18 de jul. de 2013

Teste:Gol Track segue trilha aberta pelo Uno Way. Quem leva a melhor?Por: Daniel Messeder

 
Gol Track e Uno Way (28)
Eles são os carros mais vendidos do país e, como tal, precisam estar alinhados ao gosto popular. Desde que foi completamente reformulado, em 2010, o Uno injetou uma dose de jovialidade no segmento e se firmou como um carrinho descolado, até por conta das cores e opções de personalização disponíveis. Já o Gol sempre seguiu a cartilha mais séria da Volkswagen, que culminou no redesenho da dianteira no ano passado, quando passou a ostentar os faróis e grade retilíneos que figuram nos demais carros da marca.
Mas o crescimento do Uno fez a VW apostar numa fórmula inaugurada pela própria Fiat por aqui em 1999, com o Palio Adventure: a dos “aventureiros urbanos”. A marca alemã então providenciou não só um Gol Rallye 1.6 (que já existiu em outras gerações) como também preparou o inédito Track 1.0. Apesar do nome “pista”, em inglês, ele incorpora adereços off-road que o fazem entrar na trilha do Uno Way. Juntamos  os dois na cidade, na estrada e, claro, na terra, para jogar um pouco mais de areia na discussão. Vamos ver no que deu?
Gol Track e Uno Way (26)
Como desafiante, começamos pelo Gol. E a melhor notícia é que o Track não é só cosmética: a principal novidade é a suspensão elevada e recalibrada, que em conjunto com os pneus Pirelli de uso misto (175/70 R14) deixou o hatch 23 mm mais longe do solo – total de 186 mm. Curiosamente, o estepe é de outra marca, Goodyear, e de medidas diferentes, 185/65. No mais o modelo acompanha a moda “quero ser SUV”, com cobertura plástica das caixas de roda sem pintura, assim como as partes inferiores dos para-choques. Para completar, a grade é pintada de preto brilhante, os faróis têm dupla parábola e os auxiliares de neblina são item de série. Atrás, as lanternas escurecidas dão um toque esportivo. E as rodas de liga aro 14″, opcionais que constavam no carro testado, trazem desenho exclusivo para a versão.
Gol Track e Uno Way (25)
É um pacote semelhante ao oferecido pelo Uno Way, que também investe em proteções plásticas sem pintura nos para-lamas, mas vai além: borrachão lateral e para-choques também não vêm a cor da tinta – tudo para deixar o visual mais despojado e não riscar a pintura com eventuais cascalhos das estradinhas vicinais. A linha 2014 ganhou rodas de liga com novo desenho e outro pomo da alavanca de câmbio, mas ficou faltando o principal: os pneus de uso misto só estão disponíveis na versão Way com motor 1.4. Nesta 1.0, eles são os mesmos 175/65 R14 de baixa resistência à rodagem que vêm no Uno Economy, para maior economia. OK, valeu a intenção, mas além de não ajudarem na terra ainda comprometem o estilo, pois são muito “mirradinhos” em relação às caixas de roda alargadas. A suspensão elevada garante 183 mm de altura livre do solo (18 mm a mais que no Vivace), mas poderiam ser 190 mm se usasse os pneus mistos do Way 1.4.
Gol Track e Uno Way (31)
Se por fora a fantasia é semelhante, por dentro o Fiat investe bem mais na diferenciação. Originalmente, o Uno já tem um painel mais lúdico que o do Gol, com desenho mais bem trabalhado e que faz uso de texturas diferentes em cada peça – tirando um pouco o aspecto de carro popular. Acrescente ainda o aplique no centro do painel e o revestimento exclusivo dos bancos (com o nome Way bordado no encosto dos bancos dianteiros) e temos um ambiente mais alegre no modelo mineiro. Já o Gol reflete o aspecto sisudo dos VW, com praticamente o mesmo painel das demais versões e um monótono acabamento quase que totalmente cinza. Mais legal ficou o revestimento do teto e as colunas em cinza escuro, que dão um tom esportivo ao interior. Ainda que seja menos atraente no estilo, a cabine do VW leva a melhor em acabamento e qualidade de construção, com peças de encaixes mais justos, sem rebarbas e menor ruído interno.
