5 de jun. de 2012

Indy x F1 - qual é a mais competitiva?


Franchitti e Dixon lideram pelotão durante as 500 Milhas de Indianápolis(F. Peirce Williams/LAT)
 
Os fãs mais fervorosos da Indy - e também alguns comentaristas da televisão - adoram comparar a competitividade da categoria americana com a da F1, usando todos os argumentos que têm à disposição para fazer crer que a primeira é muito mais emocionante e imprevisível que a segunda. "Qualquer piloto, mesmo em uma equipe menor, tem chances de vencer", bradam alguns. "Os chassis são iguais, então todo mundo fica muito mais próximo", tonitruam outros. "O formato da corrida permite muito mais imprevistos", deblatera um terceiro grupo.


A temporada de 2012, por si só, tem sido uma corrente forte contra todas essas perspectivas. Enquanto a F1 tem nos brindado com corridas muito mais movimentadas e repletas de alternativas, as etapas da Indy foram quase todas enfadonhas. Não fosse o grotesco problema com os remendos do piso de concreto, o GP de Detroit seria um dos mais entediantes da história, uma verdadeira procissão angustiante que teve como símbolo-mor o trenzinho formado por Ernesto Viso.
Nem as 500 Milhas de Indianápolis tiveram aquela pitada de imprevisto que é tão inerente à prova mais tradicional do calendário. Takuma Sato à parte, as Ganassi dominaram a corrida e terminaram, conforme o esperado desde que Dario Franchitti e Scott Dixon assumiram a dianteira, em dobradinha. Resultado: ao mesmo tempo em que a F1 teve seis pilotos e cinco equipes diferentes na primeira colocação em seis GPs, a Indy, após o mesmo número de etapas, continua dançando aos acordes de Penske e Ganassi, times que detêm um oligopólio do certame há cinco anos.
Alguém há de dizer que 2012 é uma exceção - e realmente é, mas basta olhar para as estatísticas de campeonatos anteriores e constatar que não, a Indy não é mais imprevisível e competitiva que sua concorrente europeia.
De 2006 a 2011, seis últimas temporadas, portanto, a F1 teve cinco campeões diferentes, de cinco times diferentes. Além disso, quatro escuderias distintas conquistaram os construtores (e seriam cinco, não fosse a punição aplicada à McLaren em 2007). Nesse mesmo período, a Indy formou somente três pilotos e três equipes campeãs. Veja a lista:

F1 - lista de campeões de 2006 a 2011

2006: Fernando Alonso (Renault) / Renault
2007: Kimi Raikkonen (Ferrari) / Ferrari
2008: Lewis Hamilton (McLaren) / McLaren
2009: Jenson Button (Brawn) / Brawn
2010: Sebastian Vettel (Red Bull) / Red Bull
2011: Sebastian Vettel (Red Bull) / Red Bull

Indy - lista de campeões de 2006 a 2011

2006: Sam Hornish Jr. (Penske)
2007: Dario Franchitti (Andretti Green)
2008: Scott Dixon (Ganassi)
2009: Dario Franchitti (Ganassi)
2010: Dario Franchitti (Ganassi)
2011: Dario Franchitti (Ganassi)
Como é possível observar, apenas Vettel conseguiu repetir um campeonato nos últimos seis anos da F1, enquanto, na Indy, Franchitti foi o nome dominante. O escocês venceu quatro dos cinco certames mais recentes e só não formou um quinteto de títulos consecutivos porque decidiu se aventurar na Nascar em 2008.
Entre os times, Ferrari e Red Bull laurearam-se campeãs consecutivamente, mas é preciso lembrar mais uma vez que a equipe italiana só faturou 2007 porque a McLaren, maior pontuadora daquele ano, foi excluída do Mundial de Construtores pelo caso Spygate.
Já na terra de Lincoln, a Ganassi comanda as ações há quatro temporadas, ao passo que a Andretti teve seu último suspiro de time grande em 2007 e a Penske, mesmo sendo a única desafiante da atual tetracampeã desde 2008, fez um campeão pela última vez em 2006 (é importante frisar que a Indy não possui um campeonato entre equipes, portanto aqui está sendo levada em conta a escuderia na qual o competidor corria quando levou o título de determinado ano).
A informação sequente, do número de vitórias por equipe, também é esclarecedora:

F1 - equipes vencedoras de 2006 a 2012 e o número de triunfos obtidos

1º. Ferrari - 34
2º. Red Bull - 29
3º. McLaren - 28
4º. Renault - 10
5º. Brawn - 8
6º. Mercedes - 1
7º. Williams - 1
8º. BMW - 1
9º. Toro Rosso - 1
10º. Honda - 1
Total de GPs: 114

Indy - equipes vencedoras de 2006 a 2012 e o número de triunfos obtidos

1º. Ganassi - 42
2º. Penske - 39
3º. Andretti - 18
4º. Newman-Haas - 2
5º. BHA - 1
6º. Sarah Fisher - 1
7º. Dale Coyne - 1
8º. Rahal Letterman - 1
Total de etapas: 105
Olha que ironia: na F1, categoria comandada pelo dinheiro, onde os grandes oprimem os pequenos desapiedadamente e não há vez para os fracos, dez equipes diferentes venceram de 2006 até hoje. Já na democrática e igualitária Indy, que dá voz e vez a todos, o número cai para oito, sendo que, dessa patota, três times registraram sozinhos 99 triunfos em 105 corridas realizadas, o equivalente a 94,29%.
Alguma voz há de se lembrar da vitória de Will Power pela KV no GP de Long Beach de 2008, prova que marcou a "unificação" entre Indy e Champ Car. Wssa corrida ocorreu com carros e competidores da categoria irmã e, o pior de tudo, na mesma data em que os Indy originais competiam em Motegi. Portanto, sejamos justos: não dá para contabilizar uma patuscada dessas.
Agora, quando passamos a contar o total de pilotos vencedores, a Indy leva pequena vantagem:

F1 - pilotos vencedores de 2006 a 2012 e o número de triunfos obtidos

1º. Sebastian Vettel - 22
2º. Fernando Alonso - 20
3º. Lewis Hamilton - 17
4º. Jenson Button - 13
5º. Felipe Massa - 11
6º. Kimi Raikkonen - 9
7º. Mark Webber - 8
8º. Michael Schumacher - 7
9º. Rubens Barrichello - 2
10º. Giancarlo Fisichella - 1
11º. Robert Kubica - 1
12º. Kovalainen - 1
13º. Nico Rosberg - 1
14º. Pastor Maldonado - 1

Indy - pilotos vencedores de 2006 a 2012 e o número de triunfos obtidos

1º. Scott Dixon - 23
2º. Dario Franchitti - 17
3º. Will Power - 15
4º. Hélio Castroneves - 13
5º. Tony Kanaan - 8
6º. Dan Wheldon - 7
7º. Ryan Briscoe - 6
8º. Sam Hornish Jr. - 5
9º. Ryan Hunter-Reay - 3
10º. Marco Andretti - 2
11º. Justin Wilson - 2
12º. Mike Conway - 1
13º. Ed Carpenter - 1
14º. Graham Rahal - 1
15º. Danica Patrick – 1
Conforme descrito acima, a Indy teve um competidor a mais subindo ao degrau mais alto do pódio do que a concorrente, diferença nada acachapante. Porém, é claro que a estatística da F1 foi inflada pelo caráter "randômico" de 2012, por isso vamos dar uma olhada na quantidade de vencedores por ano para termos uma melhor ideia do histórico:

F1 - número de vencedores por temporada

EQUIPES
2006: 3 - Ferrari, Renault e Honda
2007: 2 - Ferrari e McLaren
2008: 5 - McLaren, Ferrari, BMW, Toro Rosso e Renault
2009: 4 - Brawn, Red Bull, McLaren e Ferrari
2010: 3 - Ferrari, McLaren e Red Bull
2011: 3 - Red Bull, McLaren e Ferrari
2012: 5 - McLaren, Ferrari, Mercedes, Red Bull e Williams
PILOTOS
2006: 5 - Fernando Alonso, Giancarlo Fisichella, Michael Schumacher, Jenson Button e Felipe Massa
2007: 4 - Kimi Raikkonen, Fernando Alonso, Felipe Massa e Lewis Hamilton
2008: 7 - Lewis Hamilton, Kimi Raikkonen, Felipe Massa, Robert Kubica, Heikki Kovalainen, Sebastian Vettel e Fernando Alonso
2009: 6 - Jenson Button, Sebastian Vettel, Mark Webber, Lewis Hamilton, Rubens Barrichello e Kimi Raikkonen
2010: 5 - Fernando Alonso, Jenson Button, Sebastian Vettel, Mark Webber e Lewis Hamilton
2011: 5 - Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Jenson Button, Fernando Alonso e Mark Webber
2012: 6 - Jenson Button, Fernando Alonso, Nico Rosberg, Sebastian Vettel, Pastor Maldonado e Mark Webber

