22 de jan. de 2012

Drive On! é o melhor livro já escrito sobre carros


O último livro de LJK Setright é um compêndio de 400 páginas de prosa britânica hipererudita sobre carros e humanos e as formas em que nos envolvemos. É a obra de uma vida do mais sábio jornalista automotivo que existiu e se, você se importa com carros deveria ler. Bônus: várias piadas com Hitler!
Leonard John Kensell Setright faleceu no dia 7 de setembro de 2005, um dia depois que consegui meu primeiro emprego para escrever sobre carros. Levei alguns meses para conhecê-lo e alguns anos até
conseguir minha cópia de Drive On!: A Social History of the Motor Car, o último livro que ele completou antes dos cigarros Sobranie Black Russian matá-lo aos 74 anos. O século XX terminou de várias maneiras. Em dias aleatórios do(s) calendário(s), com a quebra da primeira onda estúpida de exuberância pontocom, no 11 de setembro, e também terminou com Drive On! e a morte de Setright.
O livro é exatamente o que diz o subtítulo: uma história social do automóvel. Outras invenções mais dramáticas e violentas do século XX talvez sejam mais lembradas. Arranha-céus, aviões, bombas de hidrogênio, foguetes para a lua, extermínios em escala industrial, a Internet. Mas será que houve alguma outra que mais tocou as pessoas e as libertou? O livro de Setright é sobre o automóvel e o automóvel somos nós, está interligado conosco como nenhuma outra máquina. Exceto talvez o computador pessoal.

Drive On! é um livro profundamente pessoal, só que de forma intelectual e não emocional. Setright era um personagem estranho, um personagem que nunca conheceremos em detalhes. Ele sempre foi muito reservado e agora está morto. Se parecia com um velho profeta do Velho Testamento, dirigia Hondas e Bristols de forma rápida, mas não como um louco, e fumava muitos cigarros.
Drive On! é um livro muito intelectual. Você pode sentir por trás de cada frase um intelecto de capacidade inimaginável, como se Setright soubesse e se lembrasse de tudo sobre a história do automóvel, e ele provavelmente sabia de tudo. Li centenas de livros e este é o único que fez me sentir pequeno de forma devastadora, desejando adquirir décadas e mais décadas de conhecimento e sabedoria para permitir que eu fosse além da superfície do livro. Talvez séculos.
Setright era inteligente e educado de forma que jamais seremos. Seu cérebro não dependia de bancos de dados externos para informações. Você consegue sentir que ele sabia de uma forma profunda e conectada, todos os fatos e nomes e datas citados em seu livro. E, claro, ele cita Virgílio e Cícero no original em latim. E possuía uma tendência hilária de demonstrar a ignorância dos nazistas sempre que podia. Tudo bem que isso não o distinguia de outros jornalistas automotivos britânicos, mas sua finesse sim.
Drive On! é uma epifania. É a grande promessa de modernidade, progresso, de Vorsprung talvez, é a grande crença no destino compartilhado e mutuamente benéfico de humanos e máquinas. Ele faz com que você perceba o quão maravilhosas nossas invenções podem ser e como a tecnologia realmente pode transformar o mundo em um lugar melhor. Se ao menos o mundo – nós – pudesse acompanhar, claro.
Também tem em sua capa de Corvettes Pop Art alguns dos exemplos mais belos de inglês já escrito. Considere estas duas frases sobre os carros de Fórmula 1 com motor 1.5:
Então lá estava a intensa beleza dos pequenos charutos monopostos do início dos anos 60, seus pneus lisos estranhamente remotos em frágeis braços de suspensão, uma imagem quase náutica, como se fossem esguios insetos que vão roçando a superfície com remos que parecem tocar os meniscos da água. Seus minúsculos motores de joalheria cantam puros em alta tensão, clarinetes com seis escalas e uma pequena alavanca de madeira polida para adestrar o êxtase dos tubos de escape em cada um de seus acoplamentos.
Ler Drive On! não é um exercício de final de semana. Ele exige sua atenção mais profunda e é difícil consumir mais de uma dúzia de páginas de uma só vez. Eu o li na época em que cruzei boa parte da Europa central em vinte e quatro horas com um Audi R8, vinte e quatro horas que me fizeram perceber como o sonho de Setright sobre o automóvel se corrompeu irrevogavelmente.
Não é culpa do automóvel. Nós temos os carros que merecemos. O livro de Setright é triste em muitas facetas, mas também é cheio de esperanças. Nós ainda somos, afinal de contas, a mesma espécie que criou o Lamborghini Miura.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br
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