1 de jun. de 2011

Desafio off-road de luxo: G55 vs. Range Rover



Se alienígenas de brilho roxo pousassem diante da tubulação onde o Range Rover Supercharged e o Mercedes-Benz G55 AMG tinham acabado de subir, nenhum dos caras nos Jeep teria notado. Nada é mais estranho que centenas de milhares de dólares passeando na terra.

Os primeiros SUV nasceram nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial (a denominação só apareceu décadas depois). Sem garotas para se apegar, os soldados acabaram muito ligados a seus Jeeps e quiseram mantê-los. Os SUV renasceram quando alguém na Willys decidiu transformar um Jeep em uma perua. Eles nasceram pela terceira vez quando Arnold Schwarzenegger usou sua influência para comprar uma versão civil do Humvee. Mais tarde, como esses utilitários começaram a vender loucamente – e por muita grana – alguém teve a ideia de construir um que se comportasse como um carro, livrando-se da construção do tipo “carroceria e chassi” em favor dos monoblocos com amortecedores a gás.
Logo os SUV migraram das operações militares (ou qualquer tipo de trabalho pesado) para as cidades, como moscas.
Uma rara exceção é a Classe G da Mercedes, que representa a última resistência contra os confortáveis crossovers.


Quando eu descobri que Zerin Dube da Speed:Sport:Life estava com o Range Rover Supercharged na mesma semana que eu tinha um G55 AMG na garagem, decidi que era uma boa hora de confrontar o velho estilo contra o novo. Os alemães contra os anglo-indianos.
Conseguirá o indo-americano em seu SUV anglo-indiano superar a mim e meu rapmóvel alemão? O que é mais importante para você? Os carros ou o nível de conforto?

Pamela Anderson dirige um!

Em todo mundo os manos malvados dirigem os G55 porque eles são grandes, maus e têm uma reputação de passar sobre qualquer obstáculo. Nos EUA, mulheres com seios falsos e rappers com passados falsos dirigem os G55 porque eles são grandes, chamativos e ridículos.

Sentando ao volante de um destes pela primeira vez, começo a entender sua popularidade entre a elite. Por fora, é feito para assustar os trabalhadores, se a luta de classes se tornasse realidade. Por dentro, o couro Designo é macio e suave o bastante para me convencer a aceitar o bondage como hobby. Apesar de ter altura suficiente para acomodar Dikembe Mutombo usando a mitra papal, é extremamente curta no espaço para as pernas. Estou com o banco totalmente recuado e na altura máxima e ainda falta espaço. Tenho quase 1,85m e não me encaixo.
Dirigindo, eu descubro que o G55 anda como um velho muscle car, com a mesma direção “boba” com poucas respostas, mas com um centro de gravidade tão alto quanto o teto de uma dessas barcas de Detroit. É ótimo na rodovia, mas um assassino nas curvas. Sugiro que vá em linha reta direto ao ponto em que deseja chegar e simplesmente passe por cima de tudo o que cruzar a sua frente.
Felizmente, o venerável V8 sobrealimentado de 5,5 litros da AMG – um sobrevivente na linha Mercedes – também lembra um muscle car, considerando que seu muscle tenha sido construído por mecânicos alemães. O torque surge em uma onda vigorosa quando a usina de 500 cv atinge a faixa entre 3.000 e 4.000 RPM.
Esse negócio pesa 2.585 kg, foi projetado na década de 1970 e chega aos 100 km/h em 5,5 segundos, apesar de ter o perfil aerodinâmico de um prédio de 100 andares.
Na estrada ele é meio porco. Mas fora da estrada, é feliz como um porco na lama.

A vingança dos colonizados


Ainda me divirto com a ironia da compra da Land Rover por uma empresa indiana, já que seus carros são praticamente as carruagens do colonialismo britânico (N. do editor: a Índia foi colônia do Reino Unido até 1947). Isso não parece incomodar Zerin, que gostou de tudo em seu Range Rover Supercharged, até chegar a hora de abastecer.
O Range Rover moderno tem o mesmo visual do primeiro Range Rover, mas filtrado pelas lentes do modernismo elementar de Olafur Eliasson. É limpo. É afiado. É um pouco extravagante demais para meu gosto.
Esta última geração do Range Rover usa construção em monobloco e suspensão independente a ar para um comportamento silencioso e previsível na estrada. É tão confortável quanto qualquer sedã de luxo e, com seu V8 Jaguar de cinco litros e 510 cv, também é tão rápido quanto a maioria deles.

Sujeira

Logo que chegamos a Creekside Edge Off-Road Park, no Texas, o cara da portaria gostou tanto de nossos carros que nem nos cobrou. Ele também não parecia preocupado com nossa aventura off-road pelo parque.

É notório que o Range Rover e o G55 empregam filosofias diferentes quando se trata de sair da estrada. Também ficou claro a todos que nós não combinamos com veículos todo-terreno. Minha camisa xadrex não enganou ninguém.
O Range Rover Supercharged é um supercomputador capaz de cruzar a África usando sensores, com praticamente tudo autoajustável para controlar qualquer situação. Há botões para selecionar o tipo de terreno e um grande visor LCD para mostrar como o veículo está se adaptando ao ambiente. O diferencial está bloqueado? Há um desenho para te mostrar.

O G55 não tem telas LCD. Ele tem três diferenciais hidráulicos (frente, traseira e central) que são ativados usando três botões com luzes âmbar e vermelhas. Para bloqueá-los, você precisa estar em reduzida, que se ativa por um botão quase escondido na frente do descanso de braço central.
Creekside é conhecido como um grande lugar para lameiros, mas a seca o transformou em um grande deserto. Perfeito. Britânicos e alemães lutando no deserto novamente. Um lamaçal de repente transforma-se em uma faixa de areia, perfeito para testar com segurança a capacidade dos pneus originais.

Sobre piso instável, o G-Wagen facilmente entra e sai da areia sem destracionar ou engasgar. O único risco real é cavar a areia depois do ronco do V8.
Tentei o Range Rover depois, entrando na areia como o 8º Exército britânico em El Alamein. Com o “modo areia” ligado ele se assenta e consegue cruzar a areia apesar dos pneus lisos. Tudo bem até agora.

Siga os Jeeps


Depois de brincar na areia, seguimos um trio de Wranglers por uma trilha. Aqui o Range Rover é brilhante. Com seu balanço dianteiro curto e seu vão livre elevado, ele cruza tudo sem problemas. O G55 AMG também não teve problemas ao acompanhar o Range Rover, mas não é tão suave ou familiarizado.
Fiquei um pouco chateado com a vantagem do Range Rover aqui, então sugeri dar meia volta e tentar escalar um par de velhos tanques de água cobertos de terra até a metade. Não tenho certeza de quem se dará melhor, mas estou disposto a pegar o G55 e arcar com as consequências para ver o que acontece.
Por um instante isso parece uma possibilidade real. O G55 parece quase estreito o bastante para passar sobre o pedaço de terra solto sobre um dos lados dos tanques e seu peso parece fazer os pedaços de terra deslizarem pelos lados. Cansado de andar com cuidado, pisei no acelerador e deixei o resto por conta do V8.
Ele chegou ao topo, e quando estava orgulhoso sobre o tanque, Zerin gritou para que eu parasse para uma foto. “Seja rápido”, pedi a ele enquanto imaginava se teria espaço suficiente para chegar ao segundo tanque. E eu tinha. Pouco, mas tinha. Ouvi um barulho arranhado e que pensei ser do diferencial traseiro, mas era de um pedaço de ferro. Eu acho.
O Range Rover poderia fazer o mesmo, mas Zerin não queria sujar o carro.

Para a pista off-road

O que essas barcaças de luxo e os veículos todo-terreno têm a ver? Nada, na verdade. Por isso uma pista off-road é o lugar perfeito para testar os grã-finos.

O Range Rover subiu um lado do morro suavemente e sem esforço e depois, usando o controle de declives, abriu caminho do outro lado. Estava com a noiva de Zerin no banco do passageiro, que tranquilamente enviava mensagens aos seus amigos pelo celular. Talvez seja a minha personalidade, e não o carro, mas não tenho saco para isso. Não preciso de computadores avançados para subir os morros, eu uso apenas o acelerador. E controle de declives? O que é isso? Eu tenho um pedal de freio, então não preciso daquilo.
Depois da curva, uma reta com ondulações curtas (tipo “costela de vaca”). Zerin no Range Rover atravessou com cuidado, enquanto fazia o possível para ativar a suspensão a ar para manter o nível do carro – com medo de que alguém derramasse chá.
“Dane-se”, gritei. Desliguei os diferenciais e ajustei o negócio em 4WD “High”. Encarei as ondulações e quase alcancei Zerin antes que ele terminasse. Claro, o carro tremia como vara verde, mas não é essa a graça?

Turistas versus Conquistadores

Em última análise, nosso breve teste sobre piso moderado não apenas prova que você pode encarar um desafio off-road com estes dois veículos de luxo. Você deve fazê-lo. De que vale o dinheiro sem aproveitá-lo de modo apropriado?
O carro que você deve escolher para isso, contudo, depende do que você quer, pois ninguém precisa de um deles. O Range Rover Supercharged é altamente capacitado, mas muito certinho e caro demais. O G55 é malvado, mas pouco prático e quase um Honda Civic mais caro que o Range Rover.

Zerin diz que prefere o Range Rover, mas eu gosto do G55. O Range Rover é ótimo porque permite que você vá a qualquer lugar confortavelmente como um turista. Não quero ser um turista. Quero ser um conquistador.
O G55 é um jipe assassino totalmente desnecessário, que deve ser comprado somente por pessoas que desejam e são capazes de usá-lo para a finalidade que seus designers idealizaram: conquistar novos territórios de populações indígenas assustadas.


Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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