Gol Track e Uno Way (38)
Diferenças visuais à parte, estruturalmente eles continuam sendo um Gol e um Uno. Ou seja, carregam virtudes e defeitos dos projetos originais. O VW tem economias bobas, como a falta de ajuste da direção (sequer em altura) e um banco ruim para o motorista, com espuma de densidade muito firme e uma regulagem de altura que só altera a inclinação do assento – e não o banco todo como no Uno. Junte isso aos pedais ligeiramente deslocados à direita e encontramos uma posição de dirigir apenas razoável. Já o Fiat traz um banco mais aconchegante e oferece, ainda que como opcional, os ajustes de altura da direção e do banco. No fim, a posição ao volante do Fiat é mais agradável e faz diferença no conforto para quem passa muito tempo dentro do carro. Mas é preciso se acostumar com os botões do vidros elétricos no centro do painel, enquanto no Gol apenas os comandos do vidros traseiros estão ali – os dianteiros ficam na porta.
Gol Track e Uno Way (36)
O espaço interno é semelhante entre eles, com o Gol oferecendo um vão um pouco maior para as pernas e o Uno para a cabeça, mas no geral ambos levam quatro adultos sem grandes problemas. O mesmo empate técnico vale para o porta-malas: de 280 a 290 litros no Fiat (dependendo da regulagem do encosto traseiro) e 285 litros no VW. Vantagem do Uno é a abertura interna do compartimento e do bocal do tanque – no Gol há apenas o botão de destravar a tampa traseira na chave canivete, mas na hora de abastecer é preciso entregá-la ao frentista.
Gol Track e Uno Way (45)
Receita papa-obstáculo
Não é preciso rodar muito tempo para reconhecer as vantagens de se rodar mais alto num país esburacado e com lombadas foras da lei como o Brasil, além das estradas sem pavimentação. É notório como Track e Way superam os obstáculos com maior facilidade e conforto que seus irmãos “civis”, além de, no caso do Gol, o pneu de uso misto ter as laterais mais reforçadas contra eventuais furos e rasgadas ocasionadas por crateras abertas no asfalto. A VW trabalhou bem a suspensão do Track, o deixando sensivelmente mais macio na hora de absorver os impactos, mas sem perder em praticamente nada a boa dirigibilidade característica do Gol. O hatch continua transmitindo segurança nas curvas, tem a direção um pouco mais pesada e freios eficientes e bem modulados – confira o resultado dos testes no fim da reportagem. Isso sem falar no câmbio, ainda uma referência em termos de precisão e engates curtos.
Gol Track e Uno Way (29)
Já o Uno preza pela facilidade de dirigir. Seus comandos são mais leves, o câmbio tem curso mais longo e o freio é mais sensível, enquanto a direção é rápida e não exige força. A suspensão macia sugere até um carro molenga, mas é só impressão, pois depois que a carroceria inclina ela apoia bem e o Way segue a trajetória desejada. Eu diria até que o Uno é mais divertido que o Gol, por interagir mais com o motorista, mas não tem a mesma precisão dinâmica. Os pneus “verdes” cantam muito facilmente e, nos buracos, não ajudam a suspensão a absorvê-los – ao contrário dos pneus de uso misto do Track, com as laterais mais gorduchas. Acaba que, mesmo mais macio, o Uno transmite mais os solavancos aos ocupantes, sem demonstrar a mesma solidez do VW.
Os motores 1.0 8V em questão já pedem aposentadoria (a VW lançou o moderno 1.0 três cilindros no Fox, que vai chegar ao Gol, e a Fiat desenvolve um novo “mil”) mas, novamente, o Track sai na frente. O VW tem mais pique nas saídas e supera, em segunda marcha, ladeiras em que o Way implora por uma primeira. Além disso, o propulsor TEC (evolução do VHT) é mais silencioso e vibra menos que o Fire. A 120 km/h na estrada, ambos trabalham a cerca de 4 mil rpm em quinta marcha, mas no Gol é possível conversar sem levantar a voz, enquanto no Uno o motor participa do papo ativamente. Nos aclives, o Fiat logo pede redução de marcha, enquanto o VW sente menos o aclive. Ultrapassagens, porém, pedem cautela nos dois carros, principalmente se estiverem carregados e com o ar-condicionado ligado.
Gol Track e Uno Way (4)
Nossas medições comprovaram, em números, o sentimento de quem os dirigiu. O Gol abriu boa folga nas acelerações, com 0 a 100 km/h em 16,7 segundos, contra 18,1 s do Uno – e também nas retomadas, com 15,1 s contra 15,7 s de 40 a 100 km/h. É uma diferença notável se levarmos em conta que, no papel, estamos falando de carros com divergência de apenas 1 cv – 75 cv no Way e 76 cv no Track. A resposta está no maior torque do VW, de 10,6 kgfm contra 9,9 kgfm do Fiat, nas mesmas 3.850 rpm, o que compensa com sobras os 29 kg a mais do Gol. Além disso, o todo Gol 1.0 tem a relação de diferencial bem curta, tanto que as duas primeiras marchas acabaram curtas demais – na redução de terceira para segunda dá até um tranco se você não for bem suave nos pedais. Em termos de consumo, houve praticamente um empate, com pequena vantagem para o Track. Ou seja, andando mais e bebendo menos, o Gol provou ter um conjunto mais acertado.
Gol Track e Uno Way (2)
Sensivelmente mais forte e melhor calçado, o Track enveredou com mais desenvoltura fora do asfalto. Graças à boa altura livre do solo, chão de terra batida e cascalho estão longe de ser um problema para essa dupla, mas o Gol é sempre mais silencioso e absorve melhor os obstáculos, além de seus pneus terem mais aderência e toparem até umas curvinhas mais ousadas. Nas erosões, o Way mostrou maior curso de suspensão (o Track levantava a “patinha” facilmente), mas em ambos é preciso ter cautela para não raspar os para-choques. E atenção: se chover e a estrada complicar, é melhor não arriscar… Afinal, são apenas hatches de tração dianteira.
Roupa cara
Conforme a trilha se aproxima do fim, o Gol parece que vai levar a melhor. Mas quando o assunto chega às contas, surge uma disparidade que pode inverter o resultado: enquanto o Way sai por R$ 28.890 inciais, o Track já começa em salgados R$ 33.210. Tudo bem que o VW vem um pouco mais equipado, com faróis de neblina e vidros/travas elétricas de série, e pode receber mimos que o Uno não dispõe, como os comandos do som no volante, o sistema ECO Confort (que dá dicas no painel para economizar combustível) e o sensor de estacionamento traseiro. Mas, por R$ 33.194, você leva o Way com ar-condicionado, vidros e travas elétricas, som com entrada USB e computador de bordo, entre outros itens. O Track com o mesmo nível de equipamentos (mais os comandos no volante) salta para R$ 37.032. Direção hidráulica, duplo airbag e freios ABS são de série em ambos os carros, que também oferecem a mesma garantia de um ano.
Gol Track e Uno Way (5)
Diante dessa diferença de valores, o Gol Track passa a enfrentar a versão 1.4 do Uno Way, que parte de R$ 32.710 e traz motor com 88 cv e 12,5 kgfm, além dos pneus de uso misto. Nesse caso, o Fiat iguala o “pisante” do VW e inverte a vantagem no desempenho. E aí, com qual você fica?
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz

Ficha técnica – Volkswagen Gol Track
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 999 cm³, flex; Potência: 72/76 cv a 5.250 rpm; Torque: 9,7/10,6 kgfm a 3.850 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Peso: 974 kg; Capacidades: porta-malas 285 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 3.924 mm, largura 1.659 mm, altura 1.488 mm, entre-eixos 2.467 mm
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 6,1 s
0 a 80 km/h: 10,7 s
0 a 100 km/h: 16,7 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a marcha: 15,1 s
80 a 120 km/h em 4a marcha: 20,3 s
Frenagem
100 km/h a 0: 41,3 m
80 km/h a 0: 25,6 m
60 km/h a 0: 14,3 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,4 km/l
Ciclo estrada: 11,0 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 14,1 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 160 km/l
Ficha técnica – Fiat Uno Way
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 999 cm³, flex; Potência: 73/75 cv a 6.250 rpm; Torque: 9,5/9,9 kgfm a 3.850 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Peso: 945 kg; Capacidades: porta-malas 280/290 litros, tanque 48 litros; Dimensões: comprimento 3.770 mm, largura 1.656 mm, altura 1.548 mm, entre-eixos 2.376 mm
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 7,1 s
0 a 80 km/h: 12,0 s
0 a 100 km/h: 18,1 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a marcha: 15,7 s
80 a 120 km/h em 4a marcha: -
Frenagem
100 km/h a 0: 45,3 m
80 km/h a 0: 28,0 m
60 km/h a 0: 15,9 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,3 km/l
Ciclo estrada: 10,9 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 15,8 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 151 km/l

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