Indy - número de vencedores por temporada

EQUIPES
2006: 3 - Ganassi, Penske e Andretti
2007: 3 - Ganassi, Penske e Andretti
2008: 5 - Ganassi, Newman-Haas, Andretti, Penske e Rahal Letterman,
2009: 3 - Penske, Ganassi e Dale Coyne
2010: 3 - Penske, Andretti e Ganassi
2011: 5 - Ganassi, Penske, Andretti, BHA e Sarah Fisher
2012: 2 - Penske e Ganassi
PILOTOS
2006: 6 - Dan Wheldon, Hélio Castroneves, Sam Hornish Jr., Scott Dixon, Tony Kanaan e Marco Andretti
2007: 6 - Dan Wheldon, Hélio Castroneves, Tony Kanaan, Dario Franchitti, Sam Hornish Jr. e Scott Dixon
2008: 9 - Scott Dixon, Graham Rahal, Danica Patrick, Dan Wheldon, Ryan Briscoe, Tony Kanaan, Ryan Hunter-Reay, Hélio Castroneves e Justin Wilson
2009: 6 - Ryan Briscoe, Dario Franchitti, Scott Dixon, Hélio Castroneves, Justin Wilson e Will Power
2010: 7 - Will Power, Hélio Castroneves, Ryan Hunter-Reay, Scott Dixon, Dario Franchitti, Ryan Briscoe e Tony Kanaan
2011: 8 - Dario Franchitti, Will Power, Mike Conway, Dan Wheldon, Marco Andretti, Scott Dixon, Ryan Hunter-Reay e Ed Carpenter
2012: 4 - Hélio Castroneves, Will Power, Dario Franchitti e Scott Dixon
Realizando o cálculo médio de times vencedores por ano, chegamos à interessante marca de 3,57 para a F1 contra 3,42 da Indy. No caso dos pilotos, a média fica em 5,42 na primeira e sobe para 6,57 na segunda. Como pode uma categoria ganhar em um item e perder no outro? Isso pode ser explicado pelo de que, se a F1 teve uma maior variação de escuderias brigando pela ponta nesse período, com picos registrados em 2008 e 2012, a Indy automaticamente coloca um maior número de competidores na disputa ao liberar mais de dois carros por equipe. É o caso da Andretti no ano passado, que registrou vitórias com três nomes diferentes: Mike Conway, Ryan Hunter-Reay e Marco Andretti.
Por fim, um panorama de quem faturou mais troféus de primeiro lugar a cada ano:

F1 - maiores vencedores por temporada

EQUIPES
2006: Ferrari - 9
2007: Ferrari - 9
2008: Ferrari - 8
2009: Brawn - 8
2010: Red Bull - 9
2011: Red Bull - 12
2012: Red Bull - 2
PILOTOS
2006: Michael Schumacher e Fernando Alonso - 7
2007: Kimi Raikkonen - 6
2008: Felipe Massa - 6
2009: Jenson Button - 6
2010: Sebastian Vettel - 5
2011: Sebastian Vettel - 11
2012: Jenson Button, Fernando Alonso, Nico Rosberg, Sebastian Vettel, Pastor Maldonado e Mark Webber - 1

Indy - maiores vencedores por temporada

EQUIPES
2006: Penske - 8
2007: Andretti - 9
2008: Ganassi - 8
2009: Ganassi - 10
2010: Penske - 9
2011: Ganassi e Penske - 6
2012: Penske - 4
PILOTOS
2006: Hélio Castroneves e Sam Hornish Jr. - 4
2007: Tony Kanaan - 5
2008: Scott Dixon - 6
2009: Scott Dixon e Dario Franchitti - 5
2010: Will Power - 5
2011: Will Power - 6
2012: Will Power - 3
Há uma clara discrepância na estatística de 2012 da F1 com relação aos outros anos, que de certa forma compensam os dados quase hegemônicos registrados por Vettel e Red Bull na temporada antecedente. Ao mesmo tempo, o início avassalador de Penske e Will Power neste ano colocam os números da equipe já próximos ao total de outras temporadas consolidadas, mesmo a campanha estando somente na sexta rodada.
Nas médias, ligeira vantagem para o campeonato americano: 7,71 x 8,14 na contagem do número de vitórias obtidas pela melhor equipe do ano e 4,85 x 6,14 quando se trata dos pilotos. Entretanto, há de se levar em conta que o calendário da F1 tem sido quase sempre maior, com média (sem contar 2012) de 18 etapas por ano, enquanto o da Indy alcança 16,5. Por esse prisma, os dados acima se mostram praticamente equânimes.
Conclusões a se tomar após essa miscelânea de números:
- O campeonato da Indy não é mais competitivo que o da F1.
- Na F1, devido às constantes mudanças no regulamento técnico, houve maior oscilação entre as equipes que efetivamente disputam vitórias e títulos a cada temporada. Já na Indy, há um evidente grupo de duas escuderias que dominam a categoria há anos, com uma terceira correndo por fora e as demais lutando por migalhas.
- Contudo, a flexibilidade da Indy em abrir espaço para que os times inscrevam mais de dois carros por corrida permite que um maior número de pilotos tenha chance de disputar as primeiras posições.
- As possibilidades de uma esquadra de menor porte vencer na Indy, pelas estatísticas dos últimos seis anos, não são maiores que as da F1. Nesse período, somente seis zebras "reais" ocorreram na categoria americana.
O objetivo deste levantamento não é afirmar que "x" é melhor que "y", mas sim quebrar alguns paradigmas que se formaram nos anos recentes. Independente de qual categoria seja ou esteja mais competitiva e emocionante, o que o bom apreciador do automobilismo mais deseja é sempre assistir a boas corridas e se emocionar com o ronco dos motores e a velocidade que fazem desse um esporte tão especial.

Fonte: blog da redacao
Disponível no(a):http://tazio.uol.com.br/blog/blog-redacao
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