5 de jul. de 2012

TopGear.com conversa com Alain Prost

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Não deve-se desperdiçar uma oportunidade de passar 20 minutos com Alain Prost. Tetracampeão mundial de Fórmula 1, vencedor de 51 grandes prêmios, dono de uma das pilotagens mais precisas já vistas, junto com uma abordagem ferozmente inteligente, quase forense, ao esporte a motor, o lendário status de Prost no esporte beira à devoção divina.

Como ele está cuidando de uma exibição local, organizada junto com a TAG Heuer, celebrando sua longa carreira, o TopGear.com arrumou uma poltrona confortável e conversou com o lendário piloto sobre a F1, Ayrton Senna e o GP da Inglaterra deste fim-de-semana.
TG.com: Então, qual a opinião do Alain Prost sobre o estado atual da Fórmula 1?
Alain Prost: Todos dizem que os carros não são tão bonitos, que as corridas não são tão legais. Eu discordo totalmente. Claro, eles não são tão bonitos quanto uma Lotus ou Matra antigas. Mas o esporte a motor tem que evoluir, e toda era tem suas vantagens e desvantagens. Pessoalmente, eu gostava dos carros com os pneus enormes, mas veja os detalhes da atual geração dos carros de F1… É algo inacreditável! Talvez na TV os carros que eu guiei tinham uma aparência mais agressiva ou eram mais “puros”, mas tecnicamente e em termos de detalhes, neste momento ela está ótima.
TG.com: A questão do desgaste dos pneus está dominando o esporte. É uma temporada meio atípica, não?
Prost: Não estou pilotando o carro, então é difícil dizer com certeza. Mas parece que o homem que normalmente cuida bem dos seus pneus – Jenson Button – não tem tido uma boa performance. Eu realmente não entendo. Parece que a janela ideal para fazer os pneus funcionarem é bem curta. A temperatura é um problema, o pacote aerodinâmico de certos carros parece ser um fator… Eu não sei. Eu converso com engenheiros de equipes diferentes e eles não entendem… E este é o meu único problema. Não gosto quando não consigo compreender. Quando você vê um carro perder 2 ou 3 segundos por volta de repente… (encolhe os ombros). Pediram à Pirelli para que criasse esta “indecisão”, mas talvez tenha ido longe demais. Uma equipe que possa ter uma vantagem no seu carro, que tenha feito um bom trabalho, talvez não faça um bom trabalho na pista por causa da pouca resistência dos pneus.
TG.com: E o DRS (asa-móvel)? Suspeito que você não seja um grande fã…
Prost: Não consigo gostar dela. Mas pelo menos ela cria mais agitação, mais ultrapassagens, mais “show”. A questão é, a F1 deveria ser mais técnica e mais aberta? Teremos motores e tecnologia novos em 2014 (quando o 1.6 V6 turbo chegar), mas aqueles que fazem um trabalho melhor deveriam ter uma vantagem. Se o meu motor é melhor, eu deveria ter uma vantagem na pista.
TG.com: E no sentido mais amplo?
Prost: Bem, perdemos um pouco da cultura da F1. Temos menos corridas européias, e mais corridas em outros lugares. Se têm-se menos cultura e tradição, cria-se mais ênfase no “show”. Este afastamento da Europa é algo bom? Não. Não há uma etapa na França, Spa está em dificuldades. Mas tendo dito isso, a F1 poderia ter entrado em colapso, então Bernie (Ecclestone) fez o certo para a F1. Veja a situação financeira neste momento. É difícil organizar corridas na Europa agora. Claro que Bernie lucra com tudo isso, mas as equipes recebem receita da cobertura televisiva e dos organizadores dos grandes prêmios. Então suspeito que, se tivéssemos apenas corridas européias, não teríamos 10 ou 12 equipes na F1. É uma transição, o começo de um novo ciclo. Talvez ela tenha acontecido muito rapidamente, mas é uma situação melhor ou pior? Eu acho que é melhor.
TG.com: A melhor coisa que qualquer esporte deve ter são dois grandes rivais, que se auto-definem, como você e Ayrton fizeram tão memoravelmente. O documentário ajudou a consagrar isso.
Prost: Claro, claro. Mas não posso ser positivo quanto ao filme. Eu sei a história sobre o Ayrton e eu… Obviamente sou o único que realmente pode julgar isso. (pausa) O filme não foi honesto. Eles gravaram mais de 10 horas de entrevistas comigo. Mas tive conversas com o Ayrton nos seus últimos dias que nunca contarei a ninguém. É o meu segredo, e quero mantê-lo para mim. Apenas direi que, no dia em que me aposentei, percebi que haviam quase três pessoas diferentes (no Ayrton) e pelo menos duas mentalidades diferentes. Eles queriam um mocinho e um vilão porque provavelmente faria o filme ser mais “comercial”. Não posso considerar este filme como um filme bom. Depois que eu me aposentei, Ayrton conversava comigo todas as semanas, às vezes mais. Me perguntava sobre o carro, sobre a Williams, sobre tudo…
TG.com: Tem algumas lembranças especiais do GP da Inglaterra?
Prost: As minha melhores lembranças são do traçado antigo de Silverstone. Essa era uma pista que eu realmente adorava. Era realmente particular. Nós saíamos de Mônaco e chegávamos em Silverstone e tínhamos que mudar tudo, era um carro diferente. Eu gostava disso. Ajustar o carro para curvas bem rápidas – tecnicamente era bem interessante. A Reta do Hangar e a Club… Essas eram umas das curvas mais difíceis da F1. Eu lembro que Nigel (Mansell) ganhou uma corrida lá e eu não conseguia passar pela multidão com o meu carro. Isso nunca aconteceu na França. Eu sentia um pouco de inveja, por não termos esse tipo de fãs…

Fonte: topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com
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