25 de fev. de 2011

A F-1, o dinheiro e o GP do Bahrein por Rafael Lopes

Sinal vermelho no autódromo de Sakhir
A correria dos últimos dias foi grande, mas consegui um tempinho para escrever sobre a suspensão (não é adiamento, já que ainda não há uma data) do GP do Bahrein, que abriria a temporada 2011 da Fórmula 1. Antes de tudo, a decisão, tomada por Salman bin Hamad bin Isa Al-Khalifa, príncipe do Bahrein, foi acertadíssima. Apesar de eu acreditar que o governo bahrenita seria capaz de prover segurança para a realização da corrida, não há clima no país para a realização de um evento esportivo como a maior categoria do automobilismo mundial. Além disso, era expor pilotos e equipes a um risco desnecessário, dada a violência da polícia local na repressão dos protestos. E, por último, seria uma enorme mancha na imagem da F-1.



Só que o fato de eu concordar com a suspensão não quer dizer que eu concorde com a postura de várias pessoas ligadas à Fórmula 1 nos últimos dias. A pressão para o cancelamento da corrida no Bahrein foi enorme, mas a categoria, por exemplo, acabou de renovar o contrato do GP da China, que é realizado no insosso circuito de Xangai. Ora, o país asiático também não restringe os direitos dos cidadãos com, por exemplo, o bloqueio a vários sites da internet? Não reprime de forma violenta os manifestantes? Não tem uma penca de prisioneiros políticos? E alguém questiona – por estes motivos, é claro – a realização de uma corrida na China? Nem perto disso, é claro. Ora, meus caros. O que move a F-1 é apenas e tão somente o dinheiro.

A demora para o anúncio da suspensão da corrida se deu, pura e simplesmente, por motivos econômicos. Nem Ecclestone e nem o príncipe do Bahrein queriam amargar o prejuízo, que ficaria em torno dos US$ 40 milhões (aproximadamente R$ 70 milhões), valor que o governo bahrenita tem de pagar à Formula One Management (FOM) de Bernie, para receber a corrida. Um acordo foi costurado e o príncipe acabou por cancelar a prova, com o chefe comercial da categoria assumindo a responsabilidade de fazer o máximo para remarcar a corrida ainda em 2011. Em um primeiro momento, nenhum dos dois lados sairia prejudicado. Uma troca de favores, em suma. A F-1 de Bernie hoje depende muito do dinheiro vindo destes países árabes.
Banner do GP na Praça da Pérola
Enquanto isso, os fãs aturam corridas nas pistas insossas construídas por Hermann Tilke, o “arquiteto oficial”. As tradicionais, como Spa-Francorchamps, correm risco todo ano de não receberem um GP. Se analisarmos pelo aspecto esportivo, é algo péssimo. Economicamente, ao menos para quem manda na Fórmula 1, é vantajoso. Por isso estamos vendo reclamações de várias sedes da categoria, como Melbourne, Barcelona e Valência, contra as altas taxas cobradas por Ecclestone para ter a categoria em seus circuitos. Estamos chegando muito perto do momento em que teremos problemas para manter o calendário nas atuais 19 ou 20 corridas. Ao mesmo tempo, as equipes, protagonistas do show dentro das pistas, querem receber uma fatia maior do bolo – justamente, diga-se de passagem. O modo de gestão de Ecclestone parece perto da falência.
Por isso, meus amigos, não se iludam. A Fórmula 1 raras vezes se dobrou a fatores políticos externos e não cederia exatamente agora. A suspensão do GP do Bahrein só se deu após um acordo econômico entre as duas partes. Simples assim. E a solução mais factível, pelo que vi até agora, é enfiar a corrida em Sakhir no dia 20 de novembro, após o GP de Abu Dhabi, empurrando o GP do Brasil para 4 de dezembro. A data deve coincidir com a última rodada do Brasileirão 2011. Ou seja, seria um desastre para os promotores brasileiros, que perderiam boa parte do retorno de mídia, brigando com o futebol. Mas para Bernie Ecclestone, a diferença é mínima. Seu lucro será o mesmo, com a taxa paga pelos promotores da corrida. E assim caminha a F-1.

Fonte: voandobaixo
Disponível no(a):http://globoesporte.globo.com/platb/voandobaixo

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