Como um fã brasileiro está fazendo o Fiesta Sport que a Ford poderia ter feito

Apesar de ter feito dezenas de esportivos de rua marcantes a Ford nunca ofereceu seus famosos corredores no mercado brasileiro. Então qual a solução para quem curte um “Fast Ford”? Entrar na garagem, meter a mão na graxa e construir sua versão esportiva por conta própria.

Este Fiesta das fotos nasceu como um modesto modelo GLX 1.6 há distantes 12 anos, mas está sendo cuidadosamente modificado para tornar-se uma variação brasileira
Herbert Richers do Zetec-S europeu, a versão esportiva que ocupava o topo da linha da quinta geração do Fiesta.

Você talvez reconheça os para-choques e saias do modelo Sport nacional, uma série especial limitada em 1.000 unidades — das quais 800 eram GL 1.0 e 200 GLX 1.6 — vendida apenas no ano 2000 e com carroceria quatro-portas. Apesar do apelo esportivo no visual, o Fiesta Sport GLX usava o mesmo 1.6 Zetec Rocam de 96 cv das demais versões do hatch.

Aqui começa a história deste Fiesta “Zetec-S” brasileiro. O proprietário do carro, Tomás Andrade, conta que cresceu no banco de trás de modelos Ford e por isso foi natural sua procura por um Fiesta Sport GLX. O problema é que além de ser um modelo inflacionado, todos estavam muito rodados ou modificados, quando não bem judiados.

Diante da dificuldade em encontrar um modelo íntegro, Tomás decidiu fazer o que qualquer um de nós faríamos: montaria um Sport por conta própria.

Um dia, procurando o bodykit do modelo, Tomás descobriu o Zetec-S europeu (veja a foto abaixo) e todo o culto que os britânicos nutrem pelo modelo e por seu irmão em forma de cupê, o Ford Puma. O Zetec-S era o topo da linha Fiesta na época, uma versão “esportivada” que usava a primeira geração do motor Sigma 1.6 16v de 102 cv, e tinha freios mais potentes e suspensão mais rígida.

Assim como você deve ter pensado agora, ele também viu no europeu uma receita fácil de adaptar à realidade brasileira, e vislumbrando o potencial do projeto graxeiro, começou a procurar o carro que serviria de ponto de partida. Teria que ser um GLX 1.6 com ar-condicionado, direção hidráulica e vidros e travas elétricas, uma configuração não muito fácil de se encontrar e geralmente inflacionada.

A busca demorou três longos meses, e acabou por acaso, quando ele procurava sua segunda opção de carro — uma perua Megane GT — e encontrou um modelo GLX duas-portas com motor 1.6 com vidros e travas elétricas, porém sem direção hidráulica. Arrematou o carro por R$ 7.500 e começou a procurar as peças que precisaria.

A primeira delas foi o volante da versão Sport, com saliências para encaixar as mãos e acabamento de borracha perfurada, como nos antigos Escort XR3. Em seguida vieram o coletor dimensionado 4×1 e o raro jogo de rodas TSW Imola 15×7 na furação original da Ford (4×108), escolhidas a dedo por ser a cara das originais do modelo europeu.

Na primeira ida à preparadora BMA Performance de Blumenau/SC, Tomás pegou umas dicas sobre o upgrade de freios e suspensão e começou pelos detalhes. Ali o Fiesta trocou os discos dianteiros originais de 239,5 mm por um par de discos originais do Ecosport 2.0, com 278 mm, e os tambores traseiros originais deram lugar a um par de tambores do Focus 2.0, que também cedeu as pinças dianteiras. Também foi instalada uma tubulação de inox da Aeroquip, por onde circula o fluido Pentosin Racing Dot 4.

Os upgrades suspensão foram poucos, mas suficientes: quatro amortecedores a gás tipo coilover da Fênix com molas Fórmula que reduziram significativamente a rolagem da carroceria.

Mecânica afinada, dinâmica afiada, hora de cuidar do visual. Mas onde encontrar os para-choques do raríssimo Fiesta Sport? A Ford vendeu apenas 1.000 desses carros e isso foi há 13 anos. Nenhuma autorizada tinha as peças em estoque e em três semanas de busca tudo o que Tomás conseguiu encontrar foi um para-choque dianteiro quebrado. Assim mesmo, ele comprou a peça pensando em restaurá-la. Junto com o para-choque veio uma grade dianteira da Courier Sport, a mesma usada pelo Fiesta. Um bom começo, mas ainda faltava encontrar o spoiler traseiro, as saias laterais e o para-choque traseiro.

Foi lendo um post do Jalopnik sobre importação de peças que Tomás teve a ideia de procurar direto na origem do Fiesta Zetec-S: o Reino Unido. Mais especificamente o eBay britânico. Lá encontrou dezenas de peças retiradas do modelo inspirador, como o painel com fundo branco, marcação em milhas e quilômetros e computador de bordo, as soleiras originais de metal polido e o bodykit completo com para-choques, faróis de neblina, saias, grade e spoiler. Depois de trocar alguns emails com o vendedor para acertar o envio, ele arrematou as peças e fez a importação.

Com tudo no Brasil foi só montar as peças que finalmente deixariam o GLX idêntico ao Zetec-S europeu.

O projeto de Tomás, contudo, não acaba aqui. Sendo seu carro de uso diário, ele incluiu no pacote um sistema bacana de som, que inclui um sistema multimídia Pioneer AVH-2550 BT e o integrou com seu iPhone. Aqui Tomás se inspirou em outro post do Jalopnik, aquele no qual explicamos como transformar seu smartphone em um computador de bordo. Com um conector OBD2 ligado por wi-fi ao iPhone, ele agora tem uma tela com as informações da ECU no painel no maior estilo do Nissan GT-R.

A essa altura você deve estar pensando que é só um Fiesta GLX 1.6 quase stock fantasiado de esportivo, mas antes de você correr para os comentários, lembre-se que este ainda é um projeto em andamento. A segunda etapa, que começará em dois meses, envolve a remoção do Zetec Rocam 1.6 para abrir espaço para o Duratec 2.0, já encomendado. A intenção, segundo Tomás, é manter o Duratec em suas especificações próximas das originais do Focus, o que significa potência entre 145 e 150 cv e cerca de 20 mkfg de torque. Acho que vai ficar bem interessante para um daily driver.

Agora, depois de conhecer de perto esse carro e ver como ele foi modificado usando apenas peças de prateleira, tudo o que me vem à cabeça é: por que raios a Ford não fez o Fiesta Sport desse jeito?

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