A saga de Mosley transborda contradições, profundas questões morais e verdades perturbadoras. Filho do fascista mais famoso da Inglaterra, Sir Oswald Mosley, Max teve que enfrenter um passado marcado pelo fato de que seus pais casaram-se na casa de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler.
Considerando esta criação, Mosley fez bem ao deixar o mundo da política de seus pais e tentar a vida no Partido Conservador Britânico, mas logo desistiu de suas aspirações a um cargo público depois de perceber que as chances de ser eleito com o mesmo nome de seu pai eram pequenas.
No mundo insular do automobilismo ele, estranhamente, encontrou um pouco de paz.
“Todos os competidores naquela categoria olhavam a lista e chegavam ao meu nome e diziam ‘Mosley, Max Mosley… deve ter alguma relação com Alf Mosley, o fabricante de carrocerias’. E eu pensava comigo ‘encontrei um mundo onde eles não sabem sobre Oswald Mosley’. E sempre foi assim no automobilismo: ninguém dá a mínima.”Ele teve algum sucesso como piloto em pequenos eventos pela Inglaterra e acabou conseguindo entrar na Fórmula 2, mas acabou abandonando depois de uma série de acidentes. Passou a construir carros e chegou à Fórmula 1 para se tornar presidente dos vários organismos da categoria.
Enquanto se distanciava de seu passado, ele carregava consigo um segredo: seu gosto por eventuais orgias sadomasoquistas. Mosley disse recentemente em uma entrevista que vem realizando estas atividades por quase 45 anos.
Antes, alguém deu a dica para o tablóide News Of The World, que iniciou uma investigação que capturou um vídeo de Mosley e cinco prostitutas em um ato sexual de cinco horas que incluiu submissão, dominação, chicotadas e indivíduos que aparentemente vestiam-se como prisioneiros.
Na época disseram que aquilo havia sido uma festa com “temática nazista”, uma referência ao passado de Mosley. A alegação baseou-se nas fantasias e no começo da orgia, quando as moças aparentemente verificaram se Mosley tinha piolhos.
O mundo do automobilismo ficou chocado e a maioria das pessoas esperava que Mosley acabasse envergonhado na obscuridade. Muito pelo contrário, o ex-advogado processou o tablóide e enviou cartas de intimação a todas as publicações que mencionaram a história (inclusive o Jalopnik US). Ele lutou com sucesso para manter seu cargo e ganhou 120.000 dólares por reparação de danos.
Curiosamente, Mosley não abriu o processo por difamação. Ao invés disso, processou o tablóide por invasão de privacidade, argumentando que sua vida pessoal não interessava a ninguém e que o News Of The World não tinha provas de que a orgia tinha temática nazista (além dos uniformes e do estranho sotaque alemão de Mosley).
O editor do jornal sensacionalista Colin Myler disse com certa cara de pau que “não devem ser os ricos e famosos, os poderosos e influentes, a ditar a pauta do dia apenas somente por que eles têm dinheiro e meios para calar a imprensa livre.”
Recentemente Mosley pediu à Corte Europeia de Direitos Humanos para obrigar os jornais a avisar os indivíduos envolvidos nas notícias três dias antes da publicação dos fatos.
Mosley alega que tais regras permitiriam que as pessoas questionassem a veracidade das constatações antes de serem publicadas. Ele aponta que pessoas acusadas desse tipo de coisas, mesmo que as acusações sejam falsas, às vezes acabam em falência ou até mesmo suicídio.
Se foi nazista ou não, a revelação da intimidade de Mosley teve um efeito negativo na vida de sua família. Seu filho de 39 anos morreu logo depois do escândalo por overdose de heroína, depois de reclamar sobre a dificuldade de conviver com o nome Mosley.
Há portanto um fundamento de razão no apelo. Mas permitir a censura prévia da imprensa resultaria em uma situação em que qualquer pessoa poderá questionar qualquer história, levá-la aos tribunais e atrasar sua publicação. Além disso, já existem muitas barreiras legais, como sabe Mosley, para aqueles que publicam falsas histórias.
Para citar o professor de jornalismo Roy Greenslade em um debate com Mosley:
“Isso acabaria imediatamente com a liberdade de imprensa. Teríamos nossos jornais editados por juízes, não por editores. Isso também aleijaria os jornais, especialmente os locais, que teriam que ir aos tribunais todas as semanas.O caso está atualmente no Tribunal Europeu sob protestos de inúmeras organizações de imprensa.
[…] Você está tirando dos editores o direito de tomar decisões e dando ele aos juízes.”
Por mais plausível que possa ser uma decisão a favor de Mosley, a regra não pode ser generalizada. Políticos corruptos agradeceriam eternamente caso isso acontecesse. Além disso, faz sentido argumentar com o filho de um famoso fascista tentando fazer com que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos limite a liberdade de imprensa depois de ser retratado como um praticante de orgias submissivas com fetiche por uniformes alemães da Segunda Guerra?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br
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