2 de ago. de 2013

O que acontece quando o circo da Fórmula 1 chega à cidade


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Verão, 40 graus, público refrescando-se com cerveja, motores V8 da Mercedes-AMG gritando algo, e o paddock da GP2, onde todos querem melhorar seu carro. Estes são os bastidores de Hungaroring.

Na sexta-feira à noite eu estava indo encontrar Alfonso de Orléans-Borbón, que foi gentil o bastante para me emprestar uma credencial para o paddock da GP2 no último minuto do GP da Hungria. Como todo mundo por ali, eu tentei descolar uma credencial para a Fórmula 1 a tempo de ver a corrida, e como quase todos, não consegui.
Enquanto eu passava pelo hotel Le Méridien, notei uma certa multidão na entrada. Não dei muita bola. O sushi bar era perto do Gresham Palace, onde meu cérebro finalmente percebeu o que estava acontecendo. Adivinhe só: o circo chegou!
Na entrada havia várias mulheres altas usando vestidos curtos e tentando tirar fotos com seus smartphones. O que poderia ter deixado tantas húngaras lindas tão empolgadas? Um tri-campeão de Fórmula 1.
Vi exatamente o mesmo que elas: a parte de trás da cabeça de Vettel enquanto ele entrava, cercado por seguranças.
Em cinco minutos eu tinha em meu bolso uma credencial que não me daria acesso ao território da Fórmula 1, e uma promessa de Alfonso de que ele faria o possível para me colocar lá dentro. Hora de tomar uma cerveja.
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Eu poderia dizer que já passava do meio-dia quando cheguei ao autódromo com o Autobianchi, pois todos já estavam bêbados e é preciso algum tempo para ficar assim. Um grupo de italianos me cumprimentou por causa do carro, e enquanto eu procurava um lugar para estacionar perto do paddock da GP2, passei por uns finlandeses que ficavam repetindo KIMIKIMIKIMI. Pareciam quase suecos.
Lá dentro o inconfundível ronco de motor flat-6 dava as boas vindas. Era o Porsche Mobil 1 Supercup. É incrível como os novos 911 sempre aparecem em todas as categorias do automobilismo logo que são lançados. E esses GT3 Cup soam maravilhosamente bem. 460 cv de aspiração natural ecoando por um escape central. São as coisas simples da vida.
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Quando cheguei ao caminhão da Racing Engineering, a temperatura já estava perto dos 40 graus. Mais tarde descobri que os socorristas atenderam 122 pessoas devido ao calor (e à cerveja) só no sábado. Foram mais 116 no domingo, mas nenhum deles com gravidade. Os cobertores de pneu não são usados na GP2, mas eles nem seriam necessários nesse caso.
Até a chegada de Alfonso, fui acompanhado por Thomas, o diretor esportivo da equipe, que me apresentou ao mundo da GP2. Agora você pode saber tudo sobre ela. Mas antes aqui vai um número que não posso esquecer: no começo da temporada de F1 de 2013, 24 dos 125 pilotos da GP2 pilotaram ou vão pilotar na F1. Boa escola.
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Os carros da GP2 são um pouco mais honestos que os da F1. A Dallara fornece os chassis de carbono, kevlar e alumínio e os painéis da carroceria para todas as equipes, assim como a Brembo fornece freios, a Magneti Marelli fornece os eletrônicos e a Mecachrome os Renault V8 de quatro litros. Eles são afinados para render 620 cv e são limitados a 10.000 rpm.
Eles não têm controle de tração, nem telemetria, nem direção hidráulica, e os componentes da suspensão são feitos de aço em vez de carbono para manter o custo baixo. Eles também suportam um pouco mais de abusos, o que é bem importante, considerando que o grid é muito mais nivelado. Mas não pense que isso é fácil. A asa dianteira suporta 400 kg de downforce. Elas também custam US$ 22.500 cada. A fita vermelha no duto de ar do freio de carbono é o único componente barato à vista.
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Quando você olha para os carros de F1, você encontra formas surpreendentemente orgânicas escondendo a mecânica do vento, e são minúsculas diferenças que fazem um carro mais rápido que o outro. As soluções de engenharia mais brilhantes geralmente são banidas porque, embora a F1 seja considerada o ápice da tecnologia automotiva, ela é na verdade um reality show comandado por Bernie Ecclestone, que é capaz até mesmo de fazer a Pirelli destruir sua reputação fazendo pneus terríveis.
Na GP2 tudo é mais simples e físico devido à ausência de auxílios eletrônicos, mas o gerenciamento de pneus é tão importante quanto. Os carros de F1 são projetados para gerar o máximo de downforce possível, enquanto os carros de GP2 usam mais grip mecânico. Os V8 da Renault também são mais torcudos, o que significa que os pneus traseiros precisam aguentar mais. Como a cambagem negativa também é regulada pela FIA, os pilotos precisam pensar mais sobre os pneus antes de entrar em ação. Isso sem contar que Hungaroring não costuma ser muito simpática com pneus.
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Mas voltando à F1, enquanto eu estava vendo os preparativos da GP2 para a corrida, a classificação da F1 começou na pista. E isso foi tudo o que eu precisava ver. Aqui está o porquê:
Há duas coisas que fazem a F1 incrível, a trilha sonora e a ação.
Sentado em uma curva de segunda marcha, perto da pista, ouvi todas as gloriosas reduzidas que meus ouvidos puderam aguentar. Talvez pela última vez. Depois que a ação acaba, você precisa de uma cerveja gelada em uma mão e uma TV HD na outra com Martin Brundle contando o que está acontecendo. Eles têm helicópteros, e você só tem um pequeno pedaço da pista na sua frente. E Hungaroring é um dos melhores em termos de visão da pista.
Apesar disso eu estava curtindo a vista limitada enquanto Hamilton conquistava aquela pole importante.
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Quando a atração principal acabou, as coisas esquentaram no paddock da GP2.
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Com as rodas finalmente no chão, tudo o que eles precisavam era um empurrão para fora da garagem. Depois começaram o procedimento de partida, e a primeira marcha engatada pelo paddle shifter GearTek.
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É legal ver como os pilotos saem com os carros, todos alinhados no tipo mais incomum de congestionamento. Gasolina no tanque e carro na pista.
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O ronco do SLS AMG safety-car e da E63 AMG medical car é mai alto que o das versões de rua, e avisam que a corrida está prestes a começar.
A GP2 foi difícil de acompanhar. Os carros ficam juntos por algumas poucas voltas e no fim da corrida de uma hora descobri que o carro número 8 da Racing Engineering, pilotado por Fabio Leimer, terminou em quarto lugar.
Enquanto os adolescentes da GP3 se aprontavam para a sua vez, recebi uma ligação de Alfonso dizendo que ele havia conseguido uma credencial da Sauber “por uma hora”. Então lá fui eu. É claro, não era permitido fotografar, e foi uma olhada bem rápida, mas não posso reclamar.
Surpreendentemente a Sauber tinha o melhor lounge de todas as equipes de F1. Enquanto a primeira mulher a se tornar diretora de equipe na F1 estava dando uma entrevista na mesa ao lado, conversei com Alfonso sobre o Autobianchi A112 Abarth com suspensão modificada de sua mãe, e sobre como é andar com Ferrari com motor de F1 em Mônaco sem precisar de uma reconstrução de motor a cada 5.000 km.
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Quando Bernie Ecclestone passou escoltado pela polícia em um novo Classe S (que nem é dele, mas sim emprestado pela Mercedes em todas as corridas), não pude deixar de pensar que da próxima vez a escolta da polícia pode ser por um motivo muito diferente. Ainda bem que a Mercedes tem uma vasta gama de veículos.
A última pessoa que lembrei de ver antes de deixar o paddock foi a namorada de Jenson Button, na McLaren. Bela saída.
Já era tarde quando fui embora, por isso encontrar meu carro nunca foi tão fácil.
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O GP da Hungria teve um número recorde de visitantes neste ano, e o país teve um novo recorde de temperatura e um novo contrato com Bernie Ecclestone, que garante a permanência desta corrida no calendário pelos próximos sete anos.
No domingo assisti à corrida pela TV, com uma cerveja gelada na mão.
Hamilton venceu e eu não perdi nada.
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[Fotos: Máté Petrány, Getty Images]

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