15 de mar. de 2011

Review: Audi A1, a dinâmica porta de entrada



O novo A1 surge como o Audi mais acessível, aquele destinado a cumprir o papel de introduzir motoristas ao universo preciso e performático de Ingolstadt. Por 90 mil reais, está longe de ser barato – como tudo nesse país. A questão que realmente pudemos colocar à prova foi: como o intitulado mini-compacto-premium  se comporta quando provocado ao volante, do jeito que costumamos fazer com seus irmãos mais velhos?

Para oferecer uma experimentação total, encaramos um dia inteiro de test-drives divididos entre trechos urbanos, rodovias e sinuosas estradas secundárias entre São Paulo e Campinas. No comando da jornada, o engenheiro Lothar Werninghaus, diretor de treinamento e consultor técnico da Audi desde a chegada da marca ao Brasil em 1994, o tipo de cara com quem você pode conversar por dias, meses e anos a respeito de automóveis.

Visualmente, o A1 é um quatro argolas puro. Os faróis com xenônio e linhas de LEDs e a grade trapezional podem até confundir quem vê-lo pelo retrovisor. O perfil arredondado da carroceria lembra um pouco o TT (e o New Beetle), mas preciso admitir que não me apaixonei totalmente pelo desenho quando visto ao vivo. Viajando um pouco, arrisco até dizer que gostaria de algo mais retilínio, mais caixote, na linha do finado A2 e dos Audis mais antigos.

Como sempre enfatizamos aqui, beleza é um critério subjetivo e que vai de cada um. Dito isso, mando outro julgamento pessoal: os arcos da carroceria pintados de forma contrastante com o resto do carro são polêmicos. Eles suavizam o formato esférico do A1 e reduzem a impressão de sua altura em relação ao curto comprimento, mas dão um ar meio de brinquedo a um carro tão compacto. Prefiro o meu sem isso (trata-se de um opcional), pintado todo de branco (abaixo), ou então na elegante cor Marrom-Teca metálico (acima, com os arcos).

Por dentro da cultura germânica

Uma vez no interior, esqueço de todas as idiossincrasias estéticas e divagações, e só penso em uma coisa: como adoro carros alemães de verdade. Sente-se a qualidade de construção em cada detalhe, do volante de pegada perfeita aos apoios para o corpo e os braços, passando pelos controles do ar-condicionado, o visor de 6,5 polegadas que se eleva suavemente, o porta-objetos lateral que abriga uma garrafinha de água de forma justa e levemente disfarçada, sem apelar para o formato “buraco no meio da porta”…

Há precisão nos encaixes, textura agradável nos materiais, e uma sobriedade que, se não produz nenhuma surpresa, evita qualquer tipo de rejeição. Coisas que uma foto não consegue transmitir. Eis aqui um verdadeiro carro premium em tamanho pocket – e quando digo pocket, significa que ele foi feito para duas pessoas e ponto. Banco de trás, só para crianças ou adultos bem pequenos.
O A1 foi construído sobre a plataforma PQ 25 do grupo Volkswagen, a mesma do Polo europeu (não o brasileiro), sob uma carroceria mais curta. Possui suspensão McPherson na frente e eixo de torsão atrás, ou seja: não é uma referência de modernidade. Mas as modificações dinâmicas e os padrões de exigência da Audi o transformaram em um novo carro, bem mais rígido e estável, a ponto de não ser lá muito confortável encarar os buracos da Marginal Pinheiros com ele.

Quando chegamos à rodovia dos Bandeirantes, a brincadeira começa para valer. O conjunto mecânico é baseado no do Polo GTI, com motor 1.4 TFSI de potência reduzida para 125 cavalos e câmbio de sete marchas S-Tronic com dupla embreagem. Quanto à “potência reduzida”, fique tranquilo, pois além de ser suficiente, acompanha um respeitável torque de 20,4 kgfm, bem mais que os 16,3 kgfm do Mini Cooper (o grande concorrente, sobre o qual falaremos mais adiante), e 100% disponível numa faixa sólida e imediata, entre os 1.500 e os 4.000 rpm.

Com turbo, intercooler e injeção direta, o 1.4 TFSI se comporta como alguém maior, e desmente um pouco essa relação que costumamos fazer entre cavalos e esportividade. Não chega a colar o corpo contra os bancos na hora de acelerar (de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos, diz a ficha técnica), mas impressiona nas retomadas. Com o câmbio em modo sequencial acionado por ágeis paddle shifts, o carrinho topa qualquer ultrapassagem esbanjando força e muita rapidez nas reduções e trocas de marcha. A dupla embreagem – que pré-engata as marchas pares e ímpares alternadamente – faz diferença nessas horas, e não deixa você sentir falta de uma transmissão manual.
Ainda sobre o câmbio, vale dizer que a sexta marcha parece ser apenas um recurso econômico em cruzeiros a 120 km/h, ou em momentos bem acima do limite – faz de conta que não falei isso, mas ao passar dos 190 km/h ainda nem esgoelamos ela. A sétima marcha? Só em longas viagens por autobahns – e como não vivemos na Alemanha, não precisei usá-la em nenhum momento ao longo do dia.

É assim que o povo gosta

Uma rápida parada no posto e, junto com os camaradas Guilherme e Junior, do sensacional Papo de Homem, começo uma enxurrada de perguntas ao Lothar. Ele fala de suas experiências com a RS2 (aquela perua lendária criada em parceria com a Porsche), sobre o S3 que nos acompanha, sobre suas experiências com a Audi na Europa, e então me ocorre: sendo o A1 um carro de tração dianteira, como será equipada a futura versão esportiva S1, já anunciada (e flagrada) lá fora? O engenheiro responde: “você já viu algum Audi S sem tração integral?”

Mal posso esperar pela concretização das palavras desse cara, pois apenas com tração dianteira o A1 faz curvas como poucos carros compactos – em meu humilde portfólio de direção, talvez nenhum.  Saindo da Anhanguera, logo entramos por uma estradinha sinuosa entre Itupeva e Campinas, de asfalto liso e molhado após as chuvas do último final de semana.
O ajuste de suspensão mostra-se firme e esportivo. A carroceria bastante rígida segue neutra até o limite, o motor cumpre à risca o que o pé direito deseja, o ronco torna-se estimulante com o conta-giros mantido próximo da linha vermelha, e o peso ideal da direção eletrohidráulica ajuda ainda mais na tocada – enquanto isso, outra jornalista (a Marilu Araújo, velha conhecida dos leitores dos brand channels da Goodyear e do Bradesco aqui no Jalop) se segurava como podia no banco do passageiro. Desculpe, Marilu!

Na volta, sem me preocupar com a direção, pude brincar bastante com a interface da tela de 6,5 polegadas que inclui o sistema de navegação (ainda inativo), vários ajustes de comodidade do carro e o Audi Music Interface. São 14 auto-falantes Bose, incluindo um subwoofer. No que tange à segurança, ele também mostra pedigree: airbags frontais, laterais, cortinas de proteção e cinco estrelas – nota máxima – no crash-test do Euro NCAP.
Outra coisa impressionante foi o ponteiro de combustível após toda a nossa jornada. Estava apenas na metade. Os números divulgados são espantosos: 15,4 km/litro de gasolina na cidade e 21,7 km/litro na estrada. Mesmo levando em conta que dados de fábrica tendem a ser superfaturados, não deixa de ser uma façanha do downsizing.

Veredicto: vale a pena?

Se você é fã da Audi, tem cabeça e costumes jovens, faz questão de um carro de dimensões pequenas para cidades grandes e acumula um bom dinheiro para gastar, sim. Concorrente direto, o Mini Cooper Pepper (o único das três versões básicas que aparece disponível no site da marca, com 122 cavalos e preço idêntico, na casa dos 90 mil reais) tem visual mais bonitinho e carismático, mas sem dúvidas é menos carro. O Cooper S, com 184 cavalos, está quase 40 mil reais acima dele na tabela. O Fiat 500 está um patamar abaixo em todos os aspectos, e o estiloso Citroën DS3 pode ficar parelho, se chegar ao Brasil.
Numa análise mais ampla, os outros adversários do A1 acabam sendo modelos um pouco maiores, como o Volvo C30 2.0 (145 cavalos, R$ 85 mil reais), o BMW 118 (136 cavalos, R$ 100 mil) e o próprio Audi A3 Sport (200 cavalos, R$ 110 mil).

A Audi parece acreditar que público do A1 seja um pouco mais informal e descolado, e pelo menos no começo das vendas, mostra que acertou o alvo: o A1 já teria 450 unidades encomendadas no país, segundo nossos parceiros do Notícias Automotivas, com uma fila de espera de três meses nas concessionárias mesmo antes dos primeiros exemplares serem entregues, a partir de Abril.  Só para comparar, todos os Mini Cooper juntos registraram 777 emplacamentos em 2010.
Se pudesse escolher, com qual deles você voltava para casa?

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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