28 de dez. de 2011

Relógios e relógios! Pra que servem? parte 1


Manômetros, termômetros, canhões de luz, conta-giros, medidores de mistura… você já deve ter entrado – ou ao menos, visto – um carro com tantos relógios no painel quanto uma loja da Tag Heuer. Agora, pra que raios serve toda essa parafernália? Quando que eles não passam de enfeites de wanna-be Velozes e Furiosos e quando que eles são realmente necessários? O que faz cada um deles? Bem, vamos começar o tour. Só não perca a hora (duh).
Conta-giros
Velho conhecido de todos, embora nem todos conheçam como usá-lo. Antigamente restrito apenas aos esportivos e carros de luxo, hoje está presente na maioria dos carros – o novo Palio traz ele de série e o Gol, como opcional, por exemplo. Além do toque esportivo no cluster, este instrumento é muito importante para se dirigir bem – seja de forma civilizada ou esportiva. Com ele, você entende melhor a dinâmica do motor que você tem e consegue extrair o melhor dele, de acordo com a sua necessidade. Não precisa fazer curso de pilotagem pra usá-lo a seu favor, basta uma cabeça pensante.

Por exemplo: se a ideia é economizar combustível, você precisa manter as rotações bem baixas – na prática, usar as marchas mais altas que você conseguir. Em uma avenida plana, você consegue transitar a 60 km/h em quinta marcha tranquilamente, a bordo de praticamente qualquer carro. Mas não dá pra querer subir uma ladeira com um popularzinho em última marcha, correto? O motor não tem torque suficiente para se sustentar e as rotações vão caindo, drama que você pode acompanhar pelo conta-giros. Dado momento, próximo a 1.000 rpm, ele vai começar a vibrar e, se você não reduzir uma ou mais marchas, o automóvel vai simplesmente morrer. Claro que ninguém vai deixar o carro chegar a este ponto. Bem, eu acho.
Agora, com a experiência casada à boa vontade, você descobre facilmente abaixo de qual rotação o seu carro começa a perder rendimento. Em uma ladeira suave, tem automóvel que já reclama abaixo de 2.500 rpm em terceira marcha. Outros, mais torcudos, seguram até 1.500 rpm sem deixar cair o giro. No dia a dia, você vai pegando a sensibilidade do ângulo da ladeira em relação ao giro e marcha que o automóvel está, e já até consegue saber se ele encara a briga sem pedir redução de marcha, ou adivinha quantas reduções serão necessárias e em qual ponto – sem deixar a peteca cair demais nem dar tranco na redução. O conta-giros é o seu melhor aliado neste jogo: o ponteiro vai caindo, e dali, você vai descobrir qual a melhor hora de se reduzir. Se demorar muito, vai precisar reduzir duas, talvez até três marchas.

Já em direção esportiva, é legal você saber qual o giro de torque máximo do motor – e fazer de tudo para mantê-lo, no mínimo, dali pra cima. Veja o gráfico de torque e potência do Audi R8 V10, aí em cima. Seus 54 mkgf de torque máximo estão a 6.500 rpm e os 535 cv surgem a 8.000 rpm. Ou seja, para extrair o máximo deste conjunto na pista, só mantendo-o nos últimos 1.500 rpm de funcionamento. Assim, você colhe dois frutos: o motor está sempre cheio, com torque e/ou potência máxima imediatamente disponível, e a dinâmica dele fica mais neutra – quanto mais baixa a rotação, mais ele tende a sair de frente nas entradas de curva.
Os dois parágrafos acima são particularmente importantes para carros com curva de torque muito vertical. São aqueles motores que apresentam pouco torque em giro baixo, e conforme as rotações sobem sua força cresce exponencialmente. Exemplo: os antigos Honda V-Tec, motores 16V de baixa litragem, carros com comando bravo ou turbina grande. Para estes caras, o conta-giros é o ponteiro da felicidade.
Outra coisa bacana: com o conta-giros, você consegue sentir o escalonamento do câmbio. Por exemplo, se o seu carro tem a segunda marcha curta e a terceira longa, as rotações na troca da 1ª para a 2ª vão cair bem menos que na troca entre a 2ª e 3ª. Isso é importante tanto em direção civilizada quanto esportiva. Em ambos os casos, o bom motorista vai saber em qual marcha ele precisa esticar mais sob aceleração para o motor aceitar bem a marcha seguinte, ou em qual marcha ele vai precisar segurar no freio um pouco mais antes de reduzir para a inferior – evitando trancos. Com o tempo, você usa cada vez menos o conta-giros, mas na prática, nunca deixa de usá-lo. Do Celta ao Porsche, ele é um tremendo amigo.

Dica: quando for comprar um conta-giros aftermarket, existem vários alcances de rotações disponíveis. Escolha um que seja condizente. Não adianta nada comprar um conta-giros de 11.000 rpm se o seu carro não gira mais de 6 mil. Pelo contrário: sua leitura fica difícil e confusa. A não ser que o seu carro seja um V-Tec preparado e assassino girando quase dez mil (como o cara do vídeo acima), compre um de 8.000 rpm.

