28 de jan. de 2012

Guerra-Este Mercedes-Benz ajudou a matar um general nazista


Quando uma dupla de assassinos tchecoslovacos atacou um dos líderes mais sinistros da Alemanha nazista em maio de 1942, em Praga, eles estavam armados com submetralhadoras e minas anti-tanque. Mas mesmo isso não foi o bastante. Para completar a Operação Anthropoid e matar Reinhard Heydrich, Jan Kubiš e Jozef Gabčík precisaram de uma pequena ajuda do Mercedes favorito do Oberguppenführer da SS – e alguns micróbios de seu estofamento.

Reinhard Tristan Eugen Heydrich – o tipo de nome que você recebe quando seu pai é um compositor apaixonado pela música de Wagner e pela Alemanha – não era um nazista típico. No meio dessa escória, havia foliões como Hermann Göring, sociopatas burocráticos como Adolf Eichmann e havia Heydrich, que parecia um filho bastardo de Tilda Swinton e um predador alien, e que acabou tornando-se o chefe da Gestapo ao fazer 30 anos, depois de anos tumultuados como ativista da direita e marinheiro mulherengo.
Ele tinha uma personalidade aterrorizante e hipnótica, e tinha vários apelidos como “Cérebro de Himmler”, e o “Anjo Loiro da Morte”.
Heydrich estava no topo do serviço de segurança da Alemanha nazista após assinar com a SS em 1931. Quando a Segunda Guerra Mundial estourou – após um falso ataque polonês às tropas alemãs organizado por Heydrich – ele se tornou o chefe do Escritório de Segurança Geral do Reich, uma organização que combinava a ala de inteligência da SS, a Gestapo e todos os outros tipos de departamentos do mal.
No final de 1941 Heydrich foi enviado a Praga como Protetor da Boêmia e Morávia, a parte industrial da então Tchecoslováquia cujas fábricas eram essenciais para a campanha de guerra nazista, produzindo maquinário como motores de tanque e motos de neve. Protetor, no caso de Heydrich, traduziu-se como condutor de uma onda de terror, rendendo-lhe mais outro apelido: o Carniceiro de Praga.

Foi nessa época que o governo da Tchecoslováquia exilado na Inglaterra decidiu assassiná-lo. A Operação Anthropoid, como foi batizado o programa, era um pesadelo moral e organizacional. Os tchecos sabiam que um assassinato bem sucedido resultaria em uma retaliação brutal da Alemanha, mas também poderia resultar em mais respeito aos tchecos, já que nenhum líder nazista do escalão de Heydrich havia sido ameaçado até então.
Depois havia a questão de encontrar e treinar os homens para o trabalho. Não seria possível contar com os locais, já que um dos talentos de Heydrich era infiltrar e enganar, e a resistência tcheca estava comprometida em todos os níveis. Em um elaborado treinamento baseado na Inglaterra, dois soldados foram selecionados para o trabalho por František Moravec, o chefe do serviço de inteligência em exílio: o tcheco Jan Kubiš e o eslovaco Jozef Gabčík.
Kubiš e Gabčík foram levados à Tchecoslováquia pela RAF em dezembro de 1941, cientes de que esta seria uma viagem só de ida. No fim daquele ano a Alemanha nazistas estava no auge de seu poder, e não haveria um jeito de fugir. Kubiš e Gabčík estavam por conta própria. Não havia comunicação entre Praga e o governo exilado em Londres. Muitos meses se passaram, até que em maio de 1942 veio a notícia de que Heydrich havia sido ferido em um ataque.
Kubiš e Gabčík perceberam ao longo dos meses a arrogância de Heydrich. Ele era tão confiante em seu poder absoluto sobre a Tchecoslováquia que rodava pela cidade em um Mercedes 320 B conversível, sem guarda-costas. Os futuros assassinos estudaram sua rotina e identificaram uma curva lenta próxima a uma parada de bonde. Na manhã de 27 de maio de 1942 eles atacaram.

Em seu Mercedes conversível, Heydrich foi atacado inicialmente por Gabčík, cuja metralhadora Sten emperrou. Em vez de fugir rapidamente, Heydrich ordenou ao motorista que parasse o carro e tentou atirar em Gabčík. Kubiš então arremessou uma mina anti-tanque no Mercedes, que explodiu com o impacto, atingindo Heydrich e Kubiš com estilhaços. Heydrich entrou no carro e continuou atirando em seus assassinos antes de cair. Seu motorista perseguiu Gabčík e Kubiš, que conseguiram escapar.
Os ferimentos de Heydrich não pareciam sérios. Ele foi operado pelo médico pessoal de Heinrich Himmler, o futuro criminoso de guerra Karl Gebhardt, e parecia se recuperar bem quando subitamente piorou e entrou em coma. Foi o Mercedes. Partes do estofamento (provavelmente carregado de sujeira dos traseiros nazistas) haviam sido rasgadas pela granada anti-tanque e atingiram Heydrich, causando infecção bacteriana generalizada.
Em 4 de junho o Carniceiro de Praga estava morto, assassinado por dois corajosos oficiais, um carro batizado em homenagem à neta de um rabino e pela política alemã: Ernst Boris Chain, o bioquímico que recebeu o Prêmio Nobel por descobrir as propriedades terapêuticas da penincilina (que poderiam curar Heydrich) era um judeu alemão que deixou o país quando os nazistas assumiram o poder.
Não houve final feliz. Milhares foram presos e assassinados pelos nazistas depois da morte de Heydrich. A cidade de Lidice e a vila de Ležáky sofreram o que o general romano Cipião fez a Cartago: tudo destruído e todos mortos. Jozef Gabčík e Jan Kubiš fugiram para a igreja Karel Boromejsky em Praga, onde se esconderam por três semanas até serem traídos por um colega paraquedista tcheco. Depois de duas horas de tiroteio com a SS, Kubiš foi morto e Gabčík tomou seu cianureto.

Reinhard Heydrich estava morto, mas seus planos, não. Quatro meses antes de seu assassinato ele organizou uma reunião de 90 minutos no subúrbio berlinês de Wannsee onde decidiu o destino dos judeus da Europa: assassinato em massa. No terrível verão da morte de Heydrich, os primeiros campos de extermínio começaram a funcionar na Polônia. Quando a Operação Reinhard – a primeira fase do Holocausto – foi encerrada em novembro de 1943, mais de dois milhões haviam sido assassinados.
 

Fotos de época: Deutsches Bundesarchiv. Pintura de Heydrich: Katarzyna P.
Fonte:jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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