29 de dez. de 2011

VW Black Gol: o “lado negro” comedido

Aceleramos a série de 800 unidades que tem apelo de imagem, mas peca na mecânica
Texto e fotos: Diogo de Oliveira
Editora Globo
Black Gol terá 800 unidades e aposta numa imagem esportiva, embora seja equipado com o motor 1.0 flex
Série especial da Volkswagen com o nome Black normalmente deixa a gente animado. Foi assim, por exemplo, com o Golf Black Edition, em 2009. Afinal, além do visual nervoso, o Golf “preto” vinha com motor 2.0. Dessa vez, porém, as coisas não são bem assim. A montadora acabou de lançar a série limitada Black Gol. O visual esportivo está lá!
Mas o modelo, que custa a partir de R$ 34.320, foi criado sobre a versão básica, equipada com o velho motor 1.0 8V flex. É uma forma de manter viva a atenção sobre o hatch, que no primeiro semestre de 2012 deve passar por uma reestilização. O modelo mais vendido do país vai ganhar visual dianteiro parecido com o do Fox.

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Destaque da série limitada são as rodas de liga leve aro 14 pintadas na cor grafite; lanternas são escurecidas
Na prática, o Black Gol é esteticamente viril. Suas rodas de liga leve aro 14 na cor grafite (e calçadas com pneus 185/65) encantam os olhos. Atrás, as lanternas escurecidas também ressaltam, combinadas à carroceria preta e ao aerofólio integrado ao teto, com leds das luzes de freio embutidos. Em resumo, o visual “sombrio” impressiona.

Mas será o Black Gol quente ao volante? Quando uma das 800 unidades limitadas da série chegou à garagem de Autoesporte, essa pergunta me veio à cabeça. Mas a verdade é que eu já sabia a resposta: não. O motor 1.0 flex e seus 72/76 cv de potência (gasolina/álcool) aos 5.250 rpm não seriam suficientes para muita diversão. Tampouco o torque (9,7 e 10,6 kgfm, respectivamente), liberado sempre aos 3.850 giros.

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Faróis de neblina são de série, assim como os adesivos da versão, mas faltaram as máscaras negras nos faróis
Interior é o pedaço mais sedutor

Mesmo sabendo que o Black Gol não teria tanto apetite, entrei na cabine curioso. Isso porque o acabamento preto, especialmente no teto, costuma mudar as sensações a bordo. E não deu outra: apesar de simplista, o Black Gol transmite impressão de maior requinte. Os detalhes prateados no painel e o cluster de luz no teto também reforçam esse “feeling”.

Da mesma forma, os bancos também chamam a atenção, com tecido estilizado e a inscrição Black Gol bordada nos encostos. As espumas são muito duras, e os assentos, estreitos, apesar dos apoios laterais eficientes. Tudo ia muito bem, não fosse um detalhe crucial (que confirmou a falta de um motor mais potente). Lá estava o volante nada ergonômico e insosso do Gol de entrada, uma peça contraditória.

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O painel é o mesmo dos outros Gol, mas o teto é preto e os bancos têm tecidos estilizados com o nome BlackGol
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Instrumentos são legíveis e atraentes
Então veio a certeza de que a Volkswagen se equivocou ao desenvolver uma versão com aquele volante e o motor 1.0 flex. Com um nome desses, o Black Gol merecia bem mais. Como não poderia esperar muito do desempenho, saí com o hatch rumo ao Rio de Janeiro de olho no que ele poderia oferecer. Ou seja, restava apostar na economia de combustível.

Palmas ao equilíbrio e ao consumo

Como toda série especial, o Black Gol vem de fábrica com alguns equipamentos considerados essenciais hoje em dia. Um deles é a direção hidráulica, outro o sistema de som com Bluetooth e entradas USB e cartão SD – para encarar os quase 1.000 km entre ida e volta, eu precisava de boa música! Outro item interessante é a chave do tipo canivete – pena a abertura elétrica da tampa do porta-malas só poder ser feita a partir dela.

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Painel tem detalhes metalizados, bancos exibem o nome e o câmbio manual de cinco marchas tem engates precisos
Som ligado, tanque cheio e hodômetro zerado, parti da capital paulista em direção à rodovia Presidente Dutra. Eu já havia dirigido o novo Gol (G5) outras vezes, mas novamente o equilíbrio dinâmico me encantou. Sua base estrutural, adaptada do Polo, tem uma rigidez acertada, que transmite segurança. A suspensão reforça essa postura mais firme sobre o asfalto. O Gol transmite solidez.

O problema é que o motor não acompanha essa capacidade e nossos números confirmam. Para arrancar de zero a 100 km/h, foram necessários 17,2 segundos, e para retomar de 60 a 100 km/h, longos 16 segundos (4ª marcha). Outra referência é a máxima de 152,2 km/h. Diante dos resultados, o consumo é um alento que se converte na principal qualidade do Black Gol: média combinada de 12,1 km/l (etanol, entre cidade e estrada).

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Apesar do visual sugestivo, o Black Gol não oferece um bom desempenho; zero a 100 km/h leva 17,2 segundos

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                                                           Porta-malas razoável comporta 285 litros
Confesso que, se não tivesse pisado tão fundo no pedal do acelerador, eu provavelmente teria “queimado” somente um tanque (meio para ir, meio para voltar). Mas a estrada estava vazia, e o rock’n’roll de elevado nível que saía dos alto-falantes me estimulava a abusar um pouco mais do carrinho. Quando cheguei, estava satisfeito (ainda que os bancos muito duros tivessem maltratado bastante minha coluna cervical!).

E vaias ao preço...
No fim, o Black Gol se mostrou um carro surpreendente, preciso nos movimentos do volante, no equilíbrio em curvas e retas e no acabamento escuro. Contudo, fui pego de surpresa no “último ato”. Liguei para a Volkswagen para saber dos preços e, da forma como chegou (com ar-condicionado, ajustes de altura e profundidade do volante, sensor de estacionamento, airbags frontais e freios com ABS), seu preço vai a salgados R$ 42.640.

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Motor 1.0 8V flex não oferece arrojo, mas consumo foi ótimo, com média combinada de 12,1 km/l
A montadora explica que, na verdade, as unidades à venda nas lojas não são tão bem equipadas – com tudo que é possível instalar, como na unidade em testes. Os próprios concessionários encomendam um pacote mais básico (com ar e os ajustes do volante). Assim, a série custa próxima de R$ 37 mil. Só que o Black Gol é equipado com o motor 1.0. E, dessa forma, toda a “aura” sugestivamente esportiva fica apenas na imagem.
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Moral da história: o Black Gol é um carro de imagem sem uma mecânica forte e com preço um tanto salgado, mas que oferece um requinte a mais a bordo e um consumo interessante no dia-a-dia na cidade

Fonte: revistaautoesporte
Disponível no(a):http://revistaautoesporte.globo.com/

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