14 de mar. de 2011

Garagem dos sonhos: a lenda do Ford GT


Foi com certa surpresa (e quase vergonha) que percebemos nesse final de semana algo muito errado. Simplesmente ainda não tínhamos o Ford GT em nossa Garagem dos Sonhos. É hora de preencher essa lacuna, e explicar em detalhes por que este foi provavelmente o melhor carro esporte já feito por uma fábrica americana.




Talvez você tenha percebido que abrimos o post com um vídeo, ao invés de uma imagem. Por quê? É o famoso comercial do Ford GT no Super Bowl. Eu o considero digno de nota porque foi a primeira espiada que os norte-americanos deram em um verdadeiro car porn moderno. Sim, os ingleses têm o Top Gear há quanto tempo? Noventa temporada? Mas no resto do mundo nunca houve nada do tipo. Já assisti cerca de 10 milhões de horas de carros levantando fumaça em drifts no YouTube, mas este filme é melhor que todos eles, juntos. Mas é claro, nenhum carro entra em nossa garagem só por causa de um vídeo de divulgação.
Partindo do pressuposto que você acabou de chegar de Vênus, esta é a história. No começo da década de 1960, a Ford estava pronta para comprar a Ferrari. O neto de Henry Ford queria entrar no automobilismo em grande estilo, e os italianos tinham graves problemas financeiros. Parecia, pelo menos para o americano, um casamento perfeito. No entanto, reza a lenda que o velho Enzo preferia vestir um paletó arco-íris a ver seu cavallino cair nas mãos dos norte-americanos. Mesmo assim, apesar de seu gênio, digamos, forte, Enzo não era burro. Ele sabia que ao deixar a Ford fazer uma oferta, conseguiria um aumento na oferta da Fiar, que comprou 50% da Ferrari em 1965. A oferta de US$ 18 milhões de Henry Ford II foi rejeitada.
Ford júnior ficou furioso. Ele jurou derrotar Enzo em seus domínios. A Ford queria vencer as 24 horas de Le Mans, a mais rigorosa, desafiadora e brutal corrida dentre todas. Uma corrida que por sinal a Ferraria havia vencido nos seis anos anteriores (de 1960 a 1965). Ford estava tão furioso que ele encomendou pins que diziam ”Ford vence Le Mans em ‘66” e ameaçou demitir qualquer funcionário que discordasse de sua decisão. O carro que nasceu disso é uma verdadeira lenda. O Ford GT40 (“grand touring e 40 polegadas de altura”, um metro no SI) é uma das máquinas mais famosas de todos os tempos. Os carros simplesmente arrasaram a Ferrari, deixando-a para trás em quatro anos seguidos, até ser banido da disputa em 1970.

2003 marcou o centésimo aniversário da Ford. Em comemoração, o bisneto do fundador, Bill Ford Jr., iniciou uma série de protótipos ao estilo GT40 para os salões do automóvel de 2002. Os carros foram projetados por Camilo Pardo, sob a supervisão de J Mays. Segundo contam, as máquinas de motor central não haviam sido criadas para entrar em produção, apenas um exercício de design. Mas os resultados foram impressionantes.
Cem vezes mais belo que o novo Mustang e mil vezes mais atraente que o renascido Thunderbird (sem contar os bilhões de trilhões de vezes mais bacana que o New Beetle), os conceitos do GT40 roubaram as atenções dos concorrentes em 2002, levando a Motor Trend a começar uma campanha “Give us our Ford GT”. Com tudo isso, a Ford decidiu construí-los. Já que não possuíam mais os direitos sobre o nome (e depois de esnobar o pedido de 8 a 60 milhões de dólares da Safir Engineering, dependendo de qual lado você acredita), a Ford precisava de uma nova designação. GT 43, que representaria a altura do novo carro, parece estúpido. Assim nasceu o GT.

