2 de jul. de 2011

Daimler Double Six 50 Corsica Drophead Coupe



Considerem-se avisados. Qualquer um que não concordar com a indicação do Daimler Double Six 50 Corsica Drophead Coupe à Garagem dos Sonhos será sumariamente banido, sem chance de recorrer da decisão. Sayonara, auf wiedersehen, podesquecêrapá. [Nem tanto, mas deu pra entender].

Olha só para isso! Estou rachando a cabeça para tentar me lembrar de algum carro que talvez, com alguma boa vontade, tenha metade do seu charme. E não encontrei nada do tipo. O Maybach Exelero parece desengonçado, cômico e até infantil perto dele. O Volga V12 Coupe? Melhorou, mas ainda não chegou lá. Citroën Traction Avant? Nem perto. Ferrari 250 GT Pininfarina Coupe 1958 preta? Quase, mas ainda bem distante. Não, vamos deixar isso para lá e oficializar. Em estilo os outros carros nem chegam perto. É como se Scarlett Johansson tomasse um banho de sol na ilha de Lesbos por volta de 1969. Ver o carro de qualquer ângulo é como caminhar na direção de Monica Bellucci enquanto ela se curva para arrumar o sapato. Nós passamos a semana olhando fotos e mais fotos dos roadsters mais estonteantes e acabamos voltando a ele.

O Double Six (até o nome tem um charme todo especial) é tão único que mesmo que espiássemos sob o capô com três metros e encontrássemos o 1.0 do primeiro Uno Mille, não faria diferença. Mesmo que fosse movido por um poodle rosa em uma daquelas geringonças para ratos, ainda teríamos espaço para o Double Six na Garagem.
O nome “Double Six” não surgiu por acaso. O modelo é equipado com um V12 7.1. Apesar dos 150 cavalos parecerem poucos para tantos litros, em 1931 isso era mais do que a concorrência (Rolls Royce) tinha. Mais do que isso, o tipo de motor usado tinha um torque monstruoso. Uma vez descreveram como o torque imediato de um motor elétrico.
Só há um porém. Este Double Six não é alemão; é britânico. Por sinal, a Daimler é a marca mais antiga na Grã-Bretanha.
A Daimler que nós geralmente conhecemos é, ou melhor, era a Daimler Motoren Gesellschaft, ou DMG. Esta empresa era liderada por Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, os pais de boa parte do que vocês leem por aqui, que inventaram coisas como o motor quatro tempos e o carburador. E ainda que os dois acreditassem nessa coisa chamada carro, seus investidores não compartilhavam da opinião. Assim, ao invés de produzir veículos para exportação, a DMG licenciava sua tecnologia de motores para empresas na França, Áustria, Reino Unido e os Estados Unidos (curiosidade: a Steinway, que hoje fabrica pianos, detinha os direitos da marca nos EUA). É por isso que existem Daimlers franceses.

Um fabricante britânico de trens chamado Fredrick Simms aproveitou os direitos sobre as patentes e começou a construir o motor de Daimler no Reino Unido sob o nome “The Daimler Motor Syndicate Ltd.” Simms, como a DMG, continuou a usar o motor não em carros, mas barcos. Foi preciso a visão de Harry J. Lawson para ver o potencial de se usar os motores em veículos para o solo, sem trilhos. O único problema era que na época, qualquer veículo trafegando por uma das estradas de sua Majestade precisava ter uma pessoa à frente agitando uma bandeira vermelha.
Acontece que Lawson era um cara muito influente, e conseguiu que aumentassem o limite de velocidade para alucinantes 23 km/h em 1895. Enfim, aconteceram diversas outras coisas e, no dia 14 de janeiro de 1896 foi fundada a Daimler Motor Company Ltd. E é por isso crianças que o Double Six 50 Corsica Drophead Coupe vem das terras da rainha.
Infelizmente, nem todos os Double Sixes eram criados da mesma forma. Mais do que isso, a maioria dos V12s da Daimler eram limousines altas, para sete passageiros. Com uma exceção. O chassi número 30661 tinha uma distância para o solo reduzida. Tanto que para garantir a altura necessária usaram rodas de 23 polegadas. Elas são tão grandes que os para-lamas ficam na mesma altura do capô. Quem é viciado em filmes pode imaginar que o Double Six 50 é o carro ideal para gângsteres. Rodas maiores do que essas em um carro de linha somente os monstros de 24 polegadas que vinham com o épico Bugatti Royale, um carro praticamente uma tonelada mais pesado que o Corsica Drophead.
Outra coisa que vale comentar é que este Double Six nasceu conversível, ganhou uma capota rígida, e agora passeia pelos desertos de Nevada com os cabelos ao vento novamente. Depois de uma restauração de mais de seis milhões de dólares, o atual proprietário do Double Six, Bob Lee, faturou o prêmio de melhor da mostra no Concours d’Elegance de Pebble Beach em 2006. (nota de rodapé: o carro foi comprado em um leilão em 1963 por mil dólares). E se isso – somado à ameaça de expulsão – não foi suficiente para ganhar o seu voto, repare na decoração do capô. Fervendo de tão quente.


Fonte:jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: