17 de fev. de 2011

Como construir uma miniatura do Fórmula 1 de seus sonhos - com Lego!


Quando era um garoto, Luca Rusconi foi com o pai ao Grande Prêmio da Itália de 1975. Lá os engenheiros da Ferrari o acompanharam nos pits e mostraram o carro com o qual Niki Lauda conquistaria o título no dia seguinte. 34 anos depois, Rusconi projetou uma réplica virtual e a construiu com Legos. Veja como foi – e tente repetir em casa.

[Aviso do editor: esse cara é completamente maluco...]

Em setembro de 1975, durante a sessão de classificação do GP da Itália, Niki Lauda conquistou a pole position com a sua Ferrari 312T à frente de seu colega de equipe Regazzoni. Eu fiquei empolgado quando meu pai me disse que o circuito de Monza não ficava longe de casa. Insisti até que ele me levasse lá!


Quando chegamos ao circuito o público já havia partido. Eu comecei a gritar no alambrado do pit lane querendo ver os carros de perto. Por sorte um engenheiro da Ferrari se aproximou e me levou para visitar a garagem: foi meu primeiro e mais perto contato que tive com um carro da Fórmula 1. O carro que iria faturar o mundial no dia seguinte.
Apesar da minha paixão por corridas ter acalmado atualmente, tentei construir um bólido assim que pude: primeiro modificando modelos Lego Technic originais, depois me dedicando aos detalhes, da mesma forma com que um modelista trabalha em novas criações.
Minha abordagem ao construir mudou bastante quando comparo com o que fazia na infância: a falta de tempo e espaço me força a estudar o projeto de todo o modelo antes de começar a construí-lo, reduzindo drasticamente qualquer tipo de improvisação. Tive sorte quando descobri alguns softwares dedicados de CAD 3D, inclusive com bibliotecas abrangentes de peças e outras ferramentas de desenho para renderização e instruções de montagem. Antes disso, eu estudava as diferentes soluções de montagem usando o MS Excel!

Escolha o objeto
É difícil ver e apreciar soluções originais, algum toque especial ou um bom projeto nos carros da Fórmula 1 atual. Cada pequeno detalhe foi projetado no túnel de vento, e a carroceria é coberta com toneladas de asas, aletas, winglets, barbatanas, etc.
Na minha opinião eles são muito parecidos uns com os outros. Por isso, prefiro os carros antigos que fizeram história na Fórmula 1 e se tornaram marcos ao lançar soluções técnicas que viraram referência nos anos seguintes; estes carros são muito populares, não apenas entre os fãs da F1.

Obtendo fotos e dados
Uma vez escolhido o modelo a ser reproduzido, a primeira coisa a fazer é colecionar todas as informações disponíveis sobre o carro de verdade. Já que estamos falando da Fórmula 1, é bem fácil achar fotos e vídeos na internet, ao mesmo tempo em que é difícil achar detalhes do que se esconde sob a carroceria: informações oficiais sobre as dimensões do chassi, a forma e geometria das suspensões, a configuração do motor, etc.
Poucas das grandes e mais gloriosas fabricantes do passado continuam na Fórmula 1 ou mantêm um site oficial, e é comum encontrar informações diferentes e conflitantes até mesmo em livros. De qualquer forma, coletar dados técnicos e esboços é OBRIGATÓRIO para tocar um projeto desses.

Definindo a escala
Construir um modelo com Lego é divertido, mas você sempre precisa considerar o número limitado de peças existentes. Os mais críticos são as dimensões de rodas e pneus disponíveis: eles geralmente definem a escala final do modelo! Obviamente é importante também decidir o nível mínimo de detalhes que você quer implementar: Eu prefiro que meus carros tenham volantes funcionais, suspensões dianteira e traseira com amortecedores, transmissão, barras estabilizadoras e outras características principais (por ex. as saias da Lotus 79). Para definir a escala geral do modelo eu geralmente imprimo (provavelmente em formato A3) um desenho com as visões laterais e superiores e as comparo com dados conhecidos (entre-eixos, altura, largura, etc.). Calculo a escala a partir do próprio desenho e assim avalio as dimensões de todos os outros pequenos detalhes. Geralmente me inspiro e obtenho informações em manuais de instrução de kits de montagem.
Uso então uma planilha no Excel para comparar todas as dimensões derivadas do desenho e aquelas do carro de verdade com meu modelo em Lego.
Durante a fase de projeto eu gosto de sobrepor uma imagem do Lego em CAD sobre o desenho de referência para verificar o resultado e a fidelidade das proporções como um todo. Já que as dimensões do modelo são calculadas diretamente na quantidade de peças, a precisão esperada deve ser inferior a meia peça! A escada mínima para construir um modelo com todos os detalhes necessários é de cerca de 1:10, mas já que há poucos grandes pneus de borracha disponíveis em Lego e são eles que controlam o tamanho final, a escala fica geralmente entre 1:7 e 1:8.

Projetando com CAD 3D
Eu normalmente uso o MLCad 3.20 de Michael Lachmann para projetar o modelo 3D, e o LDview 3.2 de Travis Cobbs para visualizá-lo. O MLCad é realmente simples e amigável e inclui um fácil gerenciamento de submodelos para construir modelos complexos. Este recurso é útil também para controlar a sequência de montagem. Durante a fase de desenho eu geralmente acrescento imediatamente os passos de montagem e passos de rotação do modelo para identificar melhor a área de trabalho, mas mantenho os submodelos em ordem alfabética. Eu os organizo na sequência de construção apenas no final do processo.
O primeiro submodelo que preparo é sempre o que inclui o eixo de referência: é basicamente uma estrutura de peças 1×10 representando o eixo longitudinal do carro (em amarelo na ilustração abaixo) mais os eixos dianteiro (azul) e traseiro (verde), identificando o entre-eixos. Peças 1×10 são úteis para medir as distâncias calculadas em encaixes com a planilha do Excel. As mesmas peças representam a altura do solo onde os pneus estão posicionados.

Acrescento ainda uma pequena coluna feita com peças redondas de 1×1 mudando de cores a cada 10 peças, para medir a elevação vertical dos componentes.
Uma vez selecionados os pneus com suas dimensões relevantes, estou pronto para começar o resto do modelo.
O chassi e a suspensão são projetados ao mesmo tempo para melhor reproduzir a geometria e funcionalidade da suspensão original.
Para a suspensão traseira eu começo com um solução compacta incluindo o diferencial e transmissão, com uma relação de marchas <1 para aumentar a velocidade de rotação do virabrequim, já que não há jeito de se conseguir espaço para uma caixa de marchas que funcione. Esta solução permite que a distância entre o motor e o eixo traseiro seja minimizada.

A geometria da suspensão traseira sempre é inspirada em fotos e diagramas de carros de verdade. A quantidade, forma e posição dos braços podem variar, tanto nos superiores quanto nos inferiores, além da localização dos pontos de ligação.

Quando presentes, eu reproduzo também as barras estabilizadoras com o formato correto, além de vários outros detalhes técnicos como discos de freio, sistemas de arrefecimento e entradas de ar, radiadores, dutos, etc. A suspensão dianteira inclui o sistema de direção, com o pinhão e cremalheira. Sistemas mais simples e compactos geralmente são aperfeiçoados com discos de freio e tomadas de ar relevantes.

O motor é o “coração” de um carro de corrida: apesar de hoje o número de cilindros e a configuração do motor serem ditados por regulamentos técnicos, no passado esses parâmetros eram livres e por isso muito importantes para as principais escolhas técnicas dos projetistas e fabricantes!
Assim, apesar da Ferrari usar um boxer 12 cilindros durante boa parte da década de 1970, muitas equipes no Reino Unido eram fiéis ao bom e velho Cosworth V8 DFV.
Tubos de escape obviamente estão relacionados ao número de cilindros e sua organização às vezes é bem complexa: no MLCad eles podem ser projetados com o script LSynth de Kevin Clague. É preciso algum tempo para pegar a prática ao posicionar as peças como no LSynth, mas depois de algumas tentativas você pode conseguir uma organização dupla de três tubos em um (mangueiras brancas) ou ainda um belo 4 em 1.

É uma pena esconder o chassi, suspensão, motor, radiadores e todo o resto das peças que ficam sobre a carroceria, mas eu considero o modelo terminado apenas quando a estética está o mais próximo possível do original.

Passo a passo coloco as peças da carroceria no lugar: o bico, a asa dianteira, as entradas laterais de ar, as aberturas para o ar quente que sai dos radiadores dianteiros, as abas próximas das rodas traseiras, e finalmente o cockpit, a tomada de ar no santantônio, a asa traseira e sua base.

Dicas
Aqui estão algumas sugestões de montagem para o MLCad que eu descobri ao projetar meus modelos.
Eu geralmente agrupo as peças que serão rotacionadas em grupo em submodelos, já que qualquer modificação pode ser facilmente aplicada aos submodelos usando os eixos de referência. O MLCad inclui estas mudanças no modelo principal sem problema algum! No exemplo seguinte a asa dianteira é um submodelo que pode ser livremente rotacionada em relação ao bico do carro. Assim basta selecionar o ponto de rotação (usando o botão correspondente) como um ponto “personalizado” e ele será reconhecido no modelo principal como o ponto de rotação para todo o submodelo.
Há três tipos diferentes de grades para rotações e deslocamentos nas configurações do MLCad: grosseiro, médio e fino. Para melhores resultados, especialmente quando se trata da rotação de submodelos grandes, sugiro usar um ângulo de rotação de apenas 0,5 graus como mostrado na tabela a seguir. Este valor é útil também para combinar com o ângulo de 22,5 graus comuns em conectores e dobradiças Technic.
Usar submodelos é útil também para implementar técnicas SNOT (Studs Not On Top, “sem o botão para cima” em tradução direta), nas quais as peças não são organizadas na posição vertical tradicional. Isso me permite obter bons resultados e soluções interessantes sem os botões que ficam sobre as peças.

No final das contas posso compartilhar minha atenção aos detalhes e proporções não apenas com os viciados em Fórmula 1, que são capazes de admirar a precisão de meus modelos mas não fazem ideia do desafio que é construí-los com peças Lego, como também com os AFOLs, que talvez valorizem algumas técnicas de montagem, mas ignorem a importância das peculiaridades do carro…

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/

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