31 de ago. de 2011

Pé na estrada: Maserati GranTurismo MC 2012



É um belíssimo automóvel, seu som é incrível e carrega a benção da equipe de corrida da Maserati. Mas será que o novo Maserati GranTurismo MC é um verdadeiro carro para pilotos, ou somente mais um acessório para riquinhos exibidos? Vejamos.

Mesmo que você seja um verdadeiro obcecado pelas variações do Maserati GranTurismo, não seria estranho se confundir um pouco. Na Europa, a mais nova versão do GT é o GranTurismo MC Stradale, cuja potência adicional, transmissão manual automatizada, freios de carbono-cerâmica, bancos de competição e a falta de um banco traseiro fazem acreditar que se trata de um GranTurismo S que usa as horas vagas à noite para ganhar a vida em corridas.

Nos Estados Unidos, porém, o modelo não chega (no Brasil já está à venda por R$ 920.000), em seu lugar vai o GranTurismo MC, semelhante à versão Stradale, mas menos preparado para trackdays. Ela é uma versão mais apimentada do GranTurismo S, para quem quer um pouco mais de emoção que o GT S pode oferece. O MC continua com dois lugares atrás do motorista, uma bem comportada transmissão automática da ZF, e alguns quilinhos a mais. Os milionários brasileiros e europeus podem até pensar que ficaram com o filé, e deixaram o coxão duro para os súditos de Obama, mas não é bem assim.
O pessoal da Maserati explicou a diferença desta forma: os compradores europeus costumam deixar seus modelos guardados para corridas e eventos de finais de semana, mas os yankees gostam de usar seus Maseratis no dia-a-dia. Assim, para um comprador em Los Angeles ou Nova Iorque, a transmissão original talvez seja muito temperamental para usar no vai e vem do trânsito, enquanto os cintos de competição da Stradale poderiam amassar os ternos de seus clientes. Fala sério.
Mesmo assim, ambos os carros receberam ajustes semelhantes no nariz pelos especialistas da Maserati Corse. No caso do MC, as modificações envolvem principalmente a aerodinâmica. Elas incluem um novo capô moldado à mão com entradas de ar, um novo conjunto de para-choque e splitter dianteiro, novos arcos de roda com saídas de ar, novas saias laterais, um novo para-choque traseiro e um spoiler traseiro maior. O resultado é um downforce 25% maior à frente e 50% maior na traseira, tudo a 200 km/h.

Durante um evento de apresentação, guiei apenas o MC, então não posso falar pela Stradale. E posso afirmar sem cometer perjúrio que o MC é o equivalente automotivo à ilha dos prazeres.
Prazer número um: o motor. Se você é do tipo que leva o giro a cinco mil para garantir potência, é melhor que seja com o V8 4.7 do Maserati. O que mais soa tão majestoso quanto um V8 Maserati acima de 3.000 rpm? Não muito. Talvez um coral de anjos cantando “While My Guitar Gently Weeps” em caixas acústicas feitas com madeira nobre. Mas somente se eu estivesse totalmente embriagado e Freddie Mercury cantasse à frente dos anjos. De outra forma, o V8 vence, sem sombra de dúvidas.
Andar pelo parque estadual de Anza-Borrego em San Diego com o novo e mais leve sistema de escape faz o V8 da versão MC pintar um cenário com atrizes curvilíneas e ângulos de câmera dignos do cinema italiano. Os impressionantes estalos produzidos pelo combustível desperdiçado ecoam pelos vales como um toque primitivo do nascimento do planeta. Pense no motor mais empolgante que você já ouviu, e então o imagine com uma pitada de uma substância mágica – e que não é daquelas que dão barato e você obtém em lugares onde não mandaria sua mãe.

No modo manual Sport a válvula bypass fica aberta, preenchendo a cabine com a sinfonia do V8. No modo auto Sport, a válvula abre a 3.000 rpm, e no modo normal ela fica fechada, resultando em algo como assistir um concerto com os ouvidos pressionados contra o chão do palco.
Claro que tudo isso é música para os ouvidos, mas com 450 CV (10 a mais que o modelo S) e 51,9 kgfm de torque (2 kgfm a mais) empurrando 1.880 quilos, não chega a passar a impressão de que trama nossa morte a todo o instante. O tempo do MC de 0 a 100 fica abaixo dos cinco segundos, então também não se trata de algo que vai deixar os ocupantes entediados.
A caixa automática da ZF é instalada logo atrás do motor, ao invés de na traseira, como a caixa da Stradale. A localização diferente se traduz em uma diferença de um por cento no equilíbrio dianteiro/traseiro – no MC, ela é de 49%/51%. A caixa recebe ainda o software MC-Shift da Maserati, que belisca o acelerador em reduções de marcha – algo que os italianos chamam de “doppietta” – e no modo manual Sport, ele mantém a marcha mesmo com o giro no limite. Não chega a ser uma maneira ruim de trocar as marchas, especialmente se você está construindo a defesa contra uma acusação de obra superfaturada. Mas se você quiser encurtar distâncias, ela é um pouco sedada. E é um dos momentos em que você precisa lembrar, “calma lá, isso aqui é um Gran Turismo. A concessionária da Ferrari ficava logo ali ao lado”.

E essa sensação continua durante as curvas. Não ficam dúvidas de que se trata de um carro grande e pesado, com a mesma propensão a mudanças súbitas de direção que uma banheira cheia de advogados de gerenciamento de riscos. A forma ideal de guiar o GT MC é pensar que ele é ainda maior do que é de verdade. Pense adiante, e o mantenha o mais alinhado possível – freie firme, vire com confiança, e então volte ao acelerador, convocando os super aderentes Pirelli P-Zero Corsa para trazer o carro de volta – em uma sequência coordenada entre os pés e as mão.
Ele não é bem um carro de corrida para as ruas, nem pretende ser. O carro em que andei tinha os amortecedores de regulagem única, teimosia bem vinda em uma era de sistemas complexos e adaptáveis em carros de luxo. O sistema adaptável Skyhook é opcional.
E depois você volta à realidade, confortavelmente, ouvindo o imponente V8 enquanto ele prepara o terreno para um Grammy automotivo.

Sejamos francos. Do ponto de vista da racionalidade, não há motivos para aplicar um falso espírito de competição a um GT italiano de 1.800 quilos. O MC é um belo GT, cujas capacidades estão no ponto para agradar aos sentidos em longas viagens, e não tanto para quebrar recordes em Nürburgring. E isso é bom, até mesmo bem vindo nesta era de comparações frenéticas de números. E no final das contas, qual comprador de Maserati espera deixar os vizinhos para trás a qualquer custo?
Ok, todos eles.

Fonte: jalopnik.com.br
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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