Dica 2: alguns deles possuem como opcional o shift light programável. O que é isso? Quando o ponteiro atinge a rotação que você programou, um canhão de luz acende, indicando o momento para troca de marcha. Veja o vídeo acima (e note como é bobagem usar um conta-giros de 11.000 rpm quando o motor mal chega a 6.000 rpm). Parece bonecagem, mas é uma ferramenta fundamental em pista: quando você tem cinco, dez, quinze carros berrando em sua volta, a última coisa que você vai ser capaz é de ouvir o ronco do seu próprio motor. Ajuda bastante em curvas longas ou em trechos muito sinuosos, também. Mas sempre tem o discípulo de Senna que diz que faz tudo no ouvido. Não contrarie.
Termômetro de água
Engraçado isso. Se por um lado, cada vez mais carros estão vindo com conta-giros de fábrica, hoje, há cada vez menos automóveis com termômetro no painel. As fábricas argumentam que atualmente o funcionamento e gerenciamento dos motores é tão preciso que não há necessidade de se monitorar a temperatura da água. Isso é verdade, mas no fundo sabemos que isso é economia de custo. A falta do ponteirinho é prejudicial em, ao menos, duas situações:
-Em uma batida digna de estragar a grade, uma das primeiras coisas a ser danificada é o radiador, por perfuração. Com o termômetro, você vai detectar isso em poucos minutos: a temperatura começa a subir lenta e ininterruptamente acima da faixa estável. Sem o termômetro, você repentinamente vai receber uma luz-espia de temperatura alta, imprecisa e enervante: “tá, está quente, mas quão quente? Consigo chegar até o mecânico que está a 1000 metros daqui, ou eu paro do lado desta favela e rezo enquanto o guincho não chega?” Com o termômetro analógico, um bom motorista consegue controlar o estrago sem deixar o líquido de arrefecimento passar muito de 100 graus (se houver só água, como nos carros mais antigos, a 100ºC ela já ferve), completando o reservatório conforme a necessidade, até chegar à oficina.

Pra evitar confusão, prefira termômetros que marquem em graus Celsius, e não Fahrenheit (acima): 100ºF são 38ºC!
-Fora isso, todo motor possui uma temperatura de funcionamento ideal, que é aquela na qual o ponteiro fica estabilizado – normalmente, a 90 graus. Sem o termômetro, como saber quando ele chegou nesta temperatura? Abusar do acelerador antes da hora diminui muito a vida útil do motor, muito depois disso, você vai chegar atrasado e talvez atrapalhe o trânsito. Alguns carros sem termômetro possuem um aviso de motor frio. Mas, na boa, nada substitui o bom e velho termômetro analógico.
Se o seu carro não possui termômetro de fábrica, recomendo que você instale um. Até porque, se você está lendo este post, provavelmente é porque gosta de carro fuçado. E carro fuçado sem termômetro é como sexo sem camisinha com uma prostituta. Pura loteria, e se der errado, é só uma vez. Os termômetros de água normalmente aferem de 40 a 120ºC.
Termômetro de óleo
A-há. Aqui começa o pulo do gato. Conta-giros e termômetro d’água são coisas comuns a quase todo automóvel, mas, termômetro de óleo? Qual a diferença? Bem, imagino que vocês já tenham colocado óleo de cozinha ou azeite na panela pra fritar qualquer coisa. Perceberam como o óleo fica fino, ganhando uma textura parecida até com a da água, conforme a temperatura sobe? É isso: a temperatura altera a viscosidade do óleo.

No motor, isso é fundamental: só estando na temperatura correta que o óleo possui a viscosidade adequada, formando a película entre as partes metálicas com o grau de lubrificação e espessura aos quais ele foi composto. Às vezes, sob uso extremo, um motor preparado cujo bloco possui paredes grossas é capaz de arrefecer a água adequadamente, mas não necessariamente o óleo está conseguindo atender as necessidades de lubrificação. E aí sua temperatura sobe pra casa do chapéu, o óleo afina e piora ainda mais as coisas em ciclo vicioso. Com o lubrificante menos espesso, a pressão do sistema também cai, e nisso o manômetro de óleo vai ser útil. Normalmente, o termômetro de óleo afere de 50 a 150ºC, e a temperatura estável costuma estar próxima a 100ºC.

A correta lubrificação evita que a temperatura suba demais – ainda que, às vezes, isso seja quase impossível
O termômetro de óleo pode estar ligado tanto ao motor como ao câmbio e diferencial (para estes últimos, os fabricantes de acessórios oferecem um relógio exclusivo, identificado como Trans Temp ou Diff Temp). É difícil um carro preparado superaquecer o óleo de transmissão, mas isso pode acontecer em situações de abuso, que envolvam muitas reduções forçadas ou drifting por tempo prolongado – andar de lado com o carro faz os discos de fricção do sistema autoblocante trabalharem como nunca. Ah, automóveis preparados com câmbio automático podem fazer bom uso do termômetro na caixa de câmbio, porque o conversor trabalha muito mais… e consertar uma caixa dessas pode sair mais caro que o próprio carro.
Na real, o termômetro de óleo (ligado ao motor) é um instrumento bastante específico, mais recomendado para motores de preparação pesada, particularmente aqueles nos quais houve mudanças radicais de diâmetro de cilindro, de curso dos pistões ou taxa de compressão extrema. Se houver problemas de espaço (ou se você não quiser uma relojoaria no painel), você pode dispensar o termômetro de óleo para adotar o manômetro, este sim, um dos instrumentos mais importantes de um carro esportivo.
Na próxima parte, veremos o manômetro de óleo, voltímetro, manômetro de combustível e analisador de mistura ar/combustível !
Fonte: jalopnik.
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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