26 de jan. de 2012

Fórmula 1: John Love: quando um 2º lugar é comemorado como vitória


Arquibancada lotada em Kyalami para torcer para Love. Público de 1967 é recorde histórico
Correr em casa é sempre um grande prazer para um piloto. Com a torcida apoiando e gritando seu nome, a sensação realmente deve ser diferente. Mas tudo isso se torna ainda mais especial quando você quase vence uma corrida com um carro defasado, de motor menor e contra tudo e todos. Superação e sorte são as palavras que mais representam esta história.

Nascido na Rodésia, hoje o atual Zimbábue, John Love foi fazer carreira na Europa lançado pelo saudoso Ken Tyrrell, que abriu uma vaga em seu time no campeonato de Fórmula Junior de 1961. Aclimatizando-se, no ano seguinte já se sagrou campeão britânico de carros de turismo, campeonato que até hoje continua sendo disputado (BTCC). Sua vitória com um Mini Cooper impulsionou sua carreira para a Fórmula 1, mas quando estava pronto para adentrar no campeonato, um acidente em Albi deixou seu braço gravemente fraturado.
Após passar dias no hospital, teve que retornar para a África do Sul – onde vivia sua família – para continuar o tratamento. Mesmo assim, e contrariando recomendações médicas, conseguiu forças para montar uma pequena equipe e comprar um velho chassi da Cooper para correr o Grande Prêmio da África do Sul daquele ano. Nos anos seguintes as únicas aparições de Love foram por lá.
Em 64 surgiu uma chance de correr com a equipe oficial da Cooper no Grande Prêmio da Itália em Monza. Phil Hill estava se recuperando de um grave acidente no GP da Áustria e a vaga abrira-se para Love, mas mesmo pilotando um carro que havia colocado Bruce McLaren no pódio naquela temporada (Bélgica), Love não conseguiu se classificar para o grid de largada.
Abatido, no ano seguinte voltou a tentar correr seu GP caseiro, mas com um carro muito antigo não conseguiu nada. Sua carreira no Campeonato Mundial de Fórmula 1 parecia ter acabado.
Desencanando, Love comprou um Cooper T79 e partiu para competir novamente no Campeonato Sul-Africano de Fórmula 1 (sim, eles tinham um campeonato próprio). Love já havia se sagrado campeão em 64 e 65 e com seu novo bólido não teve dificuldade de vencer a edição 1966 do torneio, com sete vitórias, oito pódios e 13 pontos à frente da concorrência.

Pista estava muito crua e provocou muita confusão para os pilotos
Com a estreia de Kyalami na Fórmula 1 (antes as provas eram diputadas no circuito de East London), Love se mostrou mais animado e empolgado, mas mesmo assim não quis – ou não pôde – modificar seu carro próprio da F1 sul-africana. A Fórmula 1 européia agora permitia carros com motores de até 3,0 litros de capacidade. O T79 de Love era adaptado para o campeonato local e possuía apenas 2,7 litros.
O conhecimento do novo circuito que a Fórmula 1 visitava pela primeira vez ajudou, e o peso mais leve de seu bólido também. Com três dias para aclimatização de treinos livres, Love ficou bem posicionado no pelotão de classificação. Um adendo a se informar é que, como era a primeira etapa do mundial, equipes como a Ferrari e a McLaren não vieram competir, e a maioria das equipes correram com os antigos carros da temporada de 66.
No dia do treino classificatório, Love empurrou seu Cooper até a quinta colocação, ficando atrás de Jack Brabham, Denny Hulme, Jim Clark e Pedro Rodriguez.

Rodriguez pilotava com um enorme motor de 12 cilindros enquanto Love guiava um de apenas quatro
Para a corrida, um público impressionante lotava a renovada Kyalami para assistir ao maior espetáculo automotivo da terra. Milhares e milhares de sul-africanos aglomeravam-se nas bordas da pista para torcer para Love, mesmo com a corrida sendo disputada em uma segunda-feira.
Mas na largada tudo encaminhava-se para acontecer como no passado. Love caiu para décimo em virtude de uma péssima largada, e com o enorme calor que fazia em Midrand, a situação encontrava-se ainda mais complicada para ele.
Só que o sol que brilhava para Love brilhava para os outros pilotos também. Tanto calor que fez surgirem nuvens ameaçadoras sobre o autódromo. E com a forte chuva que caiu de domingo para segunda, o emborrachamento da pista estava parco.
Com uma pista pouco aderente e o calor que massacrava tanto pilotos como máquinas, um a um de seus adversários foram sucumbindo. A primeira vítima foi Jackie Stewart, que estourou seu motor ainda na volta dois e derramou um rio de óleo na pista. Graham Hill foi pego de surpresa, rodou com a pista escorregadia e caiu para quinto atrás de Hulme, Surtees, Brabham e Rodriguez.
Em uma pista pouco aderente, Surtees sofria para controlar seu carro e Rodriguez tentava contornar um problema de câmbio. Enquanto Clark e Rindt saiam por problemas de motor, Love incrivelmente já figurava em terceiro logo atrás de Brabham e Hulme.

John Love já possuia 42 anos e continuava pilotando normalmente
Na liderança isolada, Hulme ficou ainda mais tranquilo quando Brabham teve problemas na ignição de seu carro e abandonou. Nesta altura do campeonato Love já aparecia em segundo com um carro muito defasado e com motor menor. A torcida local estava eufórica ao ver o desempenho do filho de sua terra.
Pedro Rodriguez já montava-se em terceiro, mas com seu problema mecânico era incapaz de pressionar Love.
Mas foi nas voltas finais que o público presente em Kyalami sentiu mesmo a emoção. Hulme errara uma freada fácil e isso era um indício de problemas nos freios. E foi por causa deles que o neozelandês entrou nos pits na volta seguinte. Uma longa parada para arrumar o carro de Hulme elegeu Love como o novo líder do Grande Prêmio da África do Sul de 1967.

Os torcedores iam à loucura com a passagem do líder local pela bela Kyalami. Com uma tocada segura, ele vinha desbancando todos os pilotos de Fórmula 1 com um carro de baixa potência e adaptado para correr em outra categoria. Seria o suprassumo se Love conseguisse essa vitória, mas nem tudo foram flores.
Faltando apenas sete voltas do fim, os tanques de combustível adaptados para a corrida provaram não serem feitos para durar o GP inteiro. Love, para desespero daqueles que lotavam o autódromo, começou a andar lentamente e com o carro engasgando. Não havia mais combustível no tanque.
Nos giros finais o sul-africano foi obrigado a parar nos pits para reabastecer. Como naquela época colocar alguns litros de combustível demandava um tempo enorme, nosso protagonista voltou 30 segundos atrás do caquético carro de Rodriguez, que venceu a corrida onde todos os pilotos enfrentaram problemas e onde o maior dos azarões quase venceu.
Apesar de tudo, este segundo lugar foi comemorado como uma vitória pelo público, assim como o segundo lugar de Emerson Fittipaldi com o Copersucar no Brasil em 1978 e o terceiro de Maurício Gugelmin em 1989.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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