobreviver a esta década. Provavelmente os veremos funcionar com a energia de buracos negros quando não mais houver crianças japonesas.

Hindustan Ambassador: baseado no Morris Oxford 1958, o Ambassador motorizou a Índia. Um motor Isuzu equipa os modelos atuais, e a carroceria é fantasticamente arcaica. Gostaria de ter um deles. Eles têm uma longa tradição, mas temo por sua sobrevivência. A tríplice corta-barato de responsabilidade ambiental, concorrência de baixo custo e segurança no trânsito está à espreita, pronta para atacar. Creio que o Amby tenha 25% de chances de sobreviver à década.

Volkswagen Kombi (Typ II): Mesmo com o motor flex refrigerado a água, não se deixe enganar, a Kombi é praticamente o Microbus original (a geração T2 de 1967 do Typ II). Fora o radiador à frente, seu visual é praticamente o mesmo de 40 anos atrás. Concorrentes de todas as partes do mundo tentaram derrotá-lo no Brasil, mas nenhum superou sua relação preço-utilidade. Se o esforço de engenharia da Volks conseguir superar as barreiras técnicas e regulatórias, é capaz de a perua ver a chegada de mais uma década.

Bristol Blenheim (Type 603): este carro é como um vampiro que vive de pompa ao invés de sangue. Lançado em 1976, ainda é possível comprar um Blenheim, desde que você tenha US$ 250.00 e uma cegueira impressionante que não permite enxergar o design irregular e a tecnologia ultrapassada. Ainda hoje inacessível para qualquer um fora de um clubinho fechado, provavelmente vão continuar entre nós. Não porque alguém realmente queira um modelo ultrapassado, mas porque já fazem tão poucos que não custa nada continuar. 75% de chances de ver mais uma década esnobe.

Mercedes-Benz (ou Puch) Classe G: o Xá do Irã deu a sugestão em 1979 à Benz, e até hoje eles não pararam. Foram atualizados sob o capô e ficaram cada vez mais luxuosos, mas sem deixar ser o mesmo austríaco quadradão. A Benz fez uma atualização abrangente para 2013, então parece que o tempo do G-Wagen não está perto de terminar. Chuto uns 85% de chances de seguir até 2020 pelo menos.

Fiat Uno: o pequeno italiano de 1983 vive no Mille Economy, e apesar de algumas recauchutadas, ainda é claramente um carro dos anos 80. Sua fatia de mercado é bastante competitiva e ele continua entre nós porque está naquele ponto em que é barato para fabricar e manter, e porque ainda oferece praticidade imbatível pelo que custa. Ainda tem alguns anos pela frente, mas não o suficiente para fechar mais uma década, talvez uns 30% de chances de sobreviver a 2019.

Volkswagen Jetta (2ª geração, 1984) e Volkswagen Passat (2ª geração, 1981): a China ama Volks antigos. O Santana é figurinha carimbada há décadas, trabalhando como carros de família, polícia e táxis – algo como um Crown Vic germano-brasileiro dos chineses. Tanto o Jetta quanto o Santana/Passat receberam recentemente um tapa no visual, então devem ter uma longa marcha à frente. A China tem uma crescente classe média e qualquer um dos dois tem um bom mercado ainda. Posso arriscar uma chance de 65% de vê-los na linha 2020.

Peugeot 405 (IKCO Samand): o antigo gaulês continua em produção, ao lado de outros três “produtos” equivalentes. No Irã, o Samand tem o título de Carro Nacional. Ainda hoje é um carro viável, mas não sei quanto de vida resta nele. Nada indica que sobreviva aos próximos sete anos, mas até aí, quem imaginaria que a Kombi estaria entre nós. E seu antecessor, o Paykan produzido até 2005, era nada menos que um Rootes Arrow/Hillman Hunter de 1966 rebatizado (prática comum com modelos da marca inglesa) e segue em versão picape. Será que ele supera essa marca?
E será que esqueci de algum carro? É provável. Mas é para isso que serve o campo de comentários, certo?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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