O Série 1 é a opção mais barata para pendurar um chaveiro da BMW na parede. Mais exatamente e versão 116i, que tem uma lista de equipamentos mais modesta e motor turbo de quatro cilindros, que custa a partir de R$ 89.950 — um pouco acima da média dos hatches nacionais do mesmo porte. Será que o peso da marca justifica o preço extra cobrado pela BMW?
Mais precisamente, à Hungria. A BMW da Hungria não tinha um carro de imprensa disponível quando precisei de um, mas como eu não podia ir ao Lago Como, na Itália, com meu carro, eles foram bacanas e me deram um 116i (quase) novinho. Eu cuidei bem dele.
O carro tinha por volta de 700 km no hodômetro quando peguei, e eu rodei mais 2.400 km até o Concordo d’Eleganza Villa d’Este, nos quais ele enfrentou tempestades, muitos km de estradas a velocidades quase ilegais e até algumas estradinhas estreitas nos Alpes.
Foi uma viagem e tanto.
Por fora
O BMW Série 1 nunca foi o mais bonito da família. Na verdade, a primeira geração era feia mesmo. Com a segunda geração, a BMW tentou dar a seu compacto uma dianteira mais séria, com o costumeiro alargamento que o faz paracer tão grande quanto o Série 3. Os faróis exagerados formam a personalidade do carro.
Melhorou, sim, mas eu ainda prefiro olhá-lo por trás. Para mim, a traseira traz um visual muito mais minimalista e honesto, e o desenho da tampa e das lanternas quadradas dão um toque de esportividade ao carro.
No geral, ele não te faz passar vergonha no estacionamento.
Por dentro
Se você já se sentou em um BMW moderno, sabe o que esperar. Mas um Série 1 te faz lembrar rapidinho que você não pagou tanto para entrar no clube azul-e-branco da Baviera. Todos os recursos que você espera estão lá, mas o software é diferente, o luxo é mais contido, e as portas altas fazem a cabine parecer menor. Ainda assim, tem bastante espaço para dois adultos e talvez crianças atrás.
Como sempre, a qualidade de construção é excepcional. Todo BMW transmite solidez de concreto na estrada, e o Série 1 não é exceção. Os bancos dão bastante suporte, e as costuras vermelhas no volante e a linha vermelha que atravessa o painel são detalhes acertados. Os instrumentos são informativos e de leitura clara, mesmo depois de uma longa viagem à noite.
Como anda
O 116i não é um dos carros mais rápidos, mas consegue ser bem esportivo graças ao monobloco e ajustes inteligentes no módulo de controle. Com 136 cv saídos do motor 1.6 turbo, é preciso alternar bastante entre as seis marchas para encontrar o torque de que precisa. No entanto, colocá-lo no modo Sport fará a turbina trabalhar mais e o Série 1 se tornar consideravelmente mais ágil.
Para ser sincero, não usei muito o botão Sport, porque minha prioridade era economizar combustível. Com o desempenho máximo ativado, o 116i fica bem mais beberrão. Mas não tem como não amar a direção mais direta.
Freios
Mais uma vez, o Série 1 vem dos mesmos caras que fazem os BMW maiores, o que significa que tanto os freios quanto os pneus te fazem se sentir bastante seguro sob quaisquer condições.
Percorremos muitos quilômetros em estradinhas estreitas nas montanhas italianas, e os discos eram quase novo, o que não ajuda no desempenho, mas não percebemos nenhum sinal de fading ou freios subdimensionados.
Se for pra reclamar de alguma coisa, o pedal do freio era sensível demais mas acho que isto ajuda a evitar pequenos acidentes na cidade — da mesma forma que o subesterço deveria te ajudar a não se matar nas curvas. O controle de tração também fez seu trabalho com muita competência quando eu exigi um pouco mais do carro em alguns trechos dos Alpes.
Suspensão
Aqui é a mesma coisa. Como o carro é muito sólido e a suspensão, calibrada de forma inteligente, poucos ruídos e vibrações chegam até a cabine. Nas rodovias o 116i é quase totalmente silencioso, e você fica bem isolado do que acontece lá fora. Sua conexão com a estrada é o volante, e é só disto que você precisa em uma viagem longa.
Em estas rurais, os pneus te informam sobre a situação a todo momento, mas só para manter você no controle, não para te irritar. O modo como o carro é quieto é quase perturbador, mas ao menos você não se cansa.
Comportamento
Como eu estava bem atrasados no começo e no fim da viagem, não tinha tempo a perder. O 116i entendeu o recado, e dirigi por dez horas a 140 km/h. Quando entramos em uma tempestade de verão muito forte na Eslovênia e a visibilidade ficou precária, reduzi um pouco, mas ainda estava rápido o bastante para me transformar em uma bola de aço retorcido e membros espalhados.
Agora, para poder continuar acelerando mesmo sob tempo ruim, você precisa de um carro em que possa confiar. E você pode confiar no Série 1. Ele se comporta de um jeito que te dá muita confiança na estrada, não importa o que faça com ele.
Imagine que você está em um carro que nunca dirigiu antes. Mas você está com pressa. Você continuaria pisando mesmo sem conhecer totalmente sua estabilidade? É provável que não. Mas o 116i tem uma estabilidade impressionante, e graças à tração traseira, ainda dá para brincar com o controle de tração desativado.
Mas mesmo se você conseguir soltar a traseira (o que não é fácil), ele continua bastante controlável e você volta ao traçado em um segundo. A BMW é mesmo boa nisso.
Câmbio
Meu carro veio com câmbio manual de seis marchas, algo que me agradou bastante. Não me entendam mal, não há nada de errado com os BMW automáticos, mas eles são chatos, e um compacto precisa ter câmbio manual. Especialmente um compacto de tração traseira.
Deve ser porque o carro era novo, mas a caixa apresentava uma certa resistência no começo, mas a alavanca é bem sólida e você só precisa de cinco minutos para se acostumar com ela. A embreagem também é bastante macia em baixa velocidade, e o carro sabe quando você vai sair em uma ladeira e te dá uma ajudinha mesmo sem te contar.
A sexta marcha serve mais como overdrive em rodovias, visto que você não precisa de mais do que cinco na cidade.
Áudio
É bem fácil perceber que a BMW quis deixcar o 116i o mais quieto o possível. Podem haver duas razões para isto: uma é que ele não é um modelo de alto desempenho, e mais um city car para pessoas ricas, logo a maior prioridade é o conforto.
A outra razão é que o motor não tem um ronco muito bacana, então escondê-lo foi uma forma de consertar isso. A válvula de alívio do turbo é o único som empolgante produzido debaixo daquele capô, no mais é tudo bem sem graça.
“E o rádio?”, você pergunta. Olha, é ruim. Graves demais, agudos demais, não há meio termo, não importa quantos ajustes você faça.
Curiosidade: a porta USB fica em um local que torna impossível usar o pen drive em forma de chave de Mini que eles me deram há dois anos. Tive que usar um da Lamborghini.
Mimos
Como eu disse antes, o 116i não tem muitos mimos. O assistente de estacionamento me dizia quando eu estava para acertar algo, o que foi bem útil em um onde a visibilidade é tão ruim como no Série 1. A coluna C é do tamanho do Texas, então boa sorte com os pontos cegos.
Mas o brinquedo que eu quero comentar é o modo Eco Pro. Este sim vai te manter ocupado.
Não sei se vocês conseguem perceber na foto acima, mas aquele “+ 0.0 km” é a exata distância extra que eu tinha na viagem de volta. Ou seja, em minha experiência, quando se passa de 120 km, o modo Eco Pro simplesmente não faz economia alguma. Justo.
Mas o mais decepcionante é é que, quando você reduz para economizar combustível e segue as instruções estúpidas que o carro te dá para trocar as marchas em baixas rotações em subidas, ele te diz que a economia te dá 100 km a mais de autonomia com um tanque. Aí você fica com um baita sorriso no rosto até lembrar que o 116i fez 13 km/l mesmo com o Eco Pro ligado e o pé direito bem leve.
Não é um bom resultado, e te faz pensar sobre como ficaria o consumo no modo Sport.
Bottom Line
Se você quer um BMW novo, este é o mais barato que você pode comprar. Com o ingresso da BMW no programa Inovar-Auto no início do ano, o 116i passou a custar R$ 89.950. Ele não esbanja potência, mas se comporta como um BMW deve se comportar. A estrutura é excelente, o carro como um todo é bem equilibrado. E não podemos esquecer que é o único compacto com tração traseira no mercado!
Ficha Técnica
Motor: quatro cilindros, 1.6, turbo, gasolinaPotência: 136 cv at 4.400 rpm
Torque: 22,4 mkgf a 1.350 rpm
Transmissão: manual de seis marchas
Tração: traseira
0 a 100 km/h: 8,5 segundos
Velocidade máxima (dados da fábrica): 209 km/h
Preço: R$ 89.950 (preço do 116i importado ao Brasil, com câmbio automático de oito marchas)
Participe! Deixe aqui seu comentário. Obrigado! Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário