30 de jun. de 2013

Por que os pilotos ainda morrem em acidentes?

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A morte de Allan Simonsen nas 24 Horas de Le Mans e a morte de Jason Leffler na semana anterior promoveu uma revisão das seis diferentes causas médicas de mortes de pilotos, e do que está sendo feito para tornar as corridas mais seguras.

O automobilismo é o segundo esporte mais popular do mundo. Há muitos motivos para a popularidade das corridas, mas o perigo iminente do esporte certamente tem sua parcela de responsabilidade.
A morte do piloto Allan Simonsen nos primeiros minutos das 24 Horas de Le Mans levou muitos de seus colegas pilotos a questionar a segurança do esporte, e a colocar em cheque se os órgãos responsáveis por sancionar as provas estão fazendo o bastante para mantê-los seguros. Nossos amigos e navegadores / pilotos estão se sentindo vulneráveis ultimamente devido às mortes recentes.
Os sentimentos de vulnerabilidade e tristeza e os questionamentos a respeito da segurança que estamos vendo em nossos colegas pilotos é exatamente a mesma expressão de dor e indignação que vimos há pouco mais de um ano, com a morte trágica de Dan Wheldon durante uma corrida da IndyCar em Las Vegas. Muitas vezes vemos a raiva nos nossos colegas pilotos, que brigam com estas emoções e pensam que algo poderia ter sido feito para evitar mais aquela morte. Sim, temos um longo caminho a percorrer, mas vamos dar uma olhada em como a segurança nos carros de corrida avançou.
Como piloto na Grand-Am Rolex e na Continental Tire Challenge, chamei meu colega piloto e neurocirurgião Dr. Jim Lowe para me ajudar a colocar estas mortes em perspectiva, e revisitar brevemente e em termos leigos as causas médicas das mortes de pilotos.
Mais do que isto, queremos mostrar o progresso que foi feito no automobilismo pelos vários órgãos responsáveis e para assegurar a nossos colegas pilotos que estamos mais seguros do que nunca, e que as organizações estão fazendo um trabalho excelente ao implementar mudanças que nos protejam de ferimentos e, em ultima instância, da morte.
A seguir, temos uma revisão — do ponto de vista médico — de por que os pilotos morrem. Não vamos dizer que eles morreram por causa de uma falha na suspensão ou nos freios. Vamos contar o que aconteceu nos corpos dos pilotos que causou a morte. Mas não vamos ficar só nisso. Vamos também te ajudar a entender como as regras mudaram para proteger pilotos para que estes ferimentos e mortes se tornem cada vez mais raros.
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Contusão

Contusão é o termo médico para quando um objeto atinge o corpo sem penetração, ou com penetração mínima na pele (em contraste aos ferimentos por penetração discutidos abaixo). Contusões podem ferir muitas partes do corpo, e mais frequentemente os resultados são ossos quebrados e vários ferimentos em tecidos moles, e não a morte.
Mas nem sempre é assim, pois ferimentos por contusão eram extremamente comuns em todas as formas de automobilismo antes da implementação dos cintos de segurança. O uso universal de cintos de segurança e as melhorias no design dos cintos ao longo das últimas cinco décadas salvaram as vidas de incontáveis pilotos. Os cintos de segurança mantém os pilotos firmemente presos a seus carros, evitando que eles sejam arremessados para fora e atinjam objetos estacionários.
Contusões ainda são uma das causas de morte mais comuns entre os pilotos, mas como é necessário que algum objeto estacionário atinja o piloto, mortes por contusão são bem mais comuns em monopostos abertos onde partes do corpo dos pilotos ficam expostas.

Pilotos famosos mortos por contusão

Jim Clark

No dia 7 de abril de 1968, Clark morreu em um acidente no circuito de Hockenheimring, na Alemanha. o Lotus 48 de Clark saiu da pista e bateu nas árvores. Ele teve um pescoço quebrado, traumatismo craniano e ferimentos no peito e abdominais. Clark morreu antes de chegar no hospital. Como veremos mais adiante, este tipo de ferimento é bem mais comum em monopostos, mais especificamente os de cockpit aberto. Cabeça, pescoço e ombros ficam expostos para fora da gaiola de proteção e da carroceria. Todos os órgãos responsáveis vem exigindo sidepods cada vez mais altos nos carros  com cockpit aberto, de modo que os corpos dos pilotos ficam bem menos expostos hoje do que no passado. Na verdade, nos últimos anos vimos os protótipos mais rápidos deixando de usar cockpits abertos e adotando carrocerias totalmente fechadas. Os exemplos mais óbvios são os últimos Audi R18 que venceram em Le Mans, comparados aos “mesmos” carros que venceram a corrida há dez anos — os novos trazem o piloto totalmente coberto. O acidente espetacular de Allan McNish na edição de 2011 das 24 Horas de Le Mans é um bom exemplo de como o design dos carros de corrida modernos (incluindo o cockpit fechado) salvaram sua vida.

Joe Weatherly

Joe Weatherly defendia seu título na NASCAR quando morreu em 1964, em Riverside International Raceway, durante a quinta corrida da temporada. No impacto com o muro, sua cabeça saiu pela janela e foi esmagada contra o muro, matando-o na hora. Sua morte levou à criação de redes nas janelas, que agora são comuns em várias categorias do automobilismo pelo mundo. Agora você sabe porque todos os carros de  corrida  fechados precisam ter janelas ou redes nas laterais.

Dan Wheldon

Dan Wheldon foi o campeão da Indy 500 cuja morte causou muita ansiedade e preocupação em todos os pilotos. No IZOD Indy Car World Championship, em Las Vegas Motor Speedway no dia 12 de outubro de 2011, Wheldon se envolveu em um acidente com 15 carros durante a 11ª volta da corrida, na qual o carro de Wheldon voou aproximadamente 100 metros em direção à cerca, com a área do cockpit atingindo um poste ao lado da pista. A causa de sua morte foi contusão na cabeça, novamente, deixando evidente a vulnerabilidade dos monopostos abertos neste tipo de ferimento. O novo chassi Dallara usado por todos os carros da IndyCar desde 2012 foi batizado em homenagem a Dan (DW12) e inclui mudanças no cockpit e na asa dianteira para evitar que estes carros voem e proteger melhor a cabeça e o pescoço.

Jason Leffler

Jason Leffler era um popular piloto da NASCAR que morreu há apenas duas semanas. Ele estava em segundo lugar na primeira etapa em Bridgeport Speedway, um oval de terra com inclinação bem alta, quando seu carro capotou várias vezes na reta frontal, acertando o muro duas vezes e “rolando por toda a pista”. Sua autópsia mostra que a causa da morte foi contusão no pescoço. Mais uma vez, Jason estava em um carro “aberto”, sem portas e janelas, que deixava a parte superior do seu corpo exposta a objetos. Um aspecto muito importante deste acidente que está sendo divulgado agora é que o carro de Jason não tinha os bancos mais modernos, que evita movimentos laterais da cabeça e protege o pescoço de contusões e ferimentos por penetração. Os bancos modernos têm “abas” na base e nas laterais, que vão até o encosto de cabeça.
Outras mortes importantes por contusão: Gilles Villeneuve, Eddie Sachs e Bruce McLaren. Mais uma vez, frisamos que contusão como causa de morte de pilotos é mais comum quando o mesmo está exposto e não completamente protegido pela gaiola e carroceria.

Trauma por penetração

Trama por penetração é o termo médico para um ferimento causado quando um projétil (como uma bala) ou objeto estacionário (como o galho de uma árvore) penetra o corpo. Trauma por penetração (letal e não letal) também é menos comum  entre pilotos que dirigem carros fechados, nos quais a carroceria os protegem de objetos que poderiam penetrar seus corpos.
Assim como ocorreu com os traumas por contusão, o uso de cintos de segurança reduziu drasticamente o número de ferimentos e mortes por penetração em comparação aos primeiros anos do automobilismo. O design do interior dos carros também reflete as medidas de segurança tomadas para eliminar objetos pontiagudos, ou itens que não estejam firmemente presos do interior do carro. Traumas por penetração em extremidades não costumam ser letais, mas traumas por penetração no abdome, peito, pescoço e cabeça muitas vezes são fatais.
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Pilotos famosos mortos e feridos devido a traumas por penetração

Ayrton Senna

Senna liderava o GP de San Marino em Imola, na Italia, quando seu carro saiu da pista e acertou o muro a 217 km/h. A roda dianteira foi empurrada para trás e acertou seu capacete, causando traumatismo craniano fatal. A causa de sua morte foi trauma por penetração devido à peça da suspensão que penetrou seu capacete. Se a trajetória da colisão tivesse sido diferente por apenas alguns graus, é provável que a peça tivesse desviado de Senna completamente. Desde então, as peças da suspensão foram modificadas e de uma forma que seus componentes tenham bem menos chance de quebrar tornando-se “lanças”.

Felipe Massa

Em contraste às muitas mortes listadas neste post, Felipe Massa está vivo e bem, e atualmente é piloto da Scuderia Ferrari de Fórmula 1. Seu nome está aqui para ilustrar como os muitos órgaos competentes que governam o esporte estão tomando conta dos pilotos e como um acidente pode levar a uma modificação importante em um equipamento. No dia 25 de julho de 2009, durante a segunda bateria dos treinos de qualificação para o GP da Hungria, Massa foi atingido na cabeça por uma mola que se soltou do Brawn de Rubens Barrichello em um trecho de alta velocidade. Embora estivesse usando o capacete mais moderno, a mola acertou com força o suficiente para perfurar o capacete e penetrar sua cavidade ocular esquerda. Em sequência ele atingiu de cabeça uma barreira de pneus (que não causou ferimentos). Massa se recuperou para correr pela Ferrari no ano seguinte, mas em um ano virtualmente todos os órgãos competentes mudaram as exigências para capacetes que são usadas no mundo todo. Então, meus amigos pilotos, quando disseram em 2011 que seus capacetes que vocês usavam não eram mais permitidos na temporada de 2011, exigindo que vocês comprassem um novo capacete aprovado pela FIA, agora vocês sabem o motivo. Eles estão tentando proteger nossos miolos! Os capacetes mais novos são projetados para evitar penetrações por objetos voadores e são mais espessos e resistentes.
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Ferimentos na medula espinhal / base do crânio

Ferimentos na coluna cervical e, mais comum, onde a espinha se liga ao crânio, são mais raros do que nunca, principalmente graças ao uso obrigatório de dispositivos de contenção da cabeça e pescoço. Os autores deste artigo, assim como virtualmente todos os pilotos, usam o HANS, um dispositivo que, resumidamente, evita que a cabeça seja jogada para a frente durante a desaceleração repentina provocada por uma colisão frontal. Como os cintos de segurança prendem os ombros bem firmemente nos bancos, uma desaceleração repentina pode fazer com que a cabeça se flexione com muita força para frente e para baixo, causando fraturas na base do crânio e/ou nas vértebras cervicais. Isto pode causar a morte de várias maneiras, incluindo danos à parte de cima da medula espinhal e/ou na parte de baixo do cérebro, resultando na incapacidade de se mover e respirar.

Pilotos famosos mortos por danos à medula espinhal e fraturas na base do crânio

Dale Earnhardt

A morte de Dale Earnhardt teve muito impacto em pilotos do mundo todo, trazendo à tona os perigos dos ferimentos na cabeça e pescoço. Earnhardt morreu durante a última volta da Daytona 500 no dia 18 de fevereiro de 2001. Ele se envolveu em um acidente durante a última volta, na qual seu carro foi atingido por trás e acertou a parede externa. Ele foi declarado morto pouco depois e, como veremos mais adiante, morte súbita não costuma ter muitas causas. Diferentes dispositivos de contenção estavam sendo testados na época e a NASCAR aprovou sua utilização, mas não exigia que os pilotos o adotassem. Muitos pilotos (eu, inclusive) acharam que os dispositivos limitavam a mobilidade da cabeça e causariam desconforto. Pouco depois da morte de Earnhardt, todas as organizações do mundo começaram  a exigir o uso dos dispositivos. Como piloto, devo dizer que levou duas horas para me acostumar e desde então não soube de um piloto que entrasse em um carro sem o dispositivo. Ele nos faz sentir mais seguros, e É mais seguro. É uma pena que o Intimidator tenha que ter morrido para que o resto de nós acordasse. Como este vídeo mostra, não é preciso um impacto muito grande para causar um ferimento letal na base do crânio; os responsáveis pela morte de Earnhardt foram a falta de suporte para o crânio e o ângulo do impacto.

Adam Petty

No dia 12 de maio de 2000, Petty estava treinando para a Busch 200 da NASCAR Nationwide em New Hampshire International Speedway. Ao entrar na terceira curva, o acelerador de Petty prendeu, fazendo com que o carro fosse direto para o muro virtualmente de cabeça. Petty morreu na hora devido a uma fratura na base do crânio. É bem provável que Adam tivesse sobrevivido se estivesse usando um HANS moderno.

Jim Fitzgerald

Eu era um jovem cirurgião que trabalhava na pista durante o GP de St. Pete 1987, perto de minha cidade natal. Fitzgerald morreu na hora depois de atingir uma das barreiras de cimento praticamente de cabeça. Sua morte quase imediata sem qualquer evidência de trauma físico (ele não sangrava e não tinha contusões aparentes) nos mostrava que ele havia morrido de fratura na base do crânio ou uma ruptura da aorta. A autópsia revelou que a primeira opção era a correta.

Ferimentos por desaceleração repentina com ruptura de órgãos internos

Ferimentos por desaceleração repentina podem ocorrer com qualquer pessoa que se sujeite a uma redução repentina na velocidade do movimento do seu corpo, como acontece durante uma colisão frontal. O mecanismo deste tipo de ferimento é o seguinte: o corpo é parado de forma forçada mas o conteúdo das cavidades corporais permanecem em movimento por causa da inércia. O cérebro é particularmente vulnerável a tais traumas, bem como a aorta (a grande artéria que sai do coração). Neste tópico, daremos exemplos dos dois tipos(cérebro e aorta). Ferimentos no cérebro costumam resultar em um hematoma subdural, enquanto ferimentos na aorta costumam resultar em “transecção (ruptura) da aorta.

Pilotos mortos devido a ferimentos no cérebro causados por desaceleração repentina

Mark Donohue

Donohue foi morto durante uma sessão de treinos para o GP da Áustria em 1975. Na segunda volta, a cerca de 260 km/h, um dos pneus traseiros de seu March-Ford 751 estourou, causando a perda de controle do carro, que atravessou a proteção da pista por cerca de 55 metros, passando por um guardrail e indo parar em uma ribanceira. Donohue foi atingido na cabeça por um poste e ficou inconsciente. Vários minutos depois ele recuperou a consciência, e há imagens dele falando com o pessoal de salvamento, e aparentemente ileso. Ele foi levado para o hospital e ficou em observação. Ao longo do dia ele ficou confuso e entrou em coma, sinais clássicos de hematoma subdural que qualquer médico e enfermeiro conhece. Ele foi operado mais tarde naquele dia por um neurocirurgião, mas não suportou os ferimentos e morreu dois dias depois. Este tipo de morte é extremamente raro hoje em dia, pois há muito mais conhecimento sobre ferimentos internos na cabeça, e as equipes médicas são treinadas para reconhecer os primeiros sinais de danos cerebrais e coágulos. A utilização bem difundida de tomografia computadorizada em qualquer situação onde haja suspeita de que um piloto sofreu danos cerebrais é outra razão para esta causa de morte ser cada vez mais rara. Se você tiver dor de cabeça ou perder a consciência depois de um acidente, meu amigo piloto, tenha certeza de que será levado para o hospital local para uma sessão de tomografia computadorizada no seu cérebro. Podem agradecer ao Sr. Donohue por ajudar a salvar a vida de tantos pilotos no presente e no futuro.

Pilotos mortos devido a ferimentos na aorta causados por desaceleração repentina

Scott Kalitta

Kalitta foi um famoso piloto de dragsters Top Fuel, da famosa família de pilotos Kalitta. No dia 21 de junho de 2008 ele sofreu um acidente fatal durante a classificação final para a Lucas Oil NHRA SuperNationals. Seu caro estava a cerca de 482 km/h  quando o motor explodiu perto da linha de chegada. Os pára-quedas foram danificados e não puderam parar o veículo, que atingiu um poste de concreto que segurava a rede de proteção. Ele foi transportado ao hospital e foi declarado morto assim que deu entrada.

Roland Ratzenberger

Roland Ratzenberger morreu durante os treinos para a mesma corrida na qual Ayrton Senna perdeu a vida no dia seguinte. Ratzenberger teve vários ferimentos letais, incluindo uma transcecção da aorta e uma fratura na base do crânio.

Allan Simonsen

Embora ainda não saibamos a causa exata da morte de Allan Simonsen nas 24 Horas de Le Mans na semana passada, relatos dizem que ele estava consciente e falando quando a equipe de resgate chegou, e só então ficando inconsciente, sendo declarado morto pouco tempo depois. Ele pilotava um dos carros de corrida fechados mais modernos que existem e sua equipe de fábrica, a Aston Martin, tinha todo tipo de equipamento de segurança. Este vídeo onboard levanta a possibilidade (e nosso palpite) de que a causa do acidente tenha sido a aceleração do carro quando a roda traseira esquerda passou sobre um trecho pintado de azul, que ficou escorregadio na chuva. Não houve evidência de traumas por penetração, nem contusões. Portanto, a provável causa desta tragédia terrível certamente esta relacionada a ferimentos por desaceleração repentina, no cérebro ou na aorta.

Fogo como causa de morte de pilotos

O fogo é uma causa óbvia de morte de pilotos, mas é extremamente incomum. Os combustíveis, material de abastecimento, tanques e os carros como um todo que temos hoje tornaram mortes por incêndio coisa do passado. Às vezes as equipes que ficam nos boxes e espectadores são feridos em incêndios, mas o regulamento e novas medidas de segurança vem reduzindo este tipo de ocorrência ano a ano.

Mortes médicas — pilotos mortos sem relação com traumas

No mesmo dia em que Allan Simonsen morreu durante as 24 Horas de Le Mans de 2013, o alemão Wolf Silvester, bicampeão da VLN Endurance, morreu depois de um ataque cardíaco durante a corrida em Nürburgring. Fiscais de segurança na corrida de sábado disseram que Silvester aparentemente perdeu o controle de seu Opel Astra OPC, e que quando eles se aproximaram do carro parado, encontraram o piloto imóvel. Pilotos passam por doses consideráveis de estresse durante as corridas. Todas as organizações exigem eletrocardiogramas para os pilotos a cada dois anos, e anuais para pilotos com mais de 50 anos. Pode até ser um saco fazer estes exames (eu também acho), mas as razões para estes check-ups são bem claras. Várias vezes por ano pilotos morrem durante as corridas, e não é por acidente. O automobilismo exige muito do coração!
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Mas as corridas podem ser mais seguras? Os pilotos precisam morrer?

Na semana passada, Jim Lowe e eu vimos e ouvimos dezenas de nossos amigos pilotos preocupados com sua própria segurança, e a segurança daqueles a seu redor. Eles questionam as razões das mortes de Jason e Alan nas últimas semanas, e querem saber se todas as organizações estão fazendo o máximo para mantê-los seguros. Nossa mensagem é clara: nunca estivemos tão seguros, mas ainda há muito a ser feito. Nossos carros estão seguros, os boxes estão mais seguros, os capacetes e macacões estão mais seguros.
Mas igualmente importante é o fato de que os autódromos estão cada vez mais seguros ano após ano. Não há maior exemplo destas mudanças que as duas chicanes na reta Mulsanne no Circuito de La Sarthe, o palco das 24 Horas de Le Mans. Na NASCAR,   foram adotadas barreiras do tipo SAFER (Steel and Foam Energy Reduction, algo como “Redução de Energia com Aço e Espuma), que são ligeiramente flexíveis, no lado de fora das curvas. Elas absorvem os impactos e reduzem a força G que atua sobre o piloto em uma situação de desaceleração repentina. Donos, fiscais e promotores de corridas avaliam todas as pistas, todos os dias.
Todo piloto sabe que os autódromos mudam todo ano, e a razão para isso é evitar que acertemos alguma coisa de cabeça ou em algum ângulo que coloque outros carros ou mesmo os fãs em risco de se ferir. Da próxima vez que você souber de uma nova mudança nas regras, ou vir novas zebras em uma curva, tente entender que estas mudanças estão ali para te proteger, e para tornar o automobilismo um esporte mais seguro.
No caso de Allan Simonsen, contudo, a mudança que pode salvar uma vida no futuro pode ser simplesmente não pintar uma parte do chão. Todo piloto sabe que superfícies pintadas ficam lisas como gelo durante a chuva, mas deve haver uma maneira melhor de limitar a pista — talvez comprar tintas melhores. Algumas mudanças são baratas!
Resumindo: em última instância, como em qualquer tipo de acidente com resultados severos, os elementos comuns são a combinação mortal de forças extremas, aplicadas em um curto espaço de tempo e a incapacidade do corpo e/ou equipamento (normalmente ambos) de suportar danos letais.
Em outras palavras, dirigir um carro de corrida a 300 km/h é mais perigoso devido à incapacidade de controlar perfeitamente todos os fatores de risco, que são amplificados em relação a qualquer outra atividade. Podemos até trabalhar para melhorar os circuitos onde corremos, os carros que pilotamos e os equipamentos de segurança que vestimos, mas no fim das contas ainda precisamos de um bocado de sorte para sobreviver a um grande acidente.
Nossos corpos ainda são a peça mais frágil de um carro de corrida, e forças excessivas absorvidas pelo cérebro, pela espinha e pelo torso vão acabar causando a morte se a combinação errada de fatores surgir no impacto. É claro que ainda há razões para continuar a tornar todos os aspectos do nosso esporte mais seguros, mas o elemento humano jamais poderá ser reforçado a ponto de ser invencível.
Corra, dê tudo de si, aproveite a emoção do nosso esporte, mas pense naqueles que tornaram nossas vidas mais seguras e nossas carreiras mais longas com o que aprendemos, e continuamos a aprender, com cada perda trágica.

Dr. James Norman é endocrinologista, cirurgirão de paratireóide e fundador do Norman Parathyroid Center, o maior centro de tratamento da glândula paratireóide do mundo, na Flórida. Ele também é piloto e competiu na IMSA, Grand-Am e ALMS.
O artigo foi publicado originalmente no blog do Norman Parathyroid Center e reproduzido com permissão.

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