22 de jan. de 2012

“Ninguém quer sair da F-Nippon para pagar na F1”, diz JP Oliveira

Contudo, brasileiro acredita que categoria japonesa é boa escola para jovens pilotos

Bruno Ferreira, de São Paulo
João Paulo de Oliveira em Motegi (Brian Simpson/IndyCar)
O piloto brasileiro João Paulo de Oliveira acredita que a F-Nippon, categoria de monopostos do Japão, tem condições de preparar competidores para a F1 tão bem ou até melhor do que a GP2.
Oliveira, de 30 anos, compete no país asiático desde 2004, tendo conquistado o título da F3 Japonesa, em 2005, e da própria Nippon, em 2010. Segundo o paulista, o regulamento da categoria, com corridas mais longas e reabastecimento obrigatório, além dos próprios carros tecnicamente evoluídos, se assemelha bastante ao da F1.

Contudo, argumentou, o que impede a mudança de pilotos para a categoria é o fator financeiro. “Ninguém quer sair de lá [F-Nippon] para ter que pagar na F1”, comentou Oliveira, em entrevista ao Tazio Autosport.
Em 2011, Oliveira terminou o campeonato da F-Nippon na terceira posição, atrás da dupla da Tom’s Toyota, Andre Lotterer e Kazuki Nakajima. Já no Super GT, correu ao lado de Tsugio Matsuda e ficou em quinto lugar na tabela.
Além disso, Oliveira fez uma etapa da IndyCar, em Motegi, pela Conquest. Largou em 12º lugar, mas não conseguiu completar a prova por conta de problemas mecânicos.
Confira a entrevista completa com João Paulo de Oliveira:
O que você achou de seu desempenho em 2011?
Foi um ano de muitas dificuldades. Nossa equipe teve algumas dificuldades na adaptação ao novo regulamento da F-Nippon, que era diferente em relação ao do ano anterior, com obrigação de se fazer dois pitstops, com o novo composto de pneus. Foi um ano de adaptação, onde a equipe Tom’s Toyota teve vantagem para nós em relação a isso. Fiquei em terceiro no campeonato, atrás dos carros deles, mas pelo menos no final do ano aprendemos um pouco mais.
No GT eu fiquei em quinto, em um ano que eu diria que foi satisfatório. Tínhamos potencial para vencer o campeonato se não fosse alguns erros de escolha na construção de pneus. Nas três últimas corridas do ano, fizemos escolhas ruins, o que acabou por nos prejudicar.
Antigamente, a F-Nippon revelava nomes para a F1, como os casos de Ralf Schumacher, Pedro de la Rosa e Ralph Firman. Agora, isso aparenta ter mudado, com alguns pilotos fazendo o caminho inverso, como o Kazuki Nakajima, que saiu da F1 e foi para a F-Nippon. Hoje, qual é o papel da F-Nippon no cenário internacional?
Uma categoria como a F-Nippon, que tem o carro tão avançado tecnicamente, é tão ou mais rápida do que a GP2. Então, é uma categoria fortíssima, com corridas de 250 km de distância, incluindo trocas de pneu e reabastecimento. É uma categoria que, como escola, é mais próxima da F1 do que a GP2. É uma formação excelente para um piloto chegar à F1.
Mas a F1 mudou muito hoje em dia. Hoje, você chega com um saco de dinheiro e anda – não tem essa de você ser um fenômeno e chegar. A realidade é outra, os tempos são diferentes. O Japão vem passando por um período de adaptação em termos de automobilismo e pilotos pagantes. Isso começou na F1 e está começando a se expandir para outras categorias.
Então, por que poucos pilotos saem da F-Nippon e vão para a F1, ao contrário do que acontece com a World Series e a própria GP2?
Acho que não tem nenhum piloto hoje na F-Nippon tem a capacidade financeira para sair de lá e ir para a F1. A F-Nippon não tem o mesmo fator financeiro do que a GP2 – lá, você precisa de US$ 2 milhões para competir, enquanto na Nippon, a maioria é profissional pago. Essa é a diferença. Ninguém quer sair de lá [F-Nippon] para ter que pagar na F1. Enquanto isso, na GP2 há pilotos pagantes, com patrocinadores e investidores, que trabalham com o objetivo de ver este piloto na F1. São realidades completamente diferentes. É uma categoria profissional e uma amadora.
Como você posiciona o GT japonês em relação às demais categorias do mundo?
O GT é uma categoria com carros muito, muito bons, com competição forte entre Toyota, Honda e Nissan. Temos um nível muito alto em termos tecnológicos. E os pilotos são fortes – o Andre Lotterer e o Benoit Treluyer correram nas 24 Horas de Le Mans, com a Audi, e venceram a corrida. Eles têm um nível tão forte quanto o nível que está na Europa. É um belo exemplo para o automobilismo japonês.
Você consegue conciliar duas categorias em um mesmo ano. Como isso funciona para você, tanto em termos financeiros quanto de logística?
Em termos de logística, as duas categorias têm calendários feitos já adaptados para que os pilotos possam participar das duas categorias. Alguns estrangeiros fazem a mesma rotina eu faço. Outro fator lá é que o piloto é contratado pela fábrica da montadora para correr o GT, sendo que a fábrica encaixa este piloto em algum time da F-Nippon a critério deles. Mas o salário, mesmo, vem da categoria GT.
E a sua estreia na Indy, lá mesmo no Japão? O desempenho que você mostrou naquela corrida atingiu as suas expectativas?
Foi uma experiência muito bacana, muito valiosa. Tive uma participação boa, com a melhor classificação da equipe no ano inteiro. Não esperava nem passar do Q1, porque é uma categoria muito forte e competitiva. No Q2, fiquei com o 12º tempo. Na corrida, tive boas chances de chegar até entre os cinco primeiros, mas tive um problema com a bomba de combustível que me deixou pelo caminho.
Como essa oportunidade surgiu para você?
A equipe entrou em contato comigo porque não tinham um piloto para aquela etapa. Eles sabiam que eu tinha vencido a última bateria da F-Nippon por lá e me chamaram para correr. Eu aceitei, lógico, e entrei de cabeça!
E o que você achou daquele carro, até mesmo em comparação a tudo o que você já guiou?
É um carro muito diferente daquele que guio na F-Nippon. A aderência é muito menor, até mesmo pelo pneu que eles usam. É um carro mais pesado, mais difícil de frear do que o F-Nippon, que é mais ágil e possibilita frear mais dentro, ir mais rápido em curvas de alta.
O que você planeja para seu futuro em longo prazo? Até que ponto da sua carreira você pretende ficar no Japão?
Vou ficar no Japão. Provavelmente farei uma renovação mais longa – pode ser três, cinco, dez anos. Não sei exatamente quando eu sairei de lá e voltarei ao Brasil, mas, nesse momento, é difícil de sair.

Fonte: tazio
Disponível no(a):http://tazio.uol.com.br/
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