
Em 1971 a NASCAR baniu os carros extremamente aerodinâmicos da Chrysler, forçando equipes como a K&K de Bobby Isaac a encostar seus carros mais rápidos. O dono da K&K, Nord Kauskopf, decidiu levar o Charger Daytona da equipe a Bonneville Salt Flats para uma despedida. Eles acabaram estabelecendo 28 recordes mundiais.
Eles chegaram a Bonneville no dia 12 de setembro daquele ano, acompanhados de uma pequena equipe. Um engenheiro da Chrysler, George Wallace, aproveitou as férias para comparecer. Também estava lá um oficial da USAC (United States Auto Club) chamado Joe Petrali.
A caravana estendeu uma lona entre seus caminhões à guisa de garagem improvisada. Com uma furadeira, fizeram buracos no sal e colocaram bastões para demarcar uma pista. Os membros da equipe K&K Buddy Parrott e Harry Lee Hyde perceberam que o trabalho ficava mais rápido e eficiente se eles tomassem umas cervejas enquanto furavam o sal. O motorista do caminhão também bebeu uma ou duas. As coisas iam bem até que Parrott olhou para trás e percebeu que as estacas que eles haviam acabado de pregar – no intuito de formar uma linha reta – se abria em direção ao horizonte. Eles então retornaram e cuidadosamente remarcaram o caminho, prestando mais atenção de um jeito que só os bêbados sabem fazer.
Parrott e Harry Lee dormiram em uma barraca sobre o sal, ficando de olho no carro e em todo o equipamento. Além do carro e das ferramentas eles levaram consigo seis motores Hemi – só por precaução – bem como combustível e pneus extras.
O tempo estava bom mas o sal estava em más condições. A equipe da K&K havia sido bastante pressionada a achar espaço suficiente para suas corridas sem passar sobre lugares onde o sal tivesse menos de 2,5 cm de espessura. Inicialmente eles pretendiam usar uma reta de 12 milhas (19,3 km) para os recordes de milha lançada.
Não havia sal o suficiente para isso, então eles reduziram o percurso para dez milhas (16 km). Isso daria a Isaac cinco milhas (8 km) para ganhar velocidade e mais quatro milhas (6 km) para reduzir. Os recordes da USAC exigiam que um carro fizesse o mesmo percurso uma vez em cada direção e então a média de velocidade das duas corridas seria o número oficial. O primeiro objetivo era ultrapassar os 320 km/h na milha lançada em um carro com carroceria original com um carburador comum alimentando um motor a gasolina. O recorde na época pertencia a Mickey Thompson, que atingira 302,835 km/h.
Isaac praticou algumas vezes e Parrott assistiu a tudo maravilhado. “Parecia uma grande bola de fogo voando pelo ar”. Petrali aprontou os equipamentos para medição do tempo da USAC ao longo do curso, para medir a distância de uma milha e de um quilômetro. O Charger Daytona disparou ao longo das duas distâncias em velocidades um pouco abaixo dos 349 km/h, estabelecendo dois novos recordes – e superando os anteriores por mais de 40 km/h. Wallace estava a 400 metros de distância. “Ouvimos o carro antes de vê-lo. Soava incrível, mas não parecia tão rápido sem algo para comparar.”
Ir em linha reta a mais de 320 km/h sobre uma camada de sal era mais difícil do que parecia. Isaac disse, “não era só uma questão de dirigir em linha reta. Quando se está em busca de um recorde, é impensável aliviar o pé para endireitar o carro. Se ele começa a deslizar, você precisa manter o pé embaixo e fazer correções com o volante para evitar que o carro rode. Você acaba indo em zigue-zague ao longo do percurso”.

Os próximos recordes seriam para as distâncias de dez milhas e dez quilômetros. Ambas seriam feitas em linha reta. Isaac acelerou pelas planícies e logo o Hemi estava rugindo, levando o ponteiro vermelho ao limite, com uma enorme nuvem de sal atrás dele. Após cruzar a linha, ele deu de cara com um problema.
“Havia mais ou menos uma milha de sal bom para frear antes que eu atingisse uma área macia demais, e não era o suficiente. Não demorou para que eu chegasse lá e fosse em direção à rodovia. Pensei em virar um pouco para a direita, mas acabei indo parar sobre uma elevação. “Ele simplesmente largou o volante, cruzou os braços e disse ao carro, ‘quando você parar, estaremos bem.’”
A equipe correu para ajudar Isaac a desencalhar o carro. Não muito tempo depois ele estava de volta à pista. O Charger Daytona conquistou mais dois recordes na arrancada: dez quilômetros a 277,584 km/h e dez milhas a 293,180 km/h.
Para as distâncias maiores, eles fizeram ovais no sal. Wallace acompanhou Isaac em algumas voltas para ver como o carro se comportava.
Fui com Bobby enquanto estávamos preparando o carro, e ele era provavelmente o piloto perfeito para a tarefa, pois era experiente com pisos irregulares e não tinha medo de andar rápido. Ele estava pilotando como se aquilo fosse uma enorme pista de terra. Ele chegava aos 329, 330 km/h no fim da reta e nunca aliviava o pé. Ele jogava o carro para dentro e parecia estar saindo de traseira uns 30%. A traseira escapava, mas ele fazia exatamente como faria em uma pista de terra.Isaac sentava o pé no acelerador e só apontava o carro para onde queria ir. Às vezes o carro ficava totalmente de lado nas curvas. Petrali estava em êxtase. “Nunca vi nenhum piloto pilotar como em um rali em volta do oval de 10 milhas antes.”

Após estabelecer algumas dezenas de recordes de velocidade, Hyde e Krauskopf decidiram que era hora de levar o Charger Daytona K&K para casa. Enquanto isso Isaac voltou para a NASCAR e disputou com alguns Chargers 1970 e 1971 mais comportados – e lentos – no asfalto. Ele e o Daytona estabeleceram 28 recordes certificados pela USAC, e muitos deles permanecem até hoje.
Este texto apareceu originalmente no livro Bobby Isaac: NASCAR’s First Modern Champion, de Steve Lehto, e foi republicado com permissão. Fotos por cortesia de Steve Lehto.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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