16 de nov. de 2013

Este Dodge Dart por R$ 3 mil será o projeto dos sonhos de alguém


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Todos os dias passo em frente a uma oficina de bairro, daquelas ligeiramente obscuras e quase invisíveis, na zona oeste de São Paulo. Fica em uma avenida bastante movimentada, mas quase ninguém para naquela região – fica próximo ao acesso de uma rodovia. Como todo antigomobilista tem um pouco de cão farejador em seu sangue enferrujado, vi de cara a pontinha da traseira de um Dart empoeirado, lá no fundo, mas nunca parei para conversar com o dono. E não é que eu deveria ter feito isso antes?


O que temos aqui é um Dodge Dart 1978, azul capri de plaqueta, pintado de preto. Não há dúvidas de que este é um projeto para longo prazo: todos os acabamentos estão danificados, como as lanternas, grade e frisos, a tapeçaria original deu lugar a um jogo de bancos de Dodge Magnum revestidos com tecido parecido com o do Fiat Prêmio CSL, a pintura está horrível e a massa de acabamento foi mal aplicada. Para encerrar com chave de ouro, o dono soldou calhas na laterais, fazendo deste o primeiro cruzamento de muscle car com SUV da história.
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Por outro lado, o motor não fuma, o câmbio está engatando macio e mais ainda: eu conhecia este carro antes de ele sofrer este abuso visual. Era um Dodge bastante original, gasto pelo tempo, mas intacto estruturalmente. O proprietário pede R$ 3 mil, mas há mais R$ 4 mil de multas (!), totalizando pouco mais de sete contos. Só que, como você vai descobrir posteriormente ao pagá-las no Detran, todas estas multas caducaram porque ocorreram há mais de cinco anos: gaste quase todo este dinheiro para levantar o Dart. Mas guarde um bom bocado para um belo porre com os amigos.
Caso você queira comprar este Mopar, vai precisar falar com Doc Brown e pegar o seu De Lorean emprestado. Não esqueça de programar a data de destino para antes de junho de 2005 – porque o que você acabou de ler foi a história verídica do Dart Games, que, nem eu mesmo acredito, está há oito anos e meio comigo. Ao mesmo tempo que peço desculpas pela trollada, fica a dica: se você quer achar o seu antigo dos sonhos, procure nos lugares mais inóspitos possíveis. Avisar seus amigos e família – especialmente se você tem parentes no interior – sobre a sua missão também faz toda a diferença.
E, sim, foi um golpe de sorte inacreditável – na época, R$ 7 mil já seria preço de achado por um Dodge, imagine menos da metade disso. Estas fotos aí em cima foram tiradas quase um ano depois que o comprei. No dia que o levei para casa, a faixa branca ia do capô à traseira, sua dianteira estava lambendo o chão e cada roda calçava um pneu diferente, todos ressecados.
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Dois anos depois disso, ele ganhou volante de madeira da Grant, grade de alumínio do Dart 1969 americano, tampa de combustível e lanternas novas, suas rodas e emblemas foram restaurados, a suspensão e os freios foram refeitos e o motor ganhou uma retífica básica. E, claro, as calhas laterais foram para o espaço. Fiz tudo isso apenas para que ele pudesse ser curtido – sabia que não teria condições financeiras de fazer o projeto radical que sonhava assim, logo de cara.
Tudo o que fiz depois disso foram anos de leitura, conversas com gente daqui e de fora do País, composições e composições de receitas e, depois disso, haja sangue, suor e lágrimas pra juntar a grana e importar zilhões de componentes – alguns trazidos debaixo do braço, outros, graças à ajuda de amigos.
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Hoje, como muitos de vocês sabem, ele está assim. Restauração é uma coisa difícil em todos os sentidos e às vezes dá vontade de largar tudo. Mas quando a doença faz parte de você, não adianta resistir – muito menos desistir.
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