
Pilotos que voam acima de mach 1 às vezes falam de um momento onde os instrumentos, por um breve instante, ficam embaçados. Devorando a pista no Hennessey Venom GT de 1216 cv, houve um momento em que meus olhos fizeram o mesmo truque. Este não é um carro, este é o melhor jeito para se morrer.
Bill Clinton disse “Não há nada de errado com os Estados Unidos que não possa ser consertado com o que há de certo nos Estados Unidos.” John Hennessey – que, chuto eu, não votou em Clinton baseado nas coisas que diz no Facebook – tem sua própria versão da frase: não há nada de errado com o Lotus Exige que não possa ser corrigido com o que há de certo no V8 americano.
Neste caso é um V8 6.2 de origem GM, turbinado com um par de Garretts abaixo de uma gigantesca capa de motor revestida com uma camada dourada que o faz parecer um objeto exposto no museu da NASA, do outro lado das instalações da Hennessey em Sealy, Texas.

As planícies e pradarias sem fim têm um jeito especial de mexer com a cabeça. Imagine as possibilidades. É por isso que filmes sobre texanos têm nomes como Giant e Big Jake. Não me lembro de como se chamam os filmes sobre as pessoas de Delaware. Eu nem ao menos sei se já fizeram um filme sobre alguém de Delaware.
Então você vai ter que acreditar em minhas palavras, como um texano, que John não está tirando o sarro com alguém quando diz que tudo isso começou como uma piada. Algo do tipo não-seria-engraçado-se… Felizmente, quando se tem uma oficina cheia de texanos acostumados a brincar com Ford GTs e Dodge Vipers na casa dos 1.000 cavalos, não é muito difícil transformar uma piada em realidade.
“Certo dia fiz uma piada sobre instalar o motor biturbo do Venom na traseira do Lotus Exige”, disse Hennessey. “Então pensei, vamos fazer um esboço e ver no que dá”.

Quando chego para visitar a base da Hennessey, o Venom está na garagem passando por ajustes. Isso me dá a chance de admirar o trabalho de engenharia aplicado, instalando o equivalente em combustão interna do Anderson Silva no equivalente veicular da Jade Barbosa.
O que começou como um chassi monocoque de alumínio do Lotus Elise rapidamente desaparece em uma mistura de aço cromoly com fibra de carbono sob a pele de um Transformer. Isto permite que o motor e a transmissão manual da Ricardo de seis velocidades fiquem recuados para melhor tração (a distribuição de peso é de 37/63 sem ocupantes, 44/56 com duas pessoas, cerca de 48/52 depois de um bom churrasco).

A tração é um objetivo importante quando se quer entregar 1.216 cavalos e 159,6 kgfm de torque em um carro que pesa 1.217 kg, o que segundo o Google é o mesmo peso de um Focus 2005. O que me leva a perceber o visual do carro. Toda a carroceria foi testada exaustivamente no túnel de vento e recebeu um ajuste fino da divisão de engenharia da Hennessey na Inglaterra, tudo para alcançar uma estabilidade para-não-matar-nenhum-ricaço.
Para isso há uma gigantesca asa móvel na traseira. No primeiro modelo esta mágica aerodinâmica não foi programada para se ajustar em altas velocidades, mas isto é algo no qual estão trabalhando para o próximo modelo.
Falando no “próximo modelo”, aqui está. Estas são fotos exclusivas do segundo Venom GT da fábrica (o terceiro no total) com uma indefectível cor vermelha, passando pelos ajustes finais antes de ser entregue ao seu comprador nos Estados Unidos. Eu não guiei esta versão, mas ela não lhe parece mais empolgante do que a que já vimos um milhão de vezes?

O Venom GT soa exatamente como você espera que um supercarro soe quando dá a partida. Há uma infinidade de metáforas usadas e abusadas para carros de potência enorme em ponto morto, geralmente envolvendo ferramentas elétricas em máquinas de lavar. Todas elas se aplicam aqui. Mas eu sou preguiçoso, então vou simplesmente mostrar.
Na pista de quarto de milha atrás da oficina me preparo para ver John e sua equipe dar as primeiras aceleradas do dia para um último ajuste, mas há um problema. O carro, ao que parece, está preso em um modo manco.
Infelizmente, mesmo o melhor da engenharia americana não consegue superar as peculiaridades da eletrônica inglesa. Para dar uma partida bem sucedida no carro, você basicamente precisa abrir as portas, erguer seu braço direito, rezar por Colin Chapman, pressionar o botão na chave e girar a ignição.

“Ainda há um quê de Lotus aí, em algum lugar” diz Hennessey.
Nós rimos, mas isso esconde uma realidade estranha sobre o Venom GT. Apesar de ser essencialmente um supercarro de um milhão de dólares, muito dele é simples, barato e fácil de se consertar frente aos outros supercarros. Trinque o para-brisa ou fure os pneus de um Bugatti e você venderá empresas para substituí-los, mas este carro usa muitas peças da Lotus que você pode encomendar direto das concessionárias. Os pneus são muito mais comuns e menos caros que os Michelin Pilot SS.
Com os bugs ingleses vencidos e o carro aquecido, Hennessey dá uma primeira volta tranquila. Isso em uma escala relativa, então uma volta “tranquila” é tão maluca quanto qualquer coisa com mais de 1000 cavalos pode alcançar.

Os pneus, apesar de 345/30/20 na traseira, ainda giram em falso nas primeiras duas marchas, enquanto brigam com um torque da categoria 5 de furacões. O Venom GT volta, eles mexem no carro, e já parte para outra volta. Desta vez mais rápido, ainda que dê para percebê-lo patinando.
Agora é a minha vez. A razão pela qual estou aqui. Serei um dos primeiros a andar de carona neste super supercarro.
Respiro fundo e me sento no lado do passageiro do cockpit, que ainda passa a sensação dos Lotus e é confortável. Qualquer medo de que este é o resultado de boas intenções e uma péssima construção logo some assim que o pé direito encontra o acelerador.
A velocidade pode ser medida, e a medição diz que o carro chega a 96 km/h em 2,5 segundos, o quarto de milha (402 metros) em 9,9 segundos e os 322 km/h (200 mi/h) em 15,9 (cerca de oito segundos mais rápido que o Bugatti Veyron).
Tudo isso é abstrato quando se está experimentando. Estou rápido. Sei disso. Estou no limiar da capacidade de identificar, praticamente sem sucesso, as marcações na pista que some rápido. A porrada da força G no estômago pode ser mais bem descrita como a sensação que você tem quando o avião onde você está do nada desce 100 metros em meio a turbulência.
Enquanto desaceleramos no final da pista, a cerca de 75% do limite da máquina, me recomponho (e talvez deixo escapar um “woohoo!”). Será que isso aconteceu? A característica mais notável em se andar rápido no Venom é que você sente a velocidade mas, pelo menos no banco do passageiro, você não sente o carro.

Em um Viper, um Camaro preparado ou em qualquer carro com um V8 gigante há a sensação do carro enquanto se acelera. Mesmo em algo refinado como o Porsche Turbo você sente as rodas avançando pelo asfalto.
O Venom GT faz você se sentir como se estivesse flutuando na pista, desligado de qualquer coisa atrás de você… até que uma troca de marcha te prega de volta no banco.
Esta é uma das muitas contradições do Venom GT. É um supercarro que você pode guiar no dia a dia, mas se você pode comprar um supercarro de um milhão de dólares você precisa mesmo se preocupar com o preço dos pneus? É um carro grande, voltado para o motorista, sem a interferência eletrônica dos concorrentes, e que passa a sensação de ser (pelo menos de acordo com minha breve experiência no carro) tão estável e competente quanto qualquer outra coisa que podemos encontrar.

Este é um projeto de longo prazo para Hennessey, o trabalho de uma vida, e ele não tem pressa. Ele produzirá alguns deles a cada ano, melhorando-os no processo. Eventualmente, irão testá-lo em um super oval e colocá-lo para correr em algumas pistas famosas.
No final das contas, posso apenas passar a menor das impressões do que é estar dentro do carro e mesmo isso já sobrecarregou meus sentidos. Agora estou aqui, pensando no que posso fazer para pegar o lugar do motorista.
Do nada tento pensar nas oportunidades para um jovem jornalista automotivo conseguir um milhão em dinheiro. Talvez participar do Baja seja o disfarce perfeito para traficar narcóticos. Do nada posso contar a todos que mudei de ideia e passei a gostar do Corolla, para não chamar a atenção.
Ah, e aquele ponto vermelho no fundo da garagem? É apenas um Venom GT.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/
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