19 de jun. de 2013

F-1:Mercedes será julgada nesta quinta por teste com a Pirelli; entenda o caso

Equipe será a primeira da F1 a passar pelo novo Tribunal Internacional da FIA; punições podem ir de uma mera advertência até a desclassificação do campeonato

Lewis Hamilton, da Mercedes, em Barcelona (Divulgação/Mercedes)Lewis Hamilton, da Mercedes, em Barcelona (Divulgação/Mercedes)

O dia 20 de junho de 2013 marcará o julgamento do mais recente caso polêmico da F1: o teste secreto feito pela Mercedes, entre os dias 15 e 17 de maio, a pedido da fornecedora de pneus da F1, a Pirelli. Naquele período, logo após a realização do GP da Espanha, a equipe alemã usou seu carro de 2013 para uma sessão de mil quilômetros, que serviu para o desenvolvimento dos compostos produzidos pela fabricante.

Tão logo o procedimento foi descoberto, durante o fim de semana do GP de Mônaco, duas equipes concorrentes – Red Bull e Ferrari – impetraram protestos junto à FIA (Federação Internacional de Automobilismo), alegando que a utilização do modelo desta temporada, o W04, vai contra as regras do campeonato, que exigem o uso de veículos “substancialmente diferentes” daqueles que estão participando do certame em vigor.

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A própria Ferrari, aliás, realizou o mesmo tipo de teste com a Pirelli, algumas semanas antes, também no circuito de Barcelona. Por isso, a escuderia italiana chegou a dar explicações à federação junto com a concorrente alemã, mas conseguiu se safar de qualquer sanção, pois argumentou ter disponibilizado um bólido de 2011 e uma equipe de mecânicos que nada tem a ver com a F1 em sua atividade. Assim, somente o da Mercedes foi encaminhado ao Tribunal Internacional da entidade. A oitiva de todas as partes envolvidas (Mercedes, Pirelli e FIA) está marcada para esta quinta-feira e pode ter desfechos imprevisíveis. Até o momento, não há qualquer indício sobre qual a severidade da punição que será aplicada aos germânicos, nem se eles de fato serão penalizados.
Para que você, leitor, possa entender um pouco melhor como funcionará o processo, o Tazio preparou um guia que explica passo a passo como será o julgamento, quem são os julgadores, quais os argumentos dos envolvidos e quais poderão ser os vereditos. Confira:
O TRIBUNAL E O SÉQUITO DO JULGAMENTO
É muito provável que você nunca tenha ouvido falar no tal Tribunal Internacional da FIA antes deste caso da Mercedes. E não é por menos. A instituição tem apenas dois anos e meio de vida, tendo sido criada no final de 2010, já sob a gestão Jean Todt, como parte de um novo padrão judicial adotado pela federação.
Portanto, é um tribunal que nunca julgou um caso com o apelo midiático do Testgate (como o assunto vem sendo chamado na imprensa europeia) e, justamente por isso, ainda não se tem uma ideia clara sobre qual será a postura do órgão no decorrer do julgamento.
A Ferrari, que também testou com a Pirelli, pouco antes da Mercedes, chegou a dar explicações à FIA, mas se safou de qualquer julgamento (Emilio Morenatti/AP Photo)
A Ferrari, que também testou com a Pirelli, pouco antes da Mercedes, chegou a dar explicações à FIA, mas se safou de qualquer julgamento (Emilio Morenatti/AP Photo)
Outros dois famosos escândalos dos últimos anos na F1, o Spygate (caso em que a McLaren foi acusada de espionar informações secretas do carro da Ferrari) e o Crashgate (batida proposital de Nelsinho Piquet no GP de Cingapura de 2008, para beneficiar o companheiro de Renault, Fernando Alonso) foram julgados pelo Conselho Mundial de Automobilismo, e culminaram em penas menos rígidas do que se poderia supor.
Atualmente, o novo tribunal conta com 12 membros, que não possuem qualquer vínculo com o corpo diretivo da FIA. O atual presidente é o britânico Edwin Glasgow, jurista que já fazia parte da Corte de Apelações da FIA e também é juiz do Comitê Disciplinar da Premier League (primeira divisão do futebol inglês) e do campeonato de Rugby da Inglaterra.
Para o julgamento da Mercedes, pelo menos três membros deverão estar designados, sendo que um será denominado o “presidente” da sessão. Entre os julgadores, não poderá haver ninguém com a mesma nacionalidade dos acusados (neste caso, alemães e italianos).
A própria FIA estará representada pelo presidente Jean Todt, que no entanto não terá nenhum papel julgador. Ele apenas externará o ponto de vista da entidade no caso. Já a Mercedes estará presente na pessoa do chefe Ross Brawn, que admitiu ter sido o responsável pela autorização do teste. Os diretores Toto Wolff e Niki Lauda não devem tomar parte. Do lado da Pirelli, vai responder o diretor esportivo Paul Hembery.
Ross Brawn será o representante da Mercedes no julgamento (Divulgação)
Ross Brawn será o representante da Mercedes no julgamento (Divulgação)
Antes do julgamento, o Tribunal Internacional já solicitou às três partes interessadas um relatório por escrito com suas argumentações. Nas oitivas, os julgadores irão confirmar, confrontar e tirar dúvidas a respeito do que foi colocado no papel, bem como tentar esclarecer pontos não explicados nos relatórios. Em caráter complementar – e caso seja considerado necessário pelo tribunal, obviamente -, também poderão ser ouvidas partes terceiras, como testemunhas, especialistas e até membros de equipes concorrentes que se consideraram diretamente afetadas pelo ocorrido (nesse prisma, representantes de Red Bull e Ferrari também poderiam vir a depor).
Passada essa fase, os julgadores anunciarão o prazo para divulgação do veredito e passarão a analisar todas as evidências. Segundo a própria FIA, o julgamento da Mercedes e da Pirelli deve ter sua sentença revelada de forma rápida, “tão logo seja possível”.
OS ARGUMENTOS DE ACUSAÇÃO E DEFESA
Apesar de o teste da Mercedes com a Pirelli ter sido secreto, e num primeiro momento representar uma burla à restrição de treinos privados ao longo do ano, a grã questão a ser avaliada pelo Tribunal Internacional da FIA não é sobre o caráter secreto ou não da ação, mas sim se a utilização do modelo de 2013 é uma burla às regras vigentes.
O artigo 22.1 do regulamento esportivo é claro quando diz que “qualquer teste em pista deve ser conduzido por competidores que não estejam no campeonato, e com a utilização de um veículo substancialmente diferente daquele utilizado no certame em curso”. Junto a isso, o item 22.4 estabelece que “nenhum teste em pista deve ser realizado entre o período de dez dias antes do início da temporada e o dia 31 de dezembro daquele ano”.
A Red Bull é a equipe que mais vem pressionando em favor de uma punição rígida à Mercedes (Divulgação/Mercedes)
A Red Bull é a equipe que mais vem pressionando em favor de uma punição rígida à Mercedes (Divulgação/Mercedes)
Se tais prerrogativas fossem seguidas à risca, tanto Mercedes quanto Pirelli certamente seriam punidas sem qualquer dúvida. A alegação das duas partes, contudo, está justamente no contrato que a fornecedora de pneus possui para atuar na F1.
O acordo da Pirelli com a FIA permite que a marca promova testes de mil quilômetros ao longo das temporadas e, mais ainda, autoriza-a a utilizar um “carro representativo” nessas sessões. Aí está o ponto nevrálgico de todo o embróglio: o que seria um “carro representativo”? Um modelo de 2013 se encaixaria nesse termo ou ele ainda deveria ter uma defasagem de pelo menos dois anos? Para além disso, há outro detalhe: mesmo que se englobe os veículos de 2013 no conceito de “carros representativos”, o contrato da Pirelli pode sobrepujar o regulamento esportivo da categoria?
Do seu lado, a Mercedes garante ter solicitado – e recebido – o aval da FIA para participar da sessão, enquanto a própria federação alega que, sim, deu a autorização, porém acreditando em um princípio de isonomia, ou seja, que o procedimento seria realizado com todas as equipes, não apenas a esquadra prateada. Como se vê, há uma série de conflitos de regras e pontos de vista. Caberá ao Tribunal Internacional dirimir todas essas questões para chegar ao seu parecer.
AS POSSÍVEIS PUNIÇÕES
Paul Hembery, diretor da Pirelli, defende que o teste feito com a Mercedes seguiu todos os padrões legais (Divulgação)
Paul Hembery, diretor da Pirelli, defende que o teste feito com a Mercedes seguiu todos os padrões legais (Divulgação)
Findo o processo, é hora de aplicar o veredito. De acordo com o estatuto da FIA, independente de um ente ter ou não a intenção de praticar uma infração, ele deve ser punido caso tenha infringido alguma regra. Isso, certamente, coloca o pêndulo mais para o lado do “culpado” do que para o do “inocente”.
Mas há outros fatores a se deliberar. A severidade da pena aplicada com certeza irá variar, na medida em que os julgadores considerarem que a Mercedes agiu deliberadamente para obter vantagem, ou simplesmente interpretou o regulamento de forma errônea. Veja quais são as possíves sanções, na ordem da mais branda até a mais severa:
- Advertência
– Multa
– Penalidade em tempo (em um resultado final)
– Exclusão (de uma etapa)
– Suspensão
– Desclassificação do campeonato
Além disso, a FIA também pode estipular a perda de todos os pontos obtidos pela equipe naquele campeonato, e até determinar a prestação de serviços comunitários.

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