19 de jul. de 2011

Como conseguir uma carona em um carro do Grupo B



O ápice do Goodwood Festival of Speed fica por conta do paddock de rali e de um percurso de 2:20 no meio de uma floresta, onde eu corri com o Ford Fiesta do Ken Block. Foi demais, mas assim que saí do carro de Ken corri para a área do Grupo B e comecei a implorar para dar uma volta nos carros. Eu pegaria carona em um carro do Grupo B nem que fosse a última coisa que fizesse.

Bem, na verdade passei pelo Mini WRC Pro Drive de Kris Meeke e tentei entrar nele, mas um dos mecânicos havia ouvido minha história e então surgiu um boato sobre eu ser piloto de rali nos EUA e que eu havia acabado de sair do carro do Ken… “Ah, sinto muito mas parece que já temos passageiros reservados até o final do dia…”
Claro. Acho que eu teria sido o primeiro a poder traçar um comparativo direto entre os dois carros do WRC. Que pena, talvez na próxima. Está me ouvindo, David Richards? Eu adoraria pilotar seu Mini WRC Pro Driver.

Então ando pelo paddock do Grupo B. Primeira parada, o Audi S1 E2 de Walter Rohrl! Sem vagas. Sem problemas, vou até meu favorito, um Lancia 037, último dos monstros de tração traseira, e este ainda era a versão do East African Safari.
Nada feito, o dono estava indo para um jantar formal na casa do Lorde March. Eu até poderia conseguir um convite ou tentar entrar lá como penetra, afinal ainda tenho meu smoking… mas achei melhor deixar para lá.
OK, cadê aquele carro do Ari Vatanen, que foi usado no filme Climb Dance, em que sentei há uma hora? Talvez eu consiga dar uma volta nele! Ele ainda conta com o adesivo com a assinatura de Ari. Não, o trecho de floresta é muito severo e por isso o carro só faz subida de montanha. Faz sentido, eu faria o mesmo se fosse meu.
Beleza! Um Ford RS200, meu favorito! Mas este está impecável e está lá apenas para exibição. Mas, cara, que carro maneiro. O cara me prometeu uma volta nesses carros  quando voltarmos para a Inglaterra, já que os dois são dele. O cara é tipo o Superman do Grupo B. De qualquer forma, continuei procurando. Um Stratos! Ah, cheio também.

Um Metro! Metro 6R4! Doideira típica do Grupo B, motor traseiro e o banco do carona estava vazio. Esse tem que ser meu, e sem me decepcionar o cara diz “monta aí!” Nossa…
De cara percebo que há muito espaço no cockpit e mais mostradores no lado do carona do que em qualquer um dos meus carros. Havia dois computadores de bordo e algumas coisas que eu nem sabia direito o que eram. Aperto o cinto e partimos para a largada e entregamos nossos cartões de tempo. Sim, as corridas são cronometradas e eu precisei da minha licença de navegador do Rally GB, que ainda vale até o final do ano. Portanto, se alguém precisar de uma mãozinha na edição desse ano…

Acabo por descobrir que esse carro ainda participa regularmente de competições no Reino Unido. Vamos pisar fundo e ver se conseguimos um bom tempo com ele. Eu ainda não conheço esse cara, mas ele já é meu herói. A única coisa ruim? O carro teve a potência reduzida para “meros” 325 cv para ser usado nas competições na Inglaterra. Mesmo assim, e sem freio de mão, só ficamos 5 ou 6 segundos atrás dos carros da WRC. Mas ainda não chegamos na parte mais legal da história.

Para ir rápido com o Metro 64R, é preciso pilotá-lo como se você o tivesse roubado. Sério, aposto que esta expressão surgiu com os carros do Grupo B.
Dirigir o Fiesta WRC de Ken era um exercício de paciência, comandos delicados e perfeição no controle do carro. Já o Metro só queria apanhar na minha mão. O câmbio dogbox (sem sincronizadores, apenas engrenagens que engatam a próxima marcha com um soco) era sensacional. A falta do freio de mão atrapalhava um pouco na pista estreita, mas esse cara só reduzia até a primeira e fazia o clutch kick enquanto freava ou algo do tipo enquanto contornava a curva (era muita coisa acontecendo a uma velocidade bem alta eu não consegui pegar tudo em apenas uma volta), e o carro chicoteava direitinho nas curvas mais fechadas.

Ele não aliviou o pé na hora do salto, então pegamos um pouco de ar fresco e o impacto com o chão foi até suave em vista da firmeza da suspensão. Aparentemente o carro utiliza molas amortecedores Bilstein, e com isso o Metro 6R4 me lembrou meu BMW de tração traseira e potência irresponsável… sei que muitos de vocês vão dizer “qual é, cara? Como um dos maiores carros de rali da história pode se comparar a seu BMW de 500 dólares?’ Mas é a pura verdade, foi exatamente o que eu senti assim que entrei no carro. As máquinas do Grupo B são supecarros, mas foram construídos quase 30 anos atrás. O carro em que eu estava tem 26 anos se não me engano. Eu tinha onze anos e a coisa mais tecnológica que havia era um Atari ou talvez um Commodore 64. Até onde sei, foram usados computadores iguais ao Commodore 64 para projetar aquela coisa…
O que quero dizer é que o Metro andava como um carro, tinha o manejo de um carro e fazia curvas como um carro. O Fiesta de Ken era esquisito, mas de um jeito legal. Dava para perceber que era bem mais rápido do que o Metro e quanto mais irregular e rápido era o percurso, melhor para ele, mas não parecia um carro, se é que isso faz sentido. Acertávamos coisas o tempo todo com o Fiesta e nem percebíamos, era um carro sólido e silencioso.

Por outro lado, o Metro era barulhento e dava socos o tempo todo. Ruídos por toda a parte. Barulhos de pedrinhas batendo na proteção do assoalho eram constantes e qualquer pequena irregularidade se fazia sentir. E com o motor bem atrás da cabeça, o som era espetacular. O carro pedia para ser guiado com raiva, pé embaixo, ataque em massa, qualquer que seja o termo que você preferir. E quanto mais você o forçava, melhor ele ficava.
Eu havia esperado a minha vida toda por uma carona em um carro do WRC moderno e realmente agradeço a Ken Block por me dar essa oportunidade. Mas conheço o Ken e ele é acima de tudo um piloto. Tenho certeza que se ele andasse nesse carro do Grupo B, ele sairia dele com um sorriso de orelha a orelha e tentaria dar um jeito de pilotá-lo. É divertido assim.
Fonte:jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: