Frear com o pé esquerdo pode soar com algo estranho, uma vez que ele normalmente está ocupado com a embreagem. Mas se você for ao kartódromo aí perto da sua casa, com qual pé você irá frear? Não dá para usar o pé direito pois há uma coluna de direção no meio do caminho. Isso te incomoda? Aposto que não, e a possibilidade de usar os dois pedais momentaneamente te torna mais rápido.
Admito, contudo, que muitos bons pilotos freiam com o pé direito, mesmo nos atuais carros de dois pedais. Rubens Barrichello é um deles. Ele tentou usar o pé esquerdo, por solicitação dos engenheiros da Ferrari, mas logo voltou a usar o pé direito. Seu argumento é que usando o pé direito o consumo de combustível é menor, assim como o desgaste das pastilhas. Mas vamos ser honestos: se um cara que freia com o pé esquerdo quiser economizar combustível e pastilhas, basta dar um curto intervalo de tempo entre o alívio do acelerador e a frenagem.
Outros pilotos mais conservadores dirão que a frenagem com o pé direito não é mais lenta; mas todos os engenheiros discordam. Em alta velocidade, a transição de mover seu pé do pedal direito para o esquerdo leva algum tempo, mesmo que você tenha o reflexo de um gato que toma café. Imagine estar a 200 km/h ou mais; qual distância você acha que o carro percorre nos décimos de segundo necessários para trocar o pedal? No mínimo dez metros. Talvez mais.
Além disso, a habilidade de pisar no freio com o acelerador pressionado pode ser vantajosa em curvas mais rápidas, assim como dar um toque no freio para apontar a dianteira durante a reaceleração na saída de uma curva longa, onde a dianteira tende a espalhar.
Se você dirige um carro manual, não há motivo para não usar o pé esquerdo em situações como estas. Antes do surgimento das aletas de trocas de marcha, os pilotos de rali usavam os dois pés para frear, dependendo das circunstâncias.
Não acredita? Então veja este vídeo como lendário Walter Röhrl:
O verdadeiro motivo pelo qual muitos pilotos recusam-se a trocar de pé é por que parece pouco natural; como escrever com a mão esquerda se você for destro. Mas diferentemente de escrever com a mão errada, o que parece estranho no começo acaba tornando-se normal. Mas como motorista você acostuma a fazer as coisas de certo modo que acaba tornando-se o seu “estilo”. Qualquer desvio pode torná-lo mais lento até que você se adapte completamente.
Dario Franchitti, que também usa o pé direito, disse certa vez que “é difícil desaprender”, e depois de toda uma carreira acostumado a fazer as coisas de um jeito o problema da memória muscular é, sem dúvida, um argumento válido. Sei que quando mudei a técnica, levei vários dias para acostumar; mas eu ainda estava nas categorias de base.
Quando tentar pela primeira vez, seja qual for o motivo, você acabará freando com força demais; a frenagem será irregular e, se você tiver um passageiro, ele pode até devolver o almoço. No começo você vai se sentir meio atrapalhado, como se tivesse perdido o ritmo.
Aprender esta técnica, como mencionei antes, não é apenas crucial para as pistas, mas imperativa nas ruas, pois os tempos de reação são essenciais para evitar uma batida. Quase todos os acidentes podem ser evitados se tivermos um segundo a mais. Pense nisso. Só um segundo. Não estou sugerindo que leva um segundo para trocar de pedais, mas mesmo que leve três décimos de segundo, já será 30% mais rápido.
Quantas vezes você quase bateu na traseira de alguém por qualquer tipo de distração? Se você for honesto consigo mesmo, certamente houve uma ou duas.
Com a popularização dos carros automáticos e automatizados, não há desculpas para não usar o pé esquerdo. Mudar de um manual para um automático não é tão confuso como pode parecer. Em rodovias não estamos tentando estabelecer recordes como um piloto, então é uma boa situação para praticar a sensibilidade do freio. Comece tentando durante um passeio tranquilo, e quando estiver mais confortável, incorpore a técnica à sua rotina diária.
Ainda não está convencido? Que tal pensar que isso lhe tornará mais rápido na pista e mais seguro nas ruas?
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