6 de jan. de 2012

O americano que não deseja carros elétricos


Carros elétricos são terríveis. Eles são a solução para um problema que não temos. Ou melhor: são a solução para um problema que não estamos nem perto de resolver: cidades enormes que não param de crescer, cheias de coisas que não temos dinheiro para comprar e compromissos o tempo inteiro em todos os cantos – como levar as crianças para a escola antes de encarar uma hora de trânsito até o trabalho.

Os carros elétricos modernos fazem tanto sentido quanto um telhado em aeroportos. Eles são bilhetes para um futuro que ainda não chegou. Para a maioria das pessoas a única vantagem dos elétricos sobre os carros a combustão é a satisfação de sonhar com o dia em que sua decisão de dirigir não afete o meio-ambiente.
Até os executivos concordam comigo (embora doa dizer isso): dois terços deles acha que a soma de elétricos e híbridos não fará a menor diferença no mercado até 2025.
Minha irmã comprou um pedaço de terra na zona rural de Kansas City, no Missouri, onde construiu um sítio. Seu marido viaja 96 km diariamente para trabalhar no centro da cidade. Eles gastam muito com gasolina, mas ainda é bem menos do que gastariam para financiar um carro elétrico. E é mais ou menos assim que a maioria dos compradores vai pensar antes de comprar um elétrico. Recentemente fui passar a semana na casa de amigos em De Soto, no Kansas, e aproveitei para visitar minha irmã. A viagem de volta a De Soto levou pouco mais de uma hora. E isso é normal. É o que os americanos fazem. Eles dirigem, dirigem e dirigem.
O Nissan Leaf, um dos melhores – ou ao menos o mais normal dos elétricos no mercado – tem uma autonomia total de 115 km. Eu não teria conseguido voltar antes do jantar se estivesse em um Leaf.
Os carros elétricos não foram feitos para trajetos longos. Por que não? Os EUA (e toda a América moderna, incluindo o Brasil) desenvolveu suas cidades baseados facilidade de comprar gasolina e de asfaltar rodovias. Se os carros elétricos como o Leaf não podem ser usados como o único veículo de uma família, o que eles estão tentando nos vender são soluções para um possível futuro, dizendo aos consumidores que aquele carro é um ato de bondade humana. Dirija um carro pouco prático e caro hoje para, talvez, construir um amanhã melhor.
Sö que hoje, nesse momento enquanto estamos vivos, os carros elétricos são ruins pelo simples fato da baixa autonomia. Híbridos são piores. Já viu o consumo de combustível de um carro compacto moderno, com injeção direta e movido a gasolina pura como o New Fiesta? Chega a 13 km/l na cidade. E o híbrido Honda CR-Z? 15 km/l. Apenas 2 km/l a mais que um carro que ainda é totalmente movido a combustível fóssil.
O famoso Toyota Prius chega a 21 km/l – mas ainda tira toda a sua energia da combustão de gasolina. E nem vou falar dos carros a diesel que os europeus adoram. Temos infra-estrutura para isso, mas estamos longe de poder usá-los nos carros.
Você pode concentrar toda a discussão na questão do petróleo. E você deve. Há uma quantidade finita de energia solar condensada e materiais fósseis. Em 2010 os EUA ainda produziram 83% de sua energia de combustíveis fósseis – boa parte foi queimada para gerar a eletricidade que foi enviada sem muito cuidado a uma rede ineficiente para recarregar baterias de carros elétricos. As mesmas baterias que precisaram de mais energia para a extração de lítio, cobre e alumínio usados em sua fabricação.
Não que os carros elétricos estejam fadados ao fracasso eterno. É inevitável que daqui a muitas décadas a autonomia irá aumentar à medida em que a capacidade das baterias melhorar. Talvez até elas consigam uma densidade de energia equivalente à gasolina. Afinal, há muita grana sendo gasta em pesquisas de baterias. Além disso, um relatório chinês diz que a energia solar pode se tornar tão barata quanto o carvão em cinco ou dez anos.
Mas hoje, nesse exato momento, em meio a uma terrível recessão e a sobras de material fóssil de décadas de consumo desenfreado, não consigo olhar nos olhos de alguém que está prestes a comprar seu primeiro carro e dizer: “compre esse elétrico. Ele não é muito divertido. Não é o que você realmente quer, e você não pode transportar quase nada nele. Ele também não é tão amigo do meio-ambiente como dizem. Mas ele é silencioso. Muito silencioso. Especialmente nas longas e horas que leva para recarregar suas baterias”.
Por sorte, parece que os americanos são espertos o bastante, então não terei que dizer isso. De acordo com um relatório publicado nesta semana, nós compramos apenas 20.000 carros elétricos em 2011 (embora um terço dele seja o Chevrolet Volt, que só é eletrico nos primeiros 65 km).
Quantos veículos não-elétricos foram vendidos? 14 milhões.
Fonte:jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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