17 de fev. de 2013

F-1:Prost: “Há coisas que Senna me disse que eu não diria a ninguém”

Tetracampeão diz que filme omitiu detalhes da relação entre os dois e que as palavras do rival a ele no GP do San Marino não foram espontâneas, e sim um arranjo da tevê francesa

Alain Prost e Ayrton Senna em dobradinha com o MP4/4 em 1988 (Foto: LAT)Alain Prost e Ayrton Senna em dobradinha com o MP4/4 em 1988 (Foto: LAT)
O roteiro do premiado documentário Senna, dirigido pelo inglês Asif Kapadia, ainda incomoda o tetracampeão e principal rival do brasileiro, Alain Prost.
Em longa entrevista à publicação “F1 Racing”, Prost esclarece com maiores detalhes o porquê de não concordar com a linha escolhida pelos produtores para contar sua relação com Ayrton Senna.

O francês revela, por exemplo, que concedeu quase oito horas de entrevista ao diretor, mas que seu depoimento não foi aproveitado da melhor forma. O pior disso: Kapadia criou uma atmosfera maniqueísta para o longa, em vez de narrar, na visão de Prost, “uma história fantástica no esporte”.

“Eu dei quase oito horas de entrevista. Falei muito mais sobre o lado humano, de modo que se entendesse como ele [Senna] era antes. Em contrapartida, também quis esclarecer que, quando me aposentei, vi um novo Ayrton Senna. É uma história fantástica no esporte, algo que acontece, sei lá, quatro ou cinco vezes em 50 anos. Ainda que ela tenha terminado mal para Ayrton, é realmente uma bela história”, declarou o francês.
“Mas o que não gosto de modo algum no filme – de modo algum – é que isso realmente não se desenvolve. Você só tem uma oportunidade de fazer um filme como esse, porque, uma vez feito, você nunca o fará novamente. Achei-o muito desagradável e triste. Se você quer fazer um filme comercial com um mocinho e um vilão, não organize nenhuma entrevista. Não me peça nada”, acrescentou.
Uma das coisas que mais irritaram Prost foi a forma como o documentário formatou no roteiro as últimas palavras públicas de Ayrton Senna, endereçadas ao francês.
No longa, a frase “Alain, sentimos sua falta” (no vídeo abaixo), dita em inglês pelo rádio de bordo da Williams momentos antes da largada do GP de San Marino, é retratada como uma espécie de trégua simbólica entre os rivais. Mas, para Prost, na verdade, Senna só disse isso por causa de um arranjo com a tevê francesa TF1, no que o tetracampeão classifica como uma má interpretação por parte dos produtores.


“Quando ouvi Ayrton falar algo como ‘Alain, sentimos sua falta’, algo organizado e arranjado pela tevê francesa [TF1], aquilo foi totalmente mal interpretado. Não poderia ficar feliz com isso”, declarou Prost, pouco depois de criticar a postura do rival dias antes do GP de San Marino de 1994.
“Tentei explicar [aos produtores de Senna] o que aconteceu uma semana antes de Imola, quando Ayrton me ligava quase todo dia. Há coisas que ele me disse que eu nunca falaria a ninguém. Eu nunca diria nada parecido com o que ele me disse durante aquela semana”, acrescentou.
Até hoje, não se sabe exatamente o teor das conversas entre Prost e Senna antes do GP de San Marino de 1994. Em algumas entrevistas, o francês já comentou brevemente a questão e disse que o brasileiro o queria de volta à GPDA (Associação de Pilotos de GPs). O restante do conteúdo, no entanto, é desconhecido.
Ainda sobre Senna, Prost disse que as condições impostas para sua participação no documentário não foram respeitadas por Kapadia.
“Quando eles [produtores do filme] falaram comigo sobre o longa, eles me perguntaram se eu queria fazer parte do projeto. ‘Claro, por que não?’, eu disse. A única condição – bem, não é uma condição, mas, para você entender, eu disse: ‘Seria fantástico se você mostrasse o Ayrton antes dele chegar na F1, como ele era na F1, lutando comigo ou contra mim, e Ayrton após minha aposentadoria. Se você fizer isso, uma mistura de esporte e histórias interessantes, mesmo quando ela se torna difícil, com as lutas e o aspecto humano, então será um grande filme. Porque é realmente algo inacreditável. Na minha opinião, uma história fantástica. Mas você precisa falar um monte de coisas que aconteceram após eu me aposentar.’”
Prost e Senna na McLaren, em 1989 (Foto: Divulgação)
Prost e Senna na McLaren, no fim dos anos 1980 (Foto: Divulgação)
Em resumo, Prost não se importou com o fato de ter sido retratado como vilão, e sim pela forma como a rivalidade foi colocada em segundo plano em favor de uma história que não é verdadeira.
“Não me importo muito com isso, porque… estou vivo, estou bem. Mas gostaria que todos soubessem quem foi Ayrton Senna, sobre o quê nossa luta se tratava, e também o que aconteceu no fim das contas”, disse o francês.
“Se você quer contar uma história, conte uma história verdadeira; não algo orquestrado como isso [apontando para a controversa cena de Senna]. Nossa história não termina em 1994. Nossa história vai durar para sempre. E você quer que ela conte a verdade… Estou mais irritado agora do que quando o filme foi lançado. Este é o motivo”, acrescentou.
Senna atinge Prost no GP do Japão de 1990 (Foto: Arquivo/Tazio)
Senna atinge Prost no GP do Japão de 1990 (Foto: Arquivo/Tazio)
Francês explica como foram as negociações da Williams por Senna em 1993
Prost também esclareceu à revista “F1 Racing” como se deram as negociações da Williams com Ayrton Senna para a temporada 1994 e disse que pediu ao proprietário da equipe para que ele e o brasileiro não corressem juntos numa mesma escuderia. O tetracampeão também relata como Frank Williams pediu, em meados de 1993, sua opinião sobre o acordo com o rival.
“No meio de 1993, quando tivemos discussões sobre [a contratação de] Ayrton, foi difícil para mim. Eu nunca havia pedido para ser o piloto número 1 ou o número 2. A única coisa que disse a Frank foi: ‘Vocês não terão Ayrton na mesma equipe [do que eu]’. Então no meio de 1993, Frank me chamou. Já sabia que a Williams estava sob pressão da Renault para contratar Ayrton”, relatou o tetracampeão.
Prost com a Williams (Foto: Divulgação)
Prost com a Williams em 1993 (Foto: Divulgação)
“Eu estava no sul da França e Frank veio me ver. Ele disse: ‘Estou pressionado, o que você pode fazer, como você vê isso?’. Eu disse: ‘Se vocês querem Ayrton, vocês escolhem. Quero competir contra Ayrton, não tenho problemas com isso, mas não numa mesma equipe. Quero ter a melhor chance possível para batê-lo”, acrescentou.
Na sequência, Prost disse à Renault que deixaria a Williams se a montadora francesa pagasse o valor total correspondente aos dois anos de contrato. “Eles me pagaram meu segundo ano de contrato e eu saí”, completou o francês.
Fonte: Tazio
 Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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