6 de out. de 2011

A história do poderoso Blitzen Benz


Nos primeiros anos do automóvel a busca por recordes de velocidade era algo quase natural. Os limites dos automóveis ainda eram completamente desconhecidos. No começo do século XX os aviões mais velozes pouco passavam dos 100 km/h e os trens rodavam no máximo a 70 km/h.

Nessa época surgiram alguns dos carros mais incríveis já construídos. Uma época em que não havia combustível padronizado, quando as pistas eram de madeira ou tijolos  e quando a coragem precisava de altas doses de loucura para levar um carro à sua desconhecida velocidade máxima. Um desses clássicos é o precursor dos bólidos da Mercedes-Benz. Muito antes da AMG, do 300 SL “Gullwing” e até mesmo das Flechas de Prata, havia o poderoso Blitzen Benz.
A história do Blitzen Benz começa em 1908, quando a fábrica de Carl Benz já estava estabelecida e produzia mais de 1000 unidades por ano. Naquele ano os Benz GP Rennwagen disputaram o Grande Prêmio da França, chegando em segundo, terceiro e quinto lugares, sendo superados apenas pelo Mercedes GP. O projetista da Benz, Hans Nibel, decidiu que desenvolveria um carro para mostrar toda a capacidade da fábrica que havia inventado o automóvel poucos anos antes. Em 1909 ficou pronto algo que entraria para a história: o Benz 200 HP.

O Benz 200 HP foi construído com um único objetivo: correr até que a aerodinâmica ou sua mecânica o limitasse. O carro foi completamente projetado com o recorde de velocidade em mente, da “suave” suspensão dianteira à traseira pontiaguda. Apesar da precariedade dos estudos aerodinâmicos, Nibel decidiu usar rodas lenticulares (em forma de lente convexa). A carroceria foi pintada de branco, a cor internacional da Alemanha na época.
O destaque estava sob o capô fechado por cintas de couro: um gigantesco motor de quatro cilindros com deslocamento de 21,5 litros. Sim, você leu certo. Com 470 kg, o motor produzia espantosos 200 cv de potência a 1.600 rpm e 36 kgfm de torque a 1.000 rpm (a rotação máxima era de 1.650 rpm). A transmissão era feita por correntes e tinha quatro velocidades. Ao longo do chassi foram perfurados vários orifícios circulares, uma técnica que seria reutilizada por Colin Chapman 50 anos mais tarde para reduzir peso sem afetar a rigidez estrutural.

O primeiro recorde do novo Benz foi estabelecido na Europa: em 1909 o piloto Victor Hémery quebrou a barreira dos 200 km/h pela primeira vez em um automóvel. A segunda corrida foi na Inglaterra, mais exatamente em Brooklands, onde o carro chegou a 202,648 km/h no quilômetro lançado e 205,7 km/h na meia-milha lançada.
Ao testemunhar a vitória dos Benz GP Rennwagen no Grande Prêmio dos EUA de 1910, o organizador do evento Ernie Moros comprou um dos novos Benz 200 HP. O carro não havia sido projetado para corridas em circuitos estreitos, precisava de espaço para mostrar o que era capaz de fazer. Um lugar espaçoso como a praia de Daytona, na Flórida, com sua areia suave e compacta.
O 200 HP recordista em Brooklands
Moros mandou pintar “Lightning Benz” e uma águia imperial alemã na lateral do 200 HP, pois o carro parecia “rápido como um raio” (lightning, em inglês). O Lightning Benz pilotado por Barney Oldfield atingiu 211,40 km/h em Daytona. A velocidade era o dobro do que voavam os aviões da época e 1,4 km/h maior que a velocidade do veículo terrestre mais rápido do planeta, um recorde estabelecido em 1903 sobre trilhos.
Oldfield estava orgulhoso e empolgado por ser o primeiro homem a viajar a tal velocidade e acreditava que, caso alguém superasse sua marca, seria por uma pequena margem. Depois do recorde, Moros organizou uma turnê pelo país para exibir a capacidade do carro, mas antes traduziu o nome para o alemão “Blitzen Benz”.
Mas a empolgação de Oldfield durou somente até o ano seguinte, quando vendeu o Blitzen a Bob Burman. O novo proprietário voltou a Daytona e chegou aos 228,089 km/h, uma velocidade tão alta e impressionante que somente seria superada em 1919, quando Ralph de Palma atingiu 242,2 km/h na milha lançada com um Packard, na mesma Daytona Beach.
Bob Burman com a coroa de recordista de velocidade
O carro usado em Daytona foi vendido por Burman em 1913 e revendido em 1915, quando foi reconstruído e reapareceu em uma corrida em Nova Iorque em 1915 com o nome “Burman Special”. Burman morreu a bordo de um Peugeot em um acidente no ano seguinte, enquanto o Benz voltava à Inglaterra. O carro só reapareceria em público na páscoa de 1922, em Brooklands, ainda com a pintura branca, mas com um novo capô e um novo radiador. Seu piloto e proprietário, o Conde Louis Vorow Zborowski, não foi bem sucedido ao volante do relâmpago alemão e o desmontou em 1923.
A Benz só voltaria a obter um recorde mundial de velocidade 15 anos mais tarde, em 1934, na era das Flechas de Prata, já sob a união com a Mercedes de Gotlieb Daimler.
Outros quatro modelos foram produzidos e vendidos a pilotos, e foram tão bem sucedidos quanto os exemplares recordistas. Além dos seis Blitzen Benz fabricados na época, houve duas réplicas de alta fidelidade. Acredita-se que quatro dos cinco modelos remanescentes ainda estejam em coleções particulares até hoje. O outro, um dos Blitzen Benz recordistas, está guardado para a posteridade no museu da Mercedes-Benz.


Fonte:jalopnik.com.br/
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

Nenhum comentário: