O Ford Focus ST é o primeiro carro de tração dianteira que eu compraria com meu próprio dinheiro. Eu não o desejo, nem sonho com ele – é apenas um carro muito bom. E sem dúvidas muito melhor do que eu esperava de um hatch de quatro portas com tração dianteira.
Há algum elemento que torna esse carro incrível? Não, mas quando você começa o conjunto de qualidades dele, percebe que é um carro acima da média por não muito dinheiro.
Eu gosto disso.
E não apenas pela relação custo / benefício. O carro é bom de dirigir. Não há nada melhor que torque. É o sorriso que se forma no seu rosto quando se reduz uma marcha e esmaga o acelerador contra o assoalho enquanto espera o ponteiro chegar à faixa vermelha. No ST, isso se chama overboost. Ter 37,3 kgfm de torque por 12 segundos significa que você só usou metade disso quando chegar aos 100 km/h em 6,5 segundos. Eu também gosto disso
As coisas que não me importam quando eu dirijo um carro pela primeira vez começaram lentamente a me influenciar. A compensação eletrônica do esterçamento por torque é o melhor exemplo disso. O carro monitora o esterçamento por torque e move a cremalheira da direção para o lado oposto para evitar os movimentos do volante. Na verdade é um pouco mais complicado, mas dá para entender o conceito. No começo eu estava me desentendendo com isso. Vi a encosta e sabia que se acelerasse forte acabaria lá, por isso corrigi a direção.
Mas o computador também, por isso acabei exagerando a correção. Isso me deixou louco no começo. Mas no fim estava dirigindo rápido, trocando as marchas e soltando a embreagem com o pé no fundo e apenas uma mão no volante, porque eu sabia que não haveria trancos na direção. Os puristas podem reclamar dos auxílios eletrônicos. Eu reclamei também. Até o dia seguinte, quando dirigi um carro turbo de tração dianteira e fiquei furioso com o esterçamento causado pelo torque.
Minha única preocupação com o ST é que o carro que dirigi ainda era um modelo pré-produção. Encontrei pedaços de alumínio no duto de admissão e o para-choque será redesenhado para eliminar um vão imenso entre ele e o capô. Mas se o carro que eu dirigi for o carro que chegará às ruas em pouco tempo, será algo muito bom.
Por fora
Ele parece um Focus, para mim. Eles oferecem cores bacanas como Grito Tangerina, e a abertura/grade dianteira enorme parece que está prestes a devorar a estrada mas ele ainda é um hatch de quatro portas. As rodas de 18 polegadas são lindas, e pela primeira vez o carro será vendido no mundo todo com os mesmos pneus, o que é legal… mas é um Focus hatch. Isso é ruim? Não. Mas também não é nada especial.
Por dentro
A única coisa que você precisa saber daqui é que o ST tem os melhores bancos que eu já sentei. Feitos pela Recaro, claro. Adorei o suporte deslizante para as coxas, mas o encaixe dos ombros é inacreditável. Suas costas têm apoio, mas os ombros ficam livres para manejar o carro. E há outros dois Recaros na traseira! Quando tiver a oportunidade, entre e sente-se neles. Eu já vi bancos mais bonitos, mas eles nunca eram tão confortáveis. O volante tem boa pegada. A maioria dos carros que testei ultimamente se preocupam mais com o painel que com o volante. O couro era excelente e a empunhadura está próxima da perfeição.
Minha única reclamação é o modo como o painel acaba na abertura da porta. Batia meu joelho sempre que entrava ou saía do carro, mas eu estava cansado do voo até a Europa. Acho que outras pessoas não terão problemas.
O carro é bem rápido para sua categoria, mas não tão rápido para um esportivo puro. Parte desse problema é a percepção da velocidade. O tempo de zero a cem é 6,4 segundos, mas o motor empurra o carro de modo tão suave que você não percebe o quão rápido o velocímetro está subindo. Não parece um motor turbo.
Todo mundo sempre fala do turbo lag – aquele atraso na entrega de potência depois que você pisa no acelerador. Eu não percebi lag no ST. Claro, depois de 12 segundos você perde o overboost, mas 12 segundos de aceleração te levam bem longe com esse carro. Ele produz 37,3 kgfm de torque e sobe muito bem até à faixa vermelha.
Aceleração
Minha (falta de) percepção sobre a resposta do turbo deve-se ao projeto do cabeçote. O coletor de escape, na prática, fica dentro do cabeçote, suspenso em uma jaqueta de água. Dali um único tubo sai do cabeçote e se estende por 15 cm direto à turbina, projetada pela Borg Warner para essa aplicação. A única reparação sobre o motor tem a ver com os coxins. É ótimo ouvir o motor vibrando com uma passada de marcha mais agressiva, mas isso não deve ser muito bom para o carro.
O ST tem freios bastante normais, apenas um pouco superdimensionados. Eles são fortes e confiáveis como devem ser, e o carro freia muito bem, mas não há quatro pistões aqui, monobloco ali. São apenas bons freios. E sinceramente acho que o que mais me agradou nas frenagens era resultado do excelente acerto de suspensão.
Acho que é confortável. Não sei ao certo, pois passei todo o meu tempo com o carro reduzindo marchas e acelerando pelas curvas, com o corpo colado nos bancos Recaro. Achei a rodagem quase perfeita, mas sempre instalei amortecedores e molas mais rígidos nos meus carros, então não tenho como saber se é mais confortável que um Corolla.
O manejo é inacreditável. Dirigi o carro com uma tocada cada vez mais forte e sequer cheguei perto do limite. Acelerei em algumas rotatórias e pulei um meio-fio ou dois, colocando uma roda no ar enquanto pisava fundo, mas isso é meio que uma trapaça.
Dirigi o carro quase exclusivamente no modo Sport. Também o desativei completamente em alguns momentos, mas achei o comportamento melhor com ele ligado. Ele ajuda a fazer curvas com a traseira estabilizada. Com o sistema desligado o carro ficou um pouco lento nas curvas, e a traseira um pouco leve. É triste constatar, mas os computadores estão ficando melhores que os motoristas. Não posso frear apenas uma roda para ajudar o carro a contornar a curva, mas o computador pode – e faz. A Ford chama isso de Controle Vetorial de Torque (TVC, na sigla em inglês). Ainda que não seja legal gostar de auxílios eletrônicos hoje em dia, eu gostei de verdade dele. Pareceu muito natural.
Os amortecedores do ST eram perfeitos para mim. Detesto sentir a traseira levantando quando freio forte ou alivio o acelerador, e isso não aconteceu com o ST. Eu entrava freando forte nas curvas e a traseira não parecia transferir o peso para a frente, aliviando a suspensão.
E o carro nunca te empurra de volta. Quando você entra em uma curva, ele fica lá até que você transfira o peso novamente. A maioria dos carros que dirigi têm um efeito rebotivo quando você vira o volante e as molas se sobrepõem aos amortecedores e forçam o peso de volta. No Focus ST você aponta o carro e ele segura, e isso inspira confiança.
Esta é uma das mais sólidas transmissões que já vi num carro com tração dianteira. Mas os engates são um pouco longos para algo tão esportivo. A embreagem é leve e suave. Nada muito especial aqui. Sim, tem seis velocidades, mas qual máquina dessa categoria não oferece isso hoje em dia?
Nesta versão europeia não havia tela grande sensível ao toque. O sistema de som é da Sony. Ele é bom, mas o motor soa melhor. O carro tem um sistema para direcionar o som do motor para a cabine. Normamente não ligo para essas coisas e ri quando me falaram disso, mas ele funcionou bem no ST. O som é sutil, mas não alto. Apenas o bastante para soar bem, suficiente para fazer você pisar mais forte do que deveria.
O Focus ST tem brinquedos incríveis. Ele corrige e mantém sua posição na faixa de rolamento. E se a cancela do pedágio não abrir automaticamente, há sensores para acionar automaticamente os freios quando você atinge uma distância crítica do obstáculo. Mas acima de tudo, dirigir o ST é divertido. O carro em si é a diversão.
Eu gostei de verdade do ST. Prefiro um carro de tração traseira, sou o tipo de cara que curte esportivos, mas em algum momento isso deve mudar, e eu precisarei de um carro de quatro portas para a família ou algo parecido. Quando isso acontecer, esta seria minha primeira opção. Por quê? São 37,3 kgfm de torque, quatro portas, bancos Recaro, e uma suspensão muito bem ajustada. A correção de esterçamento por torque, o Controle Vetorial de Torque e as rodas de 18 polegadas com pneus esportivos o colocam um nível acima do que o seu preço sugere (nos EUA, deve ser de 25 mil dólares).
Freios
Como roda
Como se comporta
Transmissão
Áudio
Mimos
Valor
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br/
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