30 de dez. de 2011

Flanelinhas, panfletos, lavadores de vidro...


Fim de ano, férias, hora de curtir a balada. Melhores amigos no carro, namorada ao seu lado, encontraram o lugar certo, tudo perfeito. Mas ao estacionar o carro, surge a voz que azeda a mais pura das almas:
Posso dá uma olhadinhaê, dotô?“. Você acelerou o passo, olhou para baixo, sacou o celular, conversou com o amigo virado totalmente de lado, fez de tudo para ser invisível, mas não teve jeito: a abordagem do flanelinha é implacável. “Pode…“, você responde, em tom de “fazer o quê, cazzo“.

No fundo, você está pagando para proteger o flanelinha do próprio flanelinha: se você negar o serviço, seu automóvel corre perigo nas mãos de um bandido que, sabe-se lá por quê, tem o direito de ficar vagando entre carros em ruas escuras sem ser abordado pela polícia. Dos inconvenientes que veremos neste post, o guardador de carro é, disparado, o pior.
É um dilema. Eu não deixo meu carro com manobrista de jeito nenhum , e dependendo do modelo que estou guiando, só deixo em estacionamento se puder levar a chave. De qualquer forma, tem bairro ou evento que não tem jeito: precisa parar na rua. E aí, é o velho drama. A extorsão dos flanelinhas chega ao ponto dos caras virem com preço fixo – quando se trata de baladas e shows regionais, o roubo chega à casa dos dois dígitos. Quando se trata de Fórmula 1 ou shows internacionais, aí o assalto chega ao plural das notas de oncinha.

Inacreditavelmente, algumas prefeituras ainda querem regularizar a tal “profissão”. Em julho do ano passado, o Ministério Público de São Paulo tomou a iniciativa, propondo um cadastramento obrigatório dos guardadores de carro, que precisariam ter ficha limpa (sem pendências criminais) e teriam identificação própria e crachás com nome e endereço. Mês passado, o Sistema Integrado de Administração Regional da Bahia propôs a mesma coisa. Para se ter uma ideia, na terra do acarajé já tem até sindicato: o Sindguarda.

É tudo picaretagem, em um país que precisa se livrar da tradição dos sanguessugas e da turma acomodada do “deixa disso”. Primeiro lugar: segurança da população e de seus bens é papel da polícia. Segundo: o que os flanelinhas praticam é extorsão. Não importa que o cara seja simpático, feio ou bonito, jovem ou idoso. Não conheço ninguém que se sente mais seguro porque há um flanelinha na rua, pelo contrário: quase todo mundo tem uma história de assalto ou furto feito por flanelinha, principalmente quando se trata de mulheres desacompanhadas. Em nota publicada no Estadão, a PM declarou ao Ministério Público que realiza “operações específicas” (cá entre nós, são bem raras) e que “a simples ação de tomar conta de carro, sem exigir nada em troca, não configura crime, o que dificulta a ação”. Ahãm.

Aí fico com essa na cabeça: o que o povo prefere? Regularizar a profissão de flanelinha, ou que o governo qualifique como ilegal o ato de um desconhecido “tomar conta” do seu carro e exigir dinheiro por isso? Em Passo Fundo (RS), o município adotou a segunda opção. Veja o vídeo abaixo, e pense a respeito.

Capítulo 2: os lavadores de
dinheiro
vidro
Pra lavar um carro de cinco metros de lata, cheio de cromos para dificultar a vida e cantos vivos para cortar as mãos, eu gastei pra lá de hora e meia. Sim, o Dodge, falarei dele mais tarde no Jalop.  De lata brilhando e sol a pino, decido dar um passeio com o bichano – até pra evaporar a água que fica acumulada em lugares que não dá pra secar. Meu carro não é de açúcar, mas não curte água.

Capítulo 2: os lavadores de
dinheiro
vidro Pra lavar um carro de cinco metros de lata, cheio de cromos para dificultar a vida e cantos vivos para cortar as mãos, eu gastei pra lá de hora e meia. Sim, o Dodge, falarei dele mais tarde no Jalop.  De lata brilhando e sol a pino, decido dar um passeio com o bichano – até pra evaporar a água que fica acumulada em lugares que não dá pra secar. Meu carro não é de açúcar, mas não curte água.
Eis que, em uma avenida perto do começo da rodovia Raposo Tavares (SP), o sinal fecha. Paro o carro, tudo normal, até aquele sujeito vir da calçada. Armado com uma garrafa Pet cortada ao meio e um rodo combinado a uma estopa de textura digna de um poodle mendigo; ele anda rápido em minha direção. Eu já sei o que ele quer, e por isso, já faço sinal com as duas mãos de “não”.
O cara não diminui o passo, e isso aumenta o meu desespero. Tiro a mão pra fora do Dart e continuo sinalizando, mas é inútil: o desgraçado me arremessa o conteúdo inteiro daquela meia garrafa em um para-brisa que estava simplesmente impecável, e começa a esfregar o poodle no vidro. Daí eu saí de giro: abri a porta e comecei a berrar com o cara, no meio da avenida. Se ele sequer encostasse no Dodge com um pouco mais de força ou jogasse qualquer coisa, ia virar briga de rua. Por bem ou por mal, o cara largou mão e atravessou a rua resmungando, para o outro lado – nem sequer procurou outro carro para lavar.

O mais curioso é que passo por ali muitas vezes por mês. Ele nunca mais lavou o meu vidro. Mas vejo ele fazendo a técnica do cego e surdo com todos. No fundo, é outro tipo de extorsão: o cara te empurra um serviço goela abaixo e exige grana em troca. É o mesmo que o flanelinha. A coisa fica aparentemente mais light porque tudo é rápido e indolor: tem um monte de gente à sua volta no semáforo, o carro continua contigo e em alguns segundos você sai do raio de alcance do cara, mas você também corre perigo.

Um dos cruzamentos mais perigosos nesse sentido, em São Paulo, está no cruzamento da Av. Henrique Schaumann com a R. Teodoro Sampaio. Na boa, a molecada que lava vidro ali é da pesada – tenho três amigos que já foram assaltados ali, todos da mesma forma. Carro sem ar condicionado, vidro aberto, molecada de 20 e poucos anos gruda no vidro do motorista, fica cara-a-cara, e pede uma “ajudinha”. Este grupo é apelidado de “gangue do rodinho”, e atua em toda a região. Fique esperto.

Capítulo 3: os entregadores de panfletos

Aqui, temos uma inversão. Esses caras dão duro e o mais importante: o trabalho deles não é remunerado compulsoriamente por você, e sim, por um contratante. Os entregadores de panfletos ficam o dia inteiro no sol, muitas vezes vestidos com ternos ou roupas de palhaço, andam quilômetros em um espaço de dez ou quinze metros… só que apenas uma coisa não muda: no fundo, você não quer o serviço. A maioria das pessoas pega o panfleto por constrangimento, boa parte não lê, parte significativa joga na rua alguns metros depois – e aí meu amigo, o crime passa a ser seu, e não de quem prestou o serviço.

O vídeo abaixo mostra algumas técnicas para você evitar que o seu carro vire um depósito de papel. Mas que filho da…

Além de bem humorado, o vídeo tem a presença ilustre de um carrinho sensacional, com traços inspirados em um Porsche. Qual é o bichano?
Adendo: os malabaristas


Olhe para o infinito. Você não está vendo o que ele está fazendo. Ih, deixou cair. Oba.Fonte:jalopnik
Disponivel em :http://www.jalopnik.com.br

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