15 de jun. de 2011

A farsa da competição ecológica X-Prize By Rex Roy



O concurso Automotive X-Prize foi apresentado como uma “revolução por meio da competição” da qual os organizadores disseram que sairiam veículos capazes de rodar 42 km/L e ao mesmo tempo “seguros, acessíveis e desejáveis”. A realidade é que ele é uma verdadeira farsa.

Para quem conhece o mercado de automóveis, o Automotive X-Prize parece apenas uma brincadeira bem intencionada. Não foi por acaso que a Tucker fechou as portas e a Tesla Motors precisou da Daimler e Toyota para não afundar – construir carros, especialmente carros tecnologicamente avançados, não é um negócio de milhões de dólares. É de bilhões de dólares.
Praticamente ninguém quis reconhecer a possibilidade de que o resultado do X-Prize seja nenhum. Olhando o grupo de finalistas do X-Prize e os ganhadores dos cinco milhões de dólares, a chance de que esses brinquedos de feira de ciências sejam os veículos de linha seguros, acessíveis e desejáveis de amanhã é praticamente igual à de Ney Latorraca substituir Charlie Sheen em Two and a Half Men.
Finalmente alguém ligado ao evento sem querer admitiu que na realidade a premiação não é tudo aquilo que os organizadores prometeram. Ironicamente, a epifania veio em um dos maiores eventos de transporte sustentável do mundo, o Michelin Challenge Bibendum 2011 em Berlim.

Conversei durante o evento com Roger Riedener da Pevaves AG. A empresa suíça inscreveu sua motocicleta fechada E-Tracer no X-Prize e saiu com o prêmio de US$ 2,5 milhões por vencer na categoria Alternative Tandem Class (na qual um ocupante fica atrás do outro no veículo) graças ao seu desempenho equivalente a 87 km/L.
Quando perguntado sobre como a premiação impactou sua empresa, Riedener sorriu, riu um pouco e disse, “não mudou nada”.
No entanto, Riedener afirmou, “Para nós, o X-Prize foi apenas um catalisador para fazer as pessoas virem conversar conosco, algo que não teria acontecido antes”. Riedener explicou que estas conversas deram a eles a oportunidade de vender a ideia de que motocicletas fechadas são eficientes.
O que parece óbvio, não é?
Mesmo depois de receber os 2,5 milhões de dólares Riedener admitiu, “Nós certamente não temos a capacidade de produzir em massa. Isso precisaria ser feito por outra organização, não nós. Este veículo foi feito à mão. Ele requer 700 horas de fabricação, por isso é caro e continuará a ser feito em pequenas quantidades.”
Então, saído da boca de seu responsável, o E-Tracer é e sempre será um brinquedo para riquinhos verdes, não um veículo de linha seguro, acessível e desejável para pessoas comuns que lidam com uma gasolina entre dois-e-meio e três reais o litro.
Depois de encontrar o argumento que mostra a irrelevância do Automotive X-Prize, pedimos a Riedener que nos deixasse andar com o veículo. Demonstrando surpresa, o empreiteiro de formação disse que precisamos de quatro dias de instruções antes de começar a operar a motocicleta com rodinhas. Sem essa opção, aceitamos uma carona.
Contorcionistas apreciadores da ioga não terão problemas para alcançar o assento traseiro. Com as pernas encaixadas ao redor do assento do motorista/piloto, percebemos que abandonar o veículo estava fora de questão, especialmente se o veículo caísse sobre o lado esquerdo (a “porta” se abre pela esquerda).
Na pista, o torque imediato do motor de 150 kW do E-Tracer parece bom, e graças ao amplo entre-eixos da moto, o rodar é ultra suave. Acione o acelerador e o som da estrada até ajuda a esconder o ruído do motor elétrico, ao ponto de fazer você acreditar que está no comando de uma moto tradicional. Com o aumento da velocidade, as rodinhas (semelhantes às que usávamos na bike quando crianças), que em baixa velocidade ajudam a passar uma sensação de se estar em um triciclo, se recolhem na carroceria. Mas ao parar, se o motorista não acionar manualmente as rodinhas, o veículo cai feito uma pessoa que foi atingida por um tijolo. Por US$ 123.000, é o tipo de coisa que você espera que aconteça automaticamente.
Depois de cinco minutos, eu concluo que o E-Tracer tem a mesma chance de ser um transporte de massa que um Hot Wheels.

Outro vencedor do X-Prize, o Edison2, levou uma bolada de US$ 5 milhões do prêmio com um desempenho equivalente a 44 km/L. Ron Mathis, o chefe de projeto do Edison2, disse, “não quero minimizar a [dificuldade da] tarefa de trazer o carro ao mercado, e o dinheiro do prêmio nos ajuda nisso. Nós fizemos algumas dívidas para chegar ao X-Prize, então parte do prêmio foi para resolver isso”. Demonstrando que o Edison2 foi feito por quem acredita no projeto e não via o X-Prize como uma maneira rápida para conseguir uma grana, a equipe vencedora continua junta. Ninguém pegou sua parte do prêmio e se mandou.
Quando perguntado friamente sobre a possibilidade do modelo vencedor ser produzido da forma que participou da competição, Mathis escolheu suas palavras com cuidado e disse que o Very Light Car “foi projetado para vencer a competição.” Mathis explicou ainda que uma versão do modelo poderia ser fabricada para países do terceiro mundo, mas que a empresa não vê no momento um mercado para o modelo na América do Norte.

A Li-Ion Motors, a outra equipe que levou um prêmio de US$ 2,5 milhões, talvez esteja aproveitando ao máximo seu prêmio e a visibilidade conquistada. O gerente de relações públicas Rich Ralston disse que “vencer o X-Prize validou nossas tecnologias de gerenciamento de bateria”. O dois lugares da empresa, o Wave II, alcançou o equivalente a 79 km/L na competição.
A Li-Ion Motors espera que o Wave II e o esportivo Inizio passem nos crash tests dos Estados Unidos e recebam a aprovação do governo de lá até o segundo trimestre de 2012. Os desafios para esta empresa que nunca produziu veículos em série são enormes.
Aguardando a aprovação federal, a empresa tem uma capacidade de produção para 30 a 40 veículos mensais na fábrica da Carolina do Norte. Com a expectativa de dias melhores, a Li-Ion Motors fechou um acordo de compra para terras no Canadá, onde espera levantar uma fábrica com maior capacidade de produção.
Ralston disse, “se todos nos EUA andassem com um Wave II, nós estaríamos exportando petróleo”. Ainda que a frase seja verdade, é uma hipérbole tola e completamente irrelevante vinda de uma empresa que talvez consiga fabricar em um ano a mesma quantidade de veículos que a Ford produz em 30 minutos. O problema maior é se haverá demanda suficiente para o Wave II de 39 mil dólares caso ele consiga se adequar às normas locais. Certamente os americanos não vão querer rodar em um carro de dois lugares que se parece com um sapo com rodas saído de um túnel de vento.
A esta altura, o Automotive X-Prize mostra pouca ou nenhuma chance de revolucionar o mundo dos automóveis com seu misto de feira de ciências e corrida maluca. Preston Tucker tinha mais chances de construir um veículo elétrico seguro, acessível, desejável e capaz de ser produzido em massa do que os modelos desta competição. E ele morreu em 1956.
Rex Roy é um jornalista automotivo freelance de Detroit.

Fonte: jalopnik.com.br
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: