31 de dez. de 2012

2012: "choque de realidade" no automobilismo brasileiro

Copa Fiat: a última das sete mortes de categorias nacionais em 2012 (Duda Bairros/MF2)Copa Fiat: a última das sete mortes de categorias nacionais em 2012 (Duda Bairros/MF2)

Está chegando ao fim um ano emblemático para o automobilismo brasileiro. Não, 2012 não foi uma temporada de grandes conquistas, não há pilotos do país fazendo sucesso estrondoso no exterior (exceção ao título de Nicolas Costa na F-Abarth Europeia.
No mais, vivemos apenas alguns grandes momentos esporádicos de gente como João Paulo de Oliveira, Hélio Castroneves, Nelsinho Piquet e Augusto Farfus em suas respectivas categorias), muito menos qualquer sinal de revivescência fervorosa das competições internas.
2012 é um ano emblemático porque marcou a morte de nada menos que sete, isso mesmo, sete diferentes campeonatos disputados em âmbito nacional, fato que mais uma vez corrobora o momento frágil vivido pelas corridas de carro no Brasil. Coloque nessa conta a F-Futuro, o Audi DTCC, a Top Series, o Mini Challenge, a Copa Montana e, mais recentemente, Copa Fiat e R1 GP 1000.
Se fizermos um balanço das categorias que foram parar no catafalco este ano, veremos que estão no bolo os mais sortidos tipos de competição, como monoposto de base, turismo, motociclismo, monomarca, multimarca e endurance. Todas voltadas a estilos diferentes de evento, carros e pilotos, nenhuma vingada. Juntemos a essa lista a perda notória de espaço da Stock Car na TV aberta e o quase fim da F3 Sul-Americana. Em relação a esta última, aliás, o próprio conselheiro da Vicar, que promove o campeonato, Carlos Col, admitiu em entrevista ao Tazio que se trata de um evento comercialmente inviável. Só existe, ainda, porque continua a possuir relevância “estratégica”.
Largada da F3 Sul-Americana em Jacarepaguá: por muito pouco, categoria não foi a oitava na lista de "falecidas" em 2012 (Divulgação/Vicar)
Largada da F3 Sul-Americana em Jacarepaguá: por muito pouco, categoria não foi a oitava na lista de “falecidas” em 2012 (Divulgação/Vicar)
Antes de iniciarmos um apedrejamento público de entidades e entes, é preciso reconhecer que 2012 representou, antes de qualquer outra coisa, um grande “choque de realidade” no automobilismo brasileiro. É triste perdermos sete categorias? É. É triste ficarmos de vez sem um de nossos principais autódromos, graças à destruição definitiva de Jacarepaguá? Com certeza. Mas tudo de ruim que eclodiu neste ano é reflexo de um processo de descaso e desordem, lento e agonizante, que acomete o automobilismo brasileiro há um bom tempo. Nada deve ser encarado como mero acaso ou infelicidade.
Por um lado, temos a perda progressiva de popularidade do esporte a motor não só aqui, como também em todo o cenário internacional, algo reconhecido pelo próprio Carlos Col, em outro momento da mesma entrevista concedida ao Tazio. Depois, vemos diferentes “clãs” de empresários e investidores lutando ferrenhamente por migalhas, tentando emplacar mais de uma dezena de categorias diferentes em um país onde o público mal está acostumado a acompanhar uma. Por fim, encontramos uma confederação omissa e desorganizada, incapaz de criar uma diretriz sólida para recuperar o que ainda resta de nosso esporte a motor nos próximos anos.
O resultado é esta mesclaria de campeonatos que nascem sem identidade e morrem sem deixar legado. Exemplo disso está na própria CBA: neste fim de ano, a entidade simplesmente ignorou sua promessa de organizar as duas últimas etapas da extinta Top Series, que foi cancelada antes mesmo do fim da temporada de estreia. E ninguém reparou.
Top Series: nem a CBA lembrou que a categoria existiu no fim deste ano (Divulgação/Top Series)
Top Series: nem a CBA lembrou que a categoria existiu no fim deste ano (Divulgação/Top Series)
Sendo bem honesto, na atual conjuntura do automobilismo brasileiro, nosso país não está em condições de ter mais de dez campeonatos. É preciso que as picuinhas sejam aparadas e que se pense em uma reestruturação mais adaptada à nossa realidade. De que adianta ter 15 campeonatos nacionais esvaziados, fracos e desinteressantes? Não vale mais a pena planejar a sustentação de metade desse número, por enquanto, para só tentar alçar novos voos quando essas primeiras estiverem fortalecidas?
Mas é claro que acreditar em planejamento é um sonho distante demais. O que nos resta, por enquanto, é esperar que a eleição de 2013 da CBA possa representar alguma mudança efetiva na gestão de nosso esporte a motor, e que as categorias nascituras tenham melhor sorte que as recentemente extintas.
Para 2013, vêm por aí o Brasileiro de Turismo – nova categoria de acesso à Stock Car, criada pela Vicar e que não possui vínculo com nenhuma montadora -, o Lancer Evo R, capitaneado pela Mitsubishi e voltada aos chamados gentleman drivers, e o Touring Racing Cup, organizado por Paulo Gomes e formado apenas por modelos Subaru Impreza WRX. Terão elas vida mais longas que suas finadas colegas? Nesta terra de incertezas e pessimismo, que ao menos a nossa esperança consiga sobreviver.

Fonte: Tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
Comente está postagem.

Nenhum comentário: