12 de ago. de 2012

TRINTA ANOS: DELOREAN DMC-12


Os anos 1980 trouxeram ao mundo diversos mitos e marcos históricos, tanto bons e memoráveis quanto muitos ruins e lastimáveis. A queda do Muro de Berlim, a criação dos computadores pessoais, "Thriller" de Michael Jackson, o lançamento do Super Mario. Por outro lado, a moda de vestimentas estilo Restart, músicas deprê, José Sarney.

No mundo automobilístico, seus altos e baixos também foram marcantes. Os supercarros vieram com tudo, a lendária disputa Ferrari F40 vs Porsche 959 vs Lamborghini Countach. Por outro lado, encerraram o Grupo B de rali e tivemos a Autolatina.

Exatos trinta anos atrás, saía de linha um dos mais famosos automóveis dos anos oitenta, e não famoso por suas vendas, seu desempenho ou seu preço, mas sim por causa de um filme. Uma trilogia, na verdade, que todo entusiasta conhece de ponta a ponta. Em 1982, morria o DeLorean DMC-12, o sonho que virou pesadelo, e foi imortalizado no clássico filme "De Volta para o Futuro", de 1985.

John Zachary DeLorean, nascido em Detroit, já havia deixado sua marca no mundo automobilístico com a criação do termo muscle car ao colocar um grande motor em um carro pequeno (para a época) e de quebra, lançou o Pontiac GTO. Teve passagem pela Packard, Pontiac e Chevrolet, onde deixou seus legados, até que em 1981 colocou em produção seu sonho, o DMC-12.

Design de Giugiaro.

Com a fábrica montada na Irlanda do Norte por questões de custo e um forte jogo político, o DMC-12 (a sigla de DeLorean Motor Company, nome da empresa, e 12 de 12.000 dólares, que era o preço inicial a ser cobrado por cada carro) foi fabricado por apenas dois anos, até que um grande processo legal fecharia a fábrica e quebraria o nome de seu fundador. Apoioado pelo governo local, a DMC seria uma forte ajuda para combater o crítico desemprego local que assolava a região, após anos de conflito civil. Milhões e milhões de libras esterlinas foram subsidiados pelo governo local em taxas e impostos para que John construísse sua fábrica, revolucionária e moderna, e gerasse empregos na região.

Linha final da montagem do DMC-12

Nascido ainda nos anos 1970, o conceito do DMC-12 era um carro esporte com tendências européias. Após a apresentação do protótipo, muita repercussão foi vista na mídia, tanto com bons como com maus comentários. Zora Arkus-Duntov, o pai do Corvette com motorização V-8, teceu bons comentários sobre o carro, elogiando suas linhas e seu potencial. Comparado ao Corvette da época, o DMC-12 era mais baixo e mais largo, e bem mais curto, tudo o que em teoria é favorável para um comportamento dinâmico mais "esperto". 

Para Zora, a suspensão era promissora, e o fato do motor traseiro não parecia desanimar o belga filho de russos quanto ao possível comportamento de sobreesterço, como acontecia nos Porsche 911. Os largos pneus traseiros compensariam a distribuição de massa traseira do carro. Cada pneu traseiro, no momento os Pirelli P-7 de seção 265, eram caros, dizia-se que com um pneu destes comprava-se um jogo de pneus para um Cadillac. Na realidade, Zora chegou a trabalhar para John no desenvolvimento, mas pouco foi aproveitado das suas recomendações.

Fábrica na Irlanda, linha de montagem
O motor que seria usado na produção preocupava Zora. Inicialmente planejado para usar uma unidade central de ciclo Wankel feito pela NSU-Citroën, este foi descartado para dar lugar ao V-6 com injeção Bosch da PRV (Peugeot-Renault-Volvo) montado na traseira do carro como no 911. Duntov não se dizia preocupado com o rendimento do motor, mas sim com o custo, que poderia deixar o preço do carro inviável.
O motor V-6 de origem PRV
O chassi, que também modificado do projeto original, é formado por uma estrutura do tipo espinha central de duplo "Y" de perfil retangulares derivado da Lotus, pois na época do programa Colin Chapman foi contratado para dar apoio ao projeto do chassi. Na época, a Lotus estava com dificuldades financeiras, e um projeto grande como o DMC-12 seria muito bem-vindo. As pressões para rápida conclusão do carro e inicio da fabricação eram enormes por conta dos investidores e novas tecnologias que John queria colocar em prática tiveram que ser descartadas.

Detalhes do chassi em Y, projeto Lotus
Ao contrário do que muitos pensam, a carroceria (leia-se monobloco) do DMC-12 não é de aço inox. Na verdade, ao pé da letra, nem mesmo um monobloco o carro possui. A carroceria estrutural é de compósito de plástico reforçado com fibra de vidro, e o aço inox aparente são apenas finas chapas de acabamento. O inox é mais pesado que o aço carbono comum, seria um problema se a estrutura fosse feita deste material. DeLorean previa que os painéis danificados em acidentes fossem substituídos por novos, em vez de serem reparados, por conta do alto grau de complexidade nesta operação.

A estrutura de compósito de plástico reforçado com fibra de vidro que recebe o aço inox, e o chassi rolante

O desenho de Giugiaro foi mantido do projeto original, bem como as portas asa de gaivota, que se tornaram a marca registrada do carro juntamente com o aço inox. O grande desafio das portas com esse tipo de movimentação é a abertura e o peso do conjunto. Por ser maior que uma porta convencional, o peso dela é mais alto, e são necessários reforçados sistemas para mantê-las abertas e funcionais ao longo dos anos. 

Tecnologia aeroespacial foi usada nos amortecedores e molas das portas, que necessitam de um espaço menor para serem abertas que uma porta convencional, digamos, em vagas apertadas. De fato o espaço necessário para abertura é menor, mas um pouco de contorcionismo não deixa de ser necessário, pois ainda é preciso desviar a cabeça dela que está acima de você. Uma preocupação neste tipo de abertura de porta é no caso de capotagem, pois as portas não abrem.

Linha de carroceria da DMC
O motor V-6 de 2,9 litros é um caso a parte na história do carro. O carro foi concebido para ter um motor mais leve, um Wankel rotativo, compacto e potente, e a adoção deste motor foi um golpe baixo. Os esperados 200 cv previstos no projeto do carro foram transformados em apenas 160 cv na especificação européia e 140 cv na americana, por conta das normas de emissões de poluentes. Um modelo turboalimentado foi concebido, mas não passou da fase de protótipo, como já contamos aqui no AE anteriormente.

Tirando os problemas legais da empresa, é provavel que o grande responsável pelo fracasso do carro tenha sido o fraco motor associado com um câmbio muito longo, que fazia o desempenho do carro ser bem pior que o esperado. Um carro esporte que demorava mais de 10 segundos em uma aceleração de zero a 100 km/h era um problema sério.

Interior bem desenhado e esportivo
Como boa parte das histórias internas da DMC é desconhecida e cercada de mistérios, provavelmente nunca saberemos certas verdades. A suspensão do DMC-12 foi concebida com ajuda da Lotus junto com o desenvolvimento do chassis, baseada na geometria do Esprit com braços "A" sobrepostos dianteiros e multibraço na traseira, mas ao ser lançado a fábrica havia modificado o projeto Lotus e parte do bom acerto de suspensão havia se perdido. 
A segurança foi um pontos altos do projeto.

Os problemas financeiros da empresa eram sérios. Os custos de fabricação eram altos, a mão de obra não era especializada e a demanda do mercado era baixa, e para completar, as taxas de conversão monetárias eram desfavoráveis. Tudo isso fazia da empresa um buraco negro sugador de dinheiro, até que uma hora as agências fiscais americanas pegaram a DMC pelos pés. Todo o incentivo do governo não estava voltando para ninguém, e isto era um problema. Não bastasse isso, o FBI ainda enquadrou a empresa e seu representante (John) por tráfico de drogas, uma "pequena" quantia de mais de 20 milhões de dólares. John foi absolvido do caso, mas sua imagem morreu junto com a empresa. 

Ele mesmo, após o julgamento, reconheceu que estava fora do ramo com o nome manchado para sempre, com a simples frase "você compraria um carro usado de mim?".

Montagem das carrocerias na fábrica da Irlanda
Mas nem mesmo o escândalo financeiro e a acusação de tráfico de drogas que levaram John DeLorean a julgamento fizeram o carro perder o brilho que o cinema lhe deu, ficando gravado na memória de milhões.

A genial trilogia de Robert Zemeckis, "De Volta para o Futuro", conta a história de Marty McFly, um jovem estudante que é amigo de um cientista maluco que inventa uma máquina do tempo, e a faz em cima de um carro. Como ele mesmo conta, o aço inox ajuda no processo de viagem no tempo, e "por que não fazer com uma máquina do tempo com estilo?".

A máquina do tempo, OUTATIME do filme "De Volta para o Futuro"

No filme, o DMC-12 modificado pode viajar no tempo ao atingir 88 mph (141 km/h) estando carregado com uma pequena carga de plutônio, ou algo que gere 1,21 gigawatt de energia, como um raio. Por anos e anos a fio o filme é lembrado e o DMC-12 é uma das inquestionáveis estrelas.

Como um carro esporte, realmente deixa a desejar; como dito, o motor e a transmissão não ajudam neste aspecto, mas a posição de guiar é boa, o banco é baixo e os comandos, bem-posicionados. A posição dos pedais foi tida como perfeita por Zora Arkus-Duntov, assim como a disposição dos comandos. Se não fosse mesmo o motor fraco com marchas para lá de longas, seria muito bom de guiar. Os largos pneus, mesmo com as alterações da suspensão original, dão boa aderência e os freios a disco são eficientes.

As portas estilo de asa de gaivota e o inox são as marcas do carro.

A produção do carro foi encerrada em 1982, mas alguns carros foram renumerados para o ano de 1983 como tentativa de esvaziar o que sobrou de estoque. Ao todo aproximadamente 9.000 carros foram fabricados. Hoje em dia, o nome da empresa tenta se reativar fabricando modelos de continuidade no Texas e uma versão elétrica do DMC-12 sob encomenda.

É um ícone, e mesmo com tantos problemas e casos, ainda é desejável e estiloso. O sonho de um homem que se transformou em seu pesadelo, mas que continua a firme e forte nas lembranças de muitos, trinta anos depois de seu fim. Este foi o fim da estrada para a John e a DMC, mas para onde vamos, não precisamos de estradas, como diria Doc Brown a bordo do DMC-12 voador, ao lado de seu amigo Marty.

John Zachary DeLorean (1925-2005)

Fonte: autoentusiastas
Disponível no(a): http://autoentusiastas.blogspot.com.br
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