Mas construí-lo com o que? Todos os supercarros começam a partir de seus motores (mas o GT tinha a vantagem de uma carroceria atemporal) e terminam em seus motores. A coisa mais próxima de um motor que a Ford tinha era um V8 modular de 4,6 litros do Mustang, e isso simplesmente não bastava. Ao invés disso, fundiram o V8 5.4 das picapes F em alumínio e adicionaram um supercharger Lysholm. O cabeçote de alumínio foi emprestado do Mustang Cobra R (e do Boss 290 australiano) e adotaram um sistema de cárter seco. A configuração entregava 558 cv e 69,1 kgfm de torque. Em outras palavras, bastante. Mas como nosso amigo Jezza sempre diz, os Estados Unidos têm uma longa tradição de construir monstros para retas. A Ford queria que esse carro também virasse para a esquerda e a direita.

Os engenheiros da Ford trabalharam com os especialistas em alumínio da Hydro Aluminum North America para desenvolver o que na época era o quadro de alumínio mais sofisticado no mundo. O quadro consistia de 35 extrusões, 30 das quais foram desenvolvidas exclusivamente para o GT. O chassi tem ainda diversos painéis estampados em uma complexa estrutura. Suas extremidades servem como pontos de fixação para a suspensão double-wishbone. Tanto os braços de controle como os amortecedores são feitos de alumínio extrudado.
A construção do motor também é feita com alumínio extrudado. E você precisa ver como o motor “Powered by Ford” se encaixa no cofre. Claro, toda a lataria é feita de alumínio. O FT possui um splitter frontal, um difusor traseiro, assoalho selado e um túnel que passa por dentro do veículo e cria 136 kg de downforce a 210 km/h. O formato também é um dos mais aerodinâmicos de todos os tempos em um carro de produção. Já se cansou? Eu também. Basta dizer que o GT se comporta melhor que seu carro, seja ele qual for.

Este nível de desempenho é ainda mais impressionante quando combinados com o baixo peso e o chassi firme. Quão impressionante? A revista Octane andou em um Ford GT em ‘Ring em 7min41s. Isso é rápido. O supercarro americano mais conhecido, o C6 Z06, é 136 quilos mais leve a 1 segundo mais lento. O Veyron dez vezes mais caro supera o GT por apenas dois segundos, assim como o McMerc SLR. Parte da explicação para esses números absurdos está no fato do GT não produzir os 558 cv e 69,1 kgfm de torque. Não, o GT produz muito mais do que isso. Assim como o Shelby GT500 sai de fábrica com os números subestimados, o GT entrega os números divulgados nas rodas! A potência real deve estar na casa dos 620 a 640 cv.
A Ford planejou uma produção de 4.500 GTs. Mas como a companhia estava perdendo bilhões de dólares por trimestre naquela época, a produção terminou com 4.068 carros, quando a fábrica em que era produzido (com o Thunderbird e o Lincoln LS) fechou (31 de maio de 2007). Apesar do final triste, não tenho dúvidas que o GT é o melhor carro que a Ford produziu. Melhor até do que o RS200. Fato é que a única coisa negativa que poderíamos pensar a respeito é que não se trata do GT40 original de Le Mans. Mas eu acredito que o modelo novo é melhor.

Primeiro, os GT40s são carros de corrida ariscos, enquanto o GT tem ar condicionado e vidros elétricos. Certo, houve uma versão de rua do GT40 que você podia comprar (a Mk. III) mas era feia e lenta. Depois, o GT é muito mais rápido que os originais. E, mantendo o espírito dos GT40s, o supercarro moderno da Ford não devia em nada às Ferraris. Ah, e só para influenciar um pouquinho a sua opinião, Jeff Zwart, que dirigiu a gravação do comercial para o Super Bowl, disse que o GT não só deixou o helicóptero que o filmava para trás, como também que esse anúncio foi a primeira vez em que não precisou acelerar o filme para fazer o carro parecer melhor. Acredito que isso basta.

Confira quais são os companheiros imaginários do Ford GT em nossa Garagem dos Sonhos até agora.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: