21 de set. de 2011

Primeiras impressões: Hyundai Veloster 2012


O Hyundai Veloster é um estranho híbrido de um Aston One-77, o três portas SC2 da Saturn  e o querido Honda CRX. Quem poderia imaginar que uma combinação dessas seria possível, ou ainda a receita para um dos carros mais interessantes em um mercado em que falta inspiração?
[Nota: o modelo testado foi a versão produzida para o mercado norte-americano.]

Uma década atrás, a Lamborghini apresentava o Murciélago. Uma loira de longas pernas e eu estávamos a poucos meses de escolher a “Biomusicology” de Ted Leo como a marcha para um casamento que nunca aconteceu. E quem dirigia: um Hyundai era geralmente considerado um mão-de-vaca de mau-gosto.

Uma década depois, quem poderia imaginar que um dos carros mais bonitos para o proletariado sairia de fábricas coreanas? Ou que a Hyundai teria a ousadia de apresentar à imprensa (e à garotada) seu novo cupê esportivo de três portas durante um festival de música? É o mesmo público alvo que a Ford buscou para o New Fiesta; o mesmo que a Toyota definiu para sua campanha “It’s a Car!” para o Yaris.
De volta às comparações iniciais. Bem, é claro que ele não é um Aston – não precisa ser muito cricri para perceber que as tomadas de ar do Veloster são meramente cosméticas. A solidez da fabricação e atenção aos detalhes estão bem além de qualquer coisa produzida pela GM no auge da sua pior fase. Talvez um CRX então? O vidro traseiro duplo até sugere isso, assim como a carroceria fastback. Mas se o CRX era um esportivo sensato para o dia-a-dia com tração dianteira e dois lugares, o Veloster está mais para um grand tourer econômico.

O que é interessante é que este GT de tração dianteira pesa quase 40 quilos menos que uma das referências atuais em hatches esportivos, o Mini Cooper S. Só não espere a comunicação direta e emoções do Mini. O Veloster se comporta de maneira bem tranquila, com um “desligamento” que lembra um videogame. As trocas e direção não transmitem uma sensação de interligação; as respostas da alavanca têm um certo estranhamento que exige alguns minutos de adaptação, e o mapeamento do acelerador parece responder com algum atraso.
No começo, é tudo meio desorientador. Tudo está ali, mas funciona de maneira um pouco diferente do que você espera.
A geografia do rio Gorge abre espaço para estradas fantásticas, nas quais os controles do Veloster começam a fazer sentido. O chassi, que parece preso ao chão em todos os momentos – apesar de seu peso relativamente baixo – passeia pelas curvas com uma neutralidade notável.
Não se parece com algo de tração dianteira. Mas também não passa a impressão de um AWD ou uma tração traseira; é quase como se a potência fosse entregue ao chão por um eixo central [algo que acontece em alguns videogames]. Se a direção não empolga, pelo menos é precisa. O ABS pode ser ativado um pouco cedo demais para meu gosto, mas nunca atrapalha a ação e os freios respondem bem.
A aceleração anestesiada não fez muito sentido até que eu comecei a atingir velocidades que eu não posso admitir aqui, em uma sequência de esses com uma pavimentação que merece adjetivos que não posso usar. Comandos agressivos simplesmente não perturbavam o carro. E nas poucas vezes em que escapou, foi incrivelmente fácil trazê-lo de volta. Pais, se seus filhos alimentam fantasias velozes e furiosas, suas alternativas são poucas, já que é preciso suar a camisa para se encrencar no Veloster.

Durante a avaliação, meu copiloto e eu paramos para checar o motor 1.6. Ao percebermos a reluzente cobertura de alumínio, resolvemos remover a capa de plástico do motor para vê-lo mais de perto e encontramos na parte inferior da capa uma camada de espuma com uma espessura capaz de absorver um chute do Anderson Silva.
Ao deixá-la no porta-malas, o ruído adicional foi muito bem vindo.
Com o predomínio da injeção direta [nota: a Hyundai ainda não confirmou o motor GDI para o Brasil], os fabricantes sentiram a necessidade de esconder a digitação incessante de máquinas de escrever feita pelos injetores, levando a um cancelamento dos ruídos mais estimulantes. Talvez a Hyundai esteja tentando nos preparar para um futuro de silenciosos motores elétricos, mas o silêncio assustador do Veloster serve para isolar o motorista da tarefa de guiar.
Por outro lado, o sistema de som opcional da Dimension parece excelente. Por sinal, todo o interior deixa para trás carros que custam milhares – ou dezenas de milhares – de reais a mais. A Volkswagen e a Nissan poderiam aprender bastante com os coreanos sobre como aplicar plásticos duros de maneira apropriada. Todo o painel é feito de um polímero resistente texturizado e opaco, que parece ser feito de algo muito mais caro.

Os bancos são envolventes e confortáveis para viagens longas, e o banco traseiro, apesar de não ser espaçoso, pode abrigar um adulto de estatura normal por mais de uma hora sem muitas reclamações, mas passageiros com mais de 1,80 m podem se incomodar em sentir o vidro traseiro sob suas cabeças.
Um erro de cálculo no interior é que se o seu aparelho de mp3 estiver conectado quando o carro for desligado, ao dar a partida, o aparelho volta à primeira música da biblioteca. Eu gosto da “A+ In Arson Class” do Rocket From the Crypt tanto quanto qualquer outro punk da década de 1990, mas não quero escutá-la toda vez que der a partida em meu carro.
Mas o Veloster não é para os punks da década de 1990. A Hyundai está de olho nos seus filhos ou seus descendentes espirituais. Eu gosto do visual do Veloster e admiro o risco que a Hyundai assumiu com o layout bizarro de três portas. O desenho no interior deixa os concorrentes no chinelo, ainda que o painel central lembre um alienígena. O que, dependendo do seu ponto de vista, pode não ser algo ruim.
O rodar do modelo é excelente e todo o conjunto passa uma sensação de construção sólida e uma presença que o faz parecer um bom negócio. Resumindo, o Veloster é um bom carro; por que eu estou simultaneamente impressionado por ele enquanto continuo cético?

A Hyundai nos hospedou no Jupiter Hotel, um velho motel que está sendo reformado em um paraíso hipster, o que inclui sua própria balada, o Doug Fir. As novas bandas no Doug, apesar de competentes, simplesmente não me chamavam a atenção, não importa o quão insana a plateia parecia ficar. Comecei a pensar que estava ficando velho.
Depois de andar no Veloster pelo Gorge, o leitor do Jalopnik/jornalista automotivo Alex Kierstein e eu andávamos pelo centro de Portland quando percebemos a plateia dentro de uma loja Dr. Martens. Quando chegamos à porta, “Where Have All The Rude Boys Gone” (“Para onde foram todos os caras rudes”, em tradução livre) tocava através do vidro. Entramos e assistimos Ted Leo terminar sua apresentação solo. Suas músicas ainda pareciam atuais, vitais.
Depois, conversamos um pouco sobre sua Alfa Romeo Berlina 1967. Me fez pensar que tipo de herói musical continuaria com seu Veloster daqui a 44 anos. E se eu gostaria de ouvir a música dessa pessoa. Mas no final das contas, será que isso importa? A garotada em Portland parece se divertir com seus sons certinhos e comportados, e a Hyundai vai vender esse carro aos montes.
Quem sabe alguns de seus proprietários também não removam a capa do motor?

Fonte: jalopnik
Disponível no(a)http://www.jalopnik.com.